Esse é o momento de vocês.
É sobre isso que precisamos conversar; é sobre isso que precisam refletir: ‘onde está o meu tesouro’, o que é importante nessa vida para mim’. Não estou falando em refletir sobre o que é importante para os outros, mas para você. ‘O que acha imprescindível, o que está disposto a abrir mão; o que não está disposto a abrir mão’?
É preciso refletir sobre essas coisas profundamente e usar o ensinamento, tudo o que aprenderam, para tirar o valor daquilo que estão dispostos a abrir mão. Se não fizerem isso, continuarão como hoje: desejam realizar o trabalho, mas em um dia conseguem e em outros não, por mais que se esforcem para fazer.
Sem essa reflexão não conseguem reforma alguma, mas apenas colocarão vinho novo em odre velho. Com isso ele azedará e tomarão vinagre e não vinho.
Participante: usar o ensinamento como uma espada?
Sim, usar o ensinamento como uma espada, mas para atacar você mesmo. Lembre-se, você é o seu próprio inimigo.
Para continuar nossa conversa, pergunto: o que não abrem mão?
Participante: não abro mão de tanta coisa …
Participante: querer buscar a saúde, por exemplo.
Certo. Mas, sem generalizar posso dizer que não abrem mão do que é bom, para si e para os outros. Vocês não abrem mão, por exemplo de ajudar uma pessoa necessitada.
Participante: ajudar uma pessoa necessitada conta para a elevação espiritual realmente?
Não. Se contasse, ao invés de pregar o evangelho Cristo teria aberto um restaurante e multiplicado a comida para dar de graça a todos.
Participante: isso é um estereótipo. Muitos confundem a elevação espiritual com ser um ser humano perfeito. Imaginam que é preciso dar o bom aos outros, ser calmo, benevolente, etc.
Isso, essas coisas para muitos são o sinal de que a pessoa é espiritualmente elevada. Tendo essa crença, então, esse padrão transforma-se numa riqueza para essas pessoas.
Esse padrão, essa norma é algo importante para determinadas pessoas e por isso não abrem mão de segui-las. Por isso diria que o tesouro dessas pessoas é ser politicamente correto.
Quem é assim, aquele que mantém esse tesouro, o que precisa fazer: tem que começar a gritar e brigar com quem não é?
Participante: para mim, acho que tudo é uma questão de prioridade. Quando você começa a colocar sua paz interna acima dos valores do mundo começa a tirar os valores das coisas que acontecem na sua vida e a priorizar a paz.
Isso seria o ideal. Perfeito. Só que mesmo priorizando sua paz, ainda tem coisas que acabam tirando-a, não?
Participante: mas, isso é inevitável, não?
Não é, não deveria ser.
O que tira a paz mostra o que? Que aquelas coisas são mais importantes do que sua paz.
Participante: deixa eu entender. Você diz que nós vamos ter vicissitudes para o resto da vida.
Sim.
A sua vicissitude, por exemplo, em determinado momento foi perder a paz. Como deveria reagir nesse momento para libertar-se da humanidade?
Participante: lutar para ter a paz novamente.
Não. Deveria estar em paz com a perda da paz.
Participante: é um dos passos: não brigar consigo mesmo por ter perdido a paz.
Isso.
Participante: mas, não é por isso que você não vai deixar de procurar sua paz.
Se você está em paz com a perda da paz, que paz vai procurar? Você já está em paz.
O que estou querendo mostrar é que quando você estabelece racionalmente o estar em paz, o transforma como algo obrigatório de viver. Ou seja, o que seria o resultado da libertação transforma-se em um tesouro, em um elo que prende à humanidade. Isso não pode acontecer.
Já cansaram de me falar que o sofrimento tem que vir. Sim, se não vier você não tem como reagir, não tem como trabalhar. Mas isso não quer dizer que precisa sofrer por estar sofrendo.
Desse raciocínio que fizemos o que precisamos compreender é que na hora que se prioriza a paz é preciso estar em paz mesmo quando se perde a paz.
É preciso estar em paz com os outros, com a vida, mas com você também. Aquele que transforma a paz em uma obrigação, em um tesouro, não fica em paz consigo quando a perde.
Portanto, aquele que é maduro espiritualmente não luta para ter paz: fica em paz quando não tem paz.