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Participante: a ideia que Deus age por nós, não pode alterar nossas ações? Pode, por exemplo, nos tornar negligentes com nossas atitudes. Ao mesmo tempo, tira fardos de nossas costas com possíveis consequências das mesmas. São duas conclusões antagônicas, pois desviamos o foco dos nossos esforços para causas (sentimentos) ao mesmo tempo em que passamos a negligenciar as atitudes que funcionam como elemento carmático para outrem.
Sua colocação é muito grande. Vamos por parte.
A ideia que Deus age por nós, não pode alterar nossas ações?
Nunca falei isso.
Nunca disse que Deus age por vocês. Até porque o que chama de ação é uma ilusão. Veja, se não há um braço, como ensinamos, ele não pode se mover e atingir o rosto de alguém. O que há é uma ilusão de ação. O que há é um braço ilusório que ilusoriamente se move contra um rosto também ilusório.
Por isso afirmo que a ideia que afirma que Deus age através de você, por você, é ilusão. Deus não age. Ele cria a ilusão da ação. Só que a ilusão da ação não é uma ação: é simplesmente uma miragem.
Na verdade, nesse mundo apenas um ser age. Quem? O espírito. Age como? Vivenciando as ilusões, a peça de teatro, o filme. Apenas ele age e essa ação não é física, mas emocional.
Então, Deus não age por você. O espírito age ao assistir a projeção do filme que Deus faz. Deus não é o artista, não é o personagem: é o projetista do filme.
Isso pode nos tornar negligentes com nossas atitudes.
Não pode haver negligência em atitudes. Vamos refletir direitinho.
Por que você agride alguém? Porque tem raiva. Por que cobiça a mulher do próximo? Porque tem desejo sexual ou paixão. Por que possui a sua casa? Porque gosta dela. Dessa simples análise concluímos algo: a sua ação será sempre movida por uma intenção.
Isso nos leva a concluir que que nenhuma ação pode ser negligenciada. Até porque, se negligenciarmos alguma coisa é porque tínhamos a intenção de negligentes. Nesse caso, não negligenciamos nada.
Então, com a ação nunca seremos negligentes. No entanto, afirmo que podemos, e não devemos, ser negligentes com a intenção. Ela não deve ser negligenciada.
Você não pode deixar de se preocupar (negligenciar) a cada segundo com a intenção que está participando da ação, porque é ela que determina se está realizando o objetivo da encarnação (amar universalmente) ou não. Acontece, que se acreditar que possui a liberdade de agir, vai preocupar-se com a ação e com isso negligenciar a intenção.
Então, quando falo que as ações são comandadas por Deus, não estou afirmando que devam negligenciar qualquer coisa. É ao contrário. Estou falando para que deixe de prestar atenção no ato e passe a prestar atenção na sua intenção.
Afinal como disse Cristo: Deus julga a intenção de cada um e não a ação. A intenção, o objetivo com o qual participa das ações, como assiste as ilusões que Deus projeta.
Ao mesmo tempo tira fardos de nossas costas com possíveis consequências das mesmas.
O ensinamento retira o fardo sim, mas isso não quer dizer que esteja errado. O próprio Cristo ensinou: venha para mim que meu jugo é leve. Sendo assim, amenizar o cumprimento dos ensinamentos é seguir ao mestre.
Agora pegue as doutrinas religiosas, cristãs ou não. Verifique se em alguma delas existe o fardo leve. Não, o que existe é o fardo pesado.
Existe a responsabilidade material, a de fazer, ser, estar o que elas acham certo. Existe a penalidade, a acusação, a crítica a quem não segue o que elas determinam. Que julgo leve é esse que deveriam ter s elas colocam uma canga pesada nos seus fiéis?
Cristo diz que o jugo dele é leve porque os ensinamentos que trouxe devem servir como caminho para a libertação das obrigações materiais e deixar uma única opção a realizar: amar. Lembre-se: quem só ama é pobre de espírito e por isso herdará o reino do céu, a felicidade incondicional.
São duas conclusões antagônicas, pois desviamos o foco dos nossos esforços para causas (sentimentos) ao mesmo tempo em que passamos a negligenciar as atitudes que funcionam como elemento carmático para outrem.
Não são antagônicas.
Como já expliquei, por trás de cada ato há uma essência. O carma é essência. Deixe-me explicar isso.
Exemplo: alguém não tem o que comer. Não ter o que comer não é um carma, é uma imagem projetada na mente do ser encarnado para que o carma esteja em ação. Qual o carma? O apego à vontade de comer; exigir do mundo aquilo que considera que tem direito.
Então, a ação em si não é carmática. Por trás da ação existe uma intencionalidade sendo testada. O que é testado é na verdade o carma. Ninguém tem o carma de ser traído pela esposa, mas alguns podem ter o carma de sentir-se traídos para testar algum sentimento.
Participante: ao contrário, a responsabilidade aumenta enormemente. Só que ao invés de estar focado no ato ação ou mesmo focado no pensamento, a responsabilidade está focada no sentimento, intenção, ou seja, mil vezes mais sutil.
Exato! Com isso você assume a verdadeira responsabilidade que tem: a capacidade de amar.
O foco espiritual é sempre na intenção jamais na ação. No planeta, a lei e os costumes focam na ação, deixando de lado a intenção. No plano espiritual é exatamente o oposto.
O espírito humanizado vê as ações, o espírito espiritualizado vê as intenções. Essa é a mudança de atitude que precisamos estar atentos quando nos vemos como espíritos que somos.
Perfeito. Há uma historinha interessante a respeito disso. Se me permite contar …
Em determinada seita hindu é proibido ao monge tocar em mulher. Um dia dois monges estão à beira de um rio. Dentro dele uma mulher queria atravessar sem conseguir. Um dos monges, ligado no aspecto ajuda ao próximo, pega ela no colo e a leva do outro lado e volta.
O outro monge caiu em cima dele: ‘você sabe que não pode pegar em mulher e pegou. Agora está impuro. Não posso mais lhe acompanhar. Não toque em mim. Irresponsável!’
O dia inteiro o monge seguiu falando e criticando o outro. O que pegou a mulher sempre em silêncio até que em determinado momento, respondeu: ‘sim, eu atravessei a mulher, mas a deixei lá. Já você está trazendo carregando-a por todo o dia’.
Essa história ilustra o que estamos conversando. O monge lidou com a sua intenção, pois pegou na mulher objetivando ajuda-la. Ele foi lá e fez, agiu. Não se preocupou com o ato (estar carregando a mulher no colo) porque tinha consciência da sua intenção.
O monge não carregou a mulher por obscenidade, com intenção obscena, de prazer sexual. Por isso, não fez mal nenhum.
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