Vocês estão entrando na adolescência …
Participante: na pré-adolescência.
Isso. Estão naquele momento em que descobrem que podem fazer fora de casa sem a sua mãe ver o que quiserem. Livres dos olhos da mãe imaginam que são capazes de fazer o que quiserem.
São adolescentes porque a criança pequena não age assim. Mesmo fora do olhar da mãe, não fazem o que ela não quer. Mas, quando começam a se assumir como homem ou mulher, a pré-adolescência, começam a fazer o que quer.
Se imaginam que podem fazer o que querem, podem acabar com todo o sofrimento, com toda essa insegurança. Só que para isso precisam amadurecer mais. A diferença entre o adolescente e o homem maduro é que ele sabe que pode fazer o que quer, mas mede o que faz para não causar prejuízo a si mesmo.
Uma das características do ser maduro é que ele tem a consciência de que quando ganha um direito gera para si o que? Um dever, uma responsabilidade. O ser maduro sabe que recebe sempre o retorno de acordo com o que ele faz.
Participante: está ciente da lei, não é?
Não, não estou falando da lei.
Estou falando de amadurecer e dizer a si mesmo: ‘eu posso assumir o controle da minha vida, posso fazer o que quiser, mas tenho que dar a minha mulher o mesmo direito’. Quando assume isso sabe que se quiser se impor e não deixa-la sair corre o risco de ela ir embora.
É disso que estou falando. O ser maduro assume uma responsabilidade que traz consigo o fim da ilusão de que ele será o centro do mundo. O fim da ilusão de que os outros precisam lhe respeitar, mas você não precisa respeitá-los.
O ser maduro assume a si mesmo, toma o controle dele, mas não toma controle dos outros e nem vive a ilusão e a fantasia que o mundo será um biquíni amarelinho com bolinhas cor de rosa. Ele sabe que o assumir a sua liberdade tem um preço.
O preço é muitas vezes fazer o que não gosta, aquilo que lhe incumbiram de fazer, sem reclamar. Abrir mão do que gosta para poder ter paz. O ser maduro sabe que precisa viver essas coisas ao invés de ficar achando que vai sempre fazer o que gosta. É por isso que a conversa está pesando.
Tem gente que diz assim: ‘era mais fácil quando eu achava que ia morrer e ia tocar harpinha nas nuvens ou vivendo numa cidade espiritual’. Sim, viver a ilusão de que essa vida pode ser feita apenas do que gosta é mais fácil, mas não leva à felicidade.
Era muito mais fácil quando vocês achavam que ao concederem a si mesmo a maturidade, o mundo lhes respeitaria e diria: ‘oh nobre senhor, me diga o que posso fazer para lhe agradar’. Isso não vai acontecer: a vida sempre estará cobrando de você a sua maturidade.
Então, ser maduro, e por isso feliz, é uma condição que tem um custo. Aliás, tudo nessa vida tem custo. O custo de ser uma pessoa madura é viver a realidade, ao invés de ficar preso dentro de uma vida fantasiosa. Ficar preso a uma vida onde ainda imagina que aparecerá um salvador da pátria que vai cuidar da saúde, da educação, do buraco da rua e ainda por cima você não precisará pagar imposto para isso. É isso que assusta: entender que ao sair da infância onde existiam as princesas e os castelos, cairá no castelo da bruxa, ou seja, numa vida que não é feita só do que você gosta.