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Participante: ouvi uma palestra onde você contou o caso de uma pessoa que dizia: ‘mas como alguém pode viver com uma grama desse tamanho’. Você respondeu: você, pois está vivendo com ela.

Exatamente.

Estou falando da dependência do ter, não é só do comprar. Falo sobre comprar porque fica mais fácil ser entendido, mas o que quero dizer é que se você quer ser feliz não pode viver na dependência do ter. Deixar o que não tem dominar você.

Participante: então, por exemplo, em um momento de crise muito alta, não vai ter nem o que comer. Aquele que viver isso e se livrar dessa dependência vai viver sem precisar comer?

Você não entendeu. Não estou falando em ter necessidade ou não. Estou dizendo que uma pessoa não pode ser escravo de qualquer elemento material.

Nesse caso, o que é não ser escravo? É dizer: ‘eu preciso comer, mas hoje não tem comida, o que é que eu posso fazer? Roubar? Não, eu não faço essas coisas. Então, vou esperar a comida, talvez o amanhã me traga’.

Quem não é escravo da comida abre mão de comer filé mignon, porque está caro, e come com satisfação uma galinha. Quem é, come a mesma galinha, mas reclama por de não ter filé mignon. Aquela galinha passa a fazer mal. É isso o que eu estou querendo mostrar. Você é escravo do filé mignon, porque deixa esse alimento dizer o que você tem que sentir.

Estou usando um exemplo que talvez não seja o melhor, pois vocês poderiam dizer que nunca comeram filé mignon. Só que tem gente que é escravo de feijão com arroz. Come macarrão! Não dá para comer macarrão? Come só legume!

O que estou falando é em se contentar com o que tem, com o que está disponível. Assumir o controle da sua vida para não deixar o que não tem lhe fazer sofrer: essa é a única forma de passar sem sofrimento pela situação econômica que o mundo vive.

Participante: as vezes, a gente comprar porque está sentindo falta de alguma coisa, está triste, está mal. Quantas vezes eu já não disse, ah vou comprar porque hoje eu estou com raiva. E nem sabe porque direito…

Isso é só desculpa da mente.

Você pode comprar o que comprar e pelo motivo que achar que está comprando, não tem problema. O que não pode é reclamar do que não compra.

Se tem dinheiro, gaste. Compre o que quiser. Nada é proibido. Você pode ter iate, avião, o que quiser. Agora, se tem um avião e reclama que não tem a gasolina, o que adiantou ter o avião? Não satisfez em nada o avião.

A saída para essa crise também não é esperar que vá entrar um governo que faça uma distribuição de renda. Deixa eu fazer uma pergunta: a ideia do repartir do pão em tamanhos iguais vem desde o Egito Antigo, não é? É muito velha. Até hoje nunca se conseguiu isso. Nem na União Soviética era assim: havia ainda classe que tinha mais que os outros. Vocês ainda acham que vai aparecer alguém que vai conseguir?

Então, sonhar com isso, é sofrer por isso. É dar acesso ao sofrimento. Sonhar que isso é possível, que um dia o mundo vai repartir em partes iguais a riqueza, é utopia.

Só que isso poderia acontecer hoje, se fosse para acontecer. Se estivesse nos planos encarnatórios do planeta poderia haver uma distribuição igualitária de riquezas. Bastava o que? Cada um abrir mão do seu. Quem está disposto a isso?

Quem está disposto a dizer: ‘eu ganho cem, você ganha cinquenta; vou lhe dar vinte e cinco e cada um fica com setenta e cinco’. Quem está disposto a isso? Ninguém. Mas acusam o governo de não fazer. Ainda sonham que por uma lei, por um decreto, o governo vai dar cem para todo mundo, sem tirar nada de você. Impossível.

Eu disse uma vez e vocês não entenderam uma coisa: para alguém ganhar algo, alguém tem que perder. Quando falei isso me disseram: ‘Joaquim, eu nunca pensei nisso. Achava que um podia ganhar e ninguém perder’. Não, não pode. Poderia se você abrisse mão do seu, mas como não vai abrir, terá que perder para outro ganhar.

Isso é maturidade. É saber que a fome existe e vai existir sempre, e sempre existiu. Que alguns vão ter mais e que outros vão ter menos. Se você é dos que tem menos – e todos têm menos porque por mais que tenham sempre sentem falta de alguma coisa – e acha que deveria ter mais.

Para ser feliz nos tempos de hoje é preciso trabalhar o que você tem para conviver com isso sem sofrer, ao invés de, como criança, ficar sonhando que todos vão ter sem você perder nada.

Participante: a gente não pode sonhar só por diversão?

Pode. Como eu disse, o que você precisa saber é a consequência do que você faz. Você quer sonhar por diversão, saiba que por diversão você vai sofrer. Tem uma mensagem antiga que diz assim: vocês dizem que sonhar não custa nada. Custa! Custa a felicidade com o que você tem. Cada vez que você sonha em ter alguma coisa, você se torna infeliz com o que você tem.

Participante: esquece de viver o dia de hoje.

Mais do que viver o dia de hoje, viver o que está no dia de hoje. É aquilo que falo: viver o hoje, no hoje, pelo hoje. É estar completamente no agora.

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