Respondidas as perguntas, vamos mais adiante na nossa conversa. Vimos que a dinâmica do não-sofrimento consiste em enfrentarmos as causas dos nossos sofrimentos, que são os desejos e verdades que estão dentro de cada um. Mas, enfrentar-se com o que? O que usar como arma para se enfrentar e assim poder viver o não-sofrimento? Os ensinamentos deixados pelos amigos espirituais…

No nosso trabalho, o Espiritualismo Ecumênico Universal, temos onze anos de ensinamentos transmitidos que podem ajudar cada um a se enfrentar. Se você prefere a Bíblia como fonte de ensinamentos, lá existem milhares de páginas que contém informações que podem lhe ajudar a se enfrentar. Se prefere o Bhagavad Gita, o Corão, os livros de Kardec ou os sutras budistas, em todos estes livros você encontrará diversas armas para se enfrentar.

 Os ensinamentos trazidos pelos mestres ou pelos mentores espirituais não existem para criar uma cultura, para nos ensinar o que é o mundo, mas como a espada que Cristo afirmou que nos trouxe – ‘Vocês pensam que eu vim trazer a paz, mas eu trouxe a espada. Cada ensinamento que você recebe deve servir como uma espada para matar a você mesmo, para matar aquilo que lhe causa sofrimento: as suas verdades, desejos e paixões.

São estes ensinamentos que cada um precisa usar contra si mesmo para poder viver o não-sofrimento.

Quando alguém me ofende ou fala mal de mim, por exemplo, ao invés de sofrer porque isso aconteceu, posso me lembrar que Cristo ensinou a oferecer a outra face quando agredido. Quando alguém ganha aquilo que achava que era direito meu receber, posso me lembrar que cristo ensinou que devo doar tudo que é meu e segui-lo.

 Quando nós entendemos que os ensinamentos dos mestres e mentores não são para serem compreendidos ou criarem uma cultura, mas sim para servir de espada para cada um matar em si mesmo aquilo que lhe afasta de Deus (as verdades, paixões, posses e desejos) que acabam gerando o sofrimento, a pessoa pega a espada e se mata. Ou seja, usa o ensinamento contra a realidade que a mente cria para justificar a necessidade de sofrer.

Quando a realidade criada pela minha mente é que alguém está me incomodando, eu me lembro que Cristo mandou amarmos a todos e não apenas a quem não nos incomoda. Lembro-me também, que o mestre me desafiou a pelo menos conviver harmonicamente com meus inimigos já que abraçar o amigo até os ateus fazem. Quando me lembro dessas coisas, posso, então, libertar-me da obrigação de ter que sofrer porque aquela pessoa aparentemente está me incomodando.

Esta é a dinâmica do não sofrimento: entender que não sofrer não é deixar de sofrer, mas aprender a viver o sofrimento com dignidade. Entender que somos nós mesmos que causamos o sofrimento e que por isso só nós podemos estancá-lo. Como? Enfrentando nossas verdades com os ensinamentos que os mestres, mentores ou gurus nos trouxeram. Se não formos por este caminho, continuaremos sofrendo muito e vivendo esparsos momentos de prazer quando o mundo se adaptar às nossas paixões, posses e desejos.

Participante: Resignação é aceitar o sofrimento?

Não resignação é aceitar sofrer. Eu queria, por exemplo, ganhar na mega sena, mas não ganho. Por isso vou me resignar. Só que esta resignação não acaba com o sofrimento, pois ainda quero ganhar. De nada adianta um pensamento deste tipo, pois continuo querendo ganhar e como não consigo, isso me faz sofrer.

A resignação não leva ao fim do sofrimento. Ao contrário, ela o prorroga. O que estou falando é diferente de resignar-se: é enfrentar-se. Eu queria ganhar, mas não ganho. E daí? Vou continuar sofrendo por causa disso, vou ficar chorando até ganhar? Não, vou seguir em frente minha vida e se um dia ganhar, ganhei. Agora, vou continuar jogando… Tem muita gente que quer ganhar, mas não joga, não é mesmo?

Participante: Eu gostaria que a paz em mim fosse aumentando conforme eu trabalhasse o sofrimento, mas não consigo alcançar a paz plena como os chamados iluminados alcançam.

Acho que nós, seres humanos comuns, para nos iluminarmos temos que pagar muita conta de luz, pois temos muitas coisas para vencer.

Na realidade, eu não acredito muito nesta história daqueles que conseguiram vencer de uma vez por todas o seu sofrimento e alcançaram uma paz plena. O que acredito é que a cada sofrer podemos nos libertar do sofrimento posterior. Mas, mesmo isso, nós não conseguimos o tempo todo. Quantas vezes conseguimos nos libertar de um sofrimento para logo depois cair em outra armadilha criada pela mente?

Portanto, não se preocupe em iluminar-se: vá vivendo a sua escuridão diária acendendo de vez em quando uma pequena lamparina. Saiba de uma coisa: não existe uma regra que possa lhe levar a viver sempre em estado de paz. O que acho que existe é o resultado do suor (trabalho) que é realizado a cada momento.

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