Participante: diz que devemos nos livrar do sofrimento. Mas, como fica se isso causar sofrimento à outras pessoas?

Acho impossível que o seu libertar do sofrimento cause sofrimento a outras pessoas.

Isso é um aspecto importante dessa vida que precisam compreender: ninguém é responsável pelo que o outro sente. Porquê? Porque se estou falando que todos podem se libertar do sofrimento que criam para si, o outro também pode fazer isso.

Por causa dessa possibilidade que tem, se sofre não é porque você fez alguma coisa, mas porque pactuou com aquele sofrimento. Foi ele que escolheu sofrer, não você que o fez.

Só que quando falo que cada um é capaz de se libertar do seu sofrimento, não estou falando de libertar da causa do seu sofrimento. Vou dar um exemplo para que possa entender melhor.

Se você sofre com o casamento que tem, não estou falando em se separar. Estou falando em lutar contra o sofrimento durante o casamento.

Se o casamento lhe faz sofrer, se puder se separar, separe. Agora, se sofre e não consegue romper a relação por qualquer motivo, precisa lutar com esse sofrimento. Se não fizer isso, continuará casado e sofrendo.

Para poder estancar esse sofrimento, a primeira providência é dizer a si mesmo: ‘nesse momento tenho duas opções: ou continuo nesse casamento sofrendo ou vou continuar esse mesmo casamento não sofrendo. Sou eu que decido o que viverei’. Depois, escolha o que quer para você.

Muitos vão dizer que o que estou falando é hipocrisia, mas pergunto: adianta ficar reclamando do casamento que tem? Adiantaria se terminasse a relação, mas se não consegue pôr fim, adianta ficar reclamando?

Adianta reclamar da vida que tem se não consegue ter outra? Adianta reclamar do seu chefe se é àquele que precisa se subordinar para ter o emprego?  

É uma opção sua a forma como viverá o aqui e agora que compõe sua vida. Não estou falando em atos, mas do mundo interno. Você só deixará de sofrer quando lutar consigo mesmo, com o que a sua mente cria, para não sofrer com o aqui e agora que está disponível neste momento.

Sei que pode até acontecer que por ação sua ou de alguém o acontecimento mude e com isso o seu sofrimento estanque. Mas, e se ele não mudar, vai continuar sofrendo até quando?

Por isso insisto: tente mudar, mas se não conseguir, aprenda a ser feliz com o que tem.

Agora, se mudar foi você quem fez a mudança? Não. Acreditando que tudo acontece do jeito que tem que acontecer, você sabe que não houve mudança alguma. Se mudou, isso é o que estava planejado acontecer e por isso já estava escrito que aconteceria.

Veja o mundo desse jeito que você também não sofrerá com as aparentes mudanças ou falta delas.

Participante: o que fazer quando o sofrimento de um indivíduo causa sofrimento a outras pessoas sem que aquele quisesse isso?

Impossível. É o que acabei de dizer: você não pode causar mal a ninguém se quem recebe não aceitar o momento como mal.

Vou dar um exemplo. Se houver dez pessoas numa roda e você falar alguma coisa, umas vão gostar, outras não. Algumas vão achar bonito, outros feio. Determinadas pessoas vão dizer que é certo, outras errado. Se isso é real, pergunto: o que você falou é gostoso, bonito e certo ou cada um classificou para si o que estava ouvindo?

Ponha isso na cabeça: você não pode levar sofrimento a ninguém, pois cada um opta pelo seu sofrer. Quando puser, pare de acusar o outro como agente do seu sofrimento, pois não é: foi você quem escolheu sofrer.

Participante: o que fazer quando meu comportamento causa transtorno a outros? Quando nos damos conta já agimos.

É a mesma coisa. Se o seu comportamento foi identificado pelo outro como algo errado ou mal, ele identificou dessa forma e não você que fez. Por isso lhe digo: deixe o outro sofrer; ele gosta disso …

Deixe-me dizer algo: tem muita gente que gosta de sofrer. Gosta, tem prazer em sofrer. Busca sofrimento; quando não tem, inventa. Então, deixe-o sofrer. Seja instrumento para isso, enquanto for.

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