Ousar viver a vida espiritual na carne é entregar-se a uma ação de forma diferente dos seres humanizados.
Como os seres humanizados normalmente vivem os acontecimentos da vida? Querendo programar resultados para cada ação; buscando controlar a vida para que atinja o que espera; tendo sempre objetivos e expectativas a serem alcançadas. É por isso que não conseguem amar como o mestre ensinou.
Os seres humanizados não amam o próximo e a Deus, porque participam dos acontecimentos dentro dos padrões humanos, ou seja, esperando ganhar alguma coisa. Participam sempre com o objetivo de ganharem algo, esperando ter prazer com o resultado da ação, buscam a cada momento o elogio e a fama individual.
Quem quer honrar o seu compromisso de antes da encarnação e por isso ousa viver diferente da humanidade não se preocupa se vai ganhar ou perder, se vai ser considerado bom ou mal, certo ou errado. Não se preocupa se vai alcançar o que quer ou se não vai realizar os seus desejos.
Ousar viver diferente da humanidade é atirar-se em um vazio, ou seja, participar da ação sem previsão de acontecimentos futuros, sem se preocupar em ganhar, em ter prazer, em ser elogiado ou reconhecido. Vive sem desejos ou paixões. Essa forma de viver denota a fé em Deus, ou seja, o amor a Deus sobre todas as coisas, que é o instrumento necessário para aproximar-se de Deus, para universalizar-se.
A ousadia necessária para se viver os acontecimentos da vida seguindo os ensinamentos dos mestres – amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo – está descrita com perfeição na história do alpinista que morreu quando estava escalando uma montanha de neve. Durante a escalada perdeu o equilíbrio e ficou preso por uma corda à beira de um precipício balançando-se no ar. Já era noite e não se conseguia ver nada. Por isso o alpinista não conseguia enxergar a que distância estava do platô abaixo dele.
Ele ficou se segurando na corda e balançando no vazio sem saber se poderia largá-la ou não. No desespero apelou para o Pai: ‘Senhor, me ajude!’. Deus ouviu e respondeu: ‘Largue a corda!’. No dia seguinte, o alpinista foi encontrado morto preso à corda, balançando no ar, a menos de um metro de um platô que poderia ter amortecido sua queda.
Ousar é na vivência dos acontecimentos da vida largar a corda sem olhar para baixo. É atender ao apelo divino de abrir mão de todas as certezas dessa vida sem querer saber concretamente se há algo para lhe proteger ou amparar. É atirar-se no escuro, ou seja, viver em paz e harmonia o agora sem preocupar-se se o que vai acontecer traz perda ou ganho.
Quem ousa viver livre da preocupação com o futuro, do controle do agora, dos objetivos e expectativas criadas pela razão, o faz por causa da confiança irrestrita que sente por Deus. Se você precisa saber o que vai acontecer quando largar a corda, como afirmam os padrões da vida carnal, não ousou nada: atirou-se com a segurança material, confiou em si e em suas percepções, ou seja, continuou seguindo o padrão humano de agir.
A reforma íntima é um salto para o escuro, uma ação que deve ser praticada sem se ter certeza de onde irá aterrissar.