Participante: na tentativa de fazer minha reforma íntima devo olhar para a minha vida, para os meus relacionamentos, porque toda nossa vida é relacionamento (com as coisas, as pessoas, as ideias). Aprendi isso com o senhor quando disse que o mundo externo é um espelho do interno. Podemos fazer o uso do que vemos no mundo externo como espelho que está refletindo o que está se passando aqui dentro. Pensando nisso vejo que tem algumas coisas que sempre acontecem na minha vida. Por isso queria perguntar sobre elas. Por exemplo: o que posso aprender com o fato de sempre me envolver com mais de uma pessoa? Não faço isso de propósito, mas acontece. Pode comentar?

Isso especificamente posso comentar: é um chão para você caminhar na busca espiritual. É uma oportunidade para se unir ao Todo.

Para ser mais específico pergunto: o que o separa do todo nessa situação?

Participante: são conceitos que tenho, que me vêm. Conceitos que dizem que isso não talvez não seja certo, de que estou ofendendo uma pessoa ou outra, de que devia ser diferente. São ideias de certo e errado no fim das contas, julgamentos.

Aí pergunto: quem é o Todo, quem é Deus?

Participante: tudo que acontece tem a ver com Deus.

Perfeito. Se tudo é Deus, para se aproximar Dele é preciso estar harmonizado com tudo. Sendo assim, precisa estar harmonizado com o fato de ter duas, três, quatro, cinco, etc.

Como tudo que acontece, o fato de ter duas, três ou mais é Deus. Por isso pergunto: como estar harmonizado com qualquer quantidade de companheiras que tenha?

Participante: é não ver problema nisso.

É não ser contra ele.

Só que Deus não é apenas a quantidade de companheiras que tem. Ele é tudo. Portanto, é a própria crítica que você faz a si. Por isso digo que precisa estar harmonizado com a crítica que tem.

O que é se harmonizar com a crítica?

Participante: é não ir contra a crítica.

Não, é não deixar a crítica lhe criticar.

Quando é que a crítica critica?

Participante: quando eu queria ser elogiado?

Não.

Participante: quando aceito a crítica?

Quando causa sofrimento. Causa desconforto, sofrimento, culpa.

Então, nesse caso, específico, unir-se a Deus é não se sentir culpado. ‘Ah, está certo, acho que estou magoando alguém. Acho, mas e daí? Por causa disso vou dizer que sou pior que os outros’?

Esse é o caminho. Você não pode alterar o que acha nem o seu trabalho é deixar de achar. O trabalho é aprender a viver com o que acha.

Então é dizer: ‘acho que estou errado, mas não consigo viver de forma diferente. Quando vejo já estou com mais de uma companheira. Vou ficar me culpando por isso? Me culpar resolve’?

É aquilo que falei ontem: culpar-se porque age de um jeito muda alguma coisa na sua vida?

Participante: não.

É por isso que precisa ver a inutilidade de se culpar.

Não estou falando da inutilidade de achar uma coisa. Achar é necessário, porque está achando, se não estivesse não era, mas se culpar por isso é completamente inútil, pois não resolve nada.

Acho que não deveria, mas é o que eu faço. O que quer que eu faça? Quando vejo já estou com duas. Quando reparo já era. Não faço por maldade, não faço com o objetivo de ferir alguém, de magoar. Quando vejo, o processo de vida levou para aquilo’.

Ter esse diálogo consigo faz a culpa não lhe culpar. Ou seja, lhe leva a não assumir a culpa.

Conversar consigo e assumir a inutilidade da culpa é o trabalho. De nada adianta entender que não pode ter culpa, porque não conseguirá deixar de ter enquanto achar que se desculpar é o importante. Também não leva a não mais agir daquele modo. Quando vê.

Então, se Deus é tudo, Ele é o que você faz. Ele é o múltiplo relacionamento, mas também é a culpa, a crítica a si. Se precisa estar em paz, harmonizado com o que você faz (ato), também precisa estar em paz, harmonizado com a crítica que faz a você.

Esse harmonizar, comungar, com a crítica não é se elogiar. É continuar dizendo que aquilo não devia ser feito, mas está sendo feito. E daí? Agindo assim a crítica continua, Deus continua, mas a crítica não critica.

Por isso disse que ter um relacionamento com mais de uma pessoa é, para você, encontrar um chão para caminhar. Não só quando age, mas quando a crítica aparece. Por isso, caminhe.

Participante: isso pode ser levado para todos os relacionamentos da vida, não?

Pode ser levado para tudo na vida.

Participante: por exemplo. Me sinto culpado ou com algum desconforto na relação com os meus pais. Gostaria de ter um outro relacionamento, ser mais próximo.

Gostaria? Gostaria. Tem? Não. Então… A culpa faz mudar o relacionamento com o seu pai?

Então diga a si: ‘olho para mim, vejo o meu relacionamento com os meus pais. Vejo que não estou de acordo com esse tipo de relacionamento que mantenho com eles, mas também vejo que não consigo ter outro relacionamento. Por isso continuo achando que deveria ter outro, que o relacionamento que tenho não é o certo, mas é o que tenho’.

Tudo que você vive é a sua vida. Se vive esse é o relacionamento que tem, esse é o relacionamento que a sua vida tem. Se já aprendemos que ninguém pode mudar sua vida, o que você precisa entender é que não pode viver nada diferente do que está vivendo. É preciso viver o que é apresentado sem se elogiar, sem achar que está certo, mas também não se culpar pelo que vive.

Volto a dizer que não gosto da palavra aceitar, mas dentro do nível de compreensão de vocês esse é o melhor: é preciso aceitar a vida que se apresenta.

Enfim, encerrando a orientação sobre esse tema, digo que quem se relaciona com seus pais é a vida, não você. Você tem que ser o observador da vida. E esse é o problema: você não observa a vida, quer vivê-la. Ou seja, acha que se relaciona mal, relaciona errado. Mas, nada disso é você que faz, mas a própria vida.

Em um trabalho disse que o primeiro passo é você acabar com o eu que vivo e assumir que é a vida que vive. Por isso digo que nossa conversa de hoje não deveria ser novidade.

Já disse diversas vezes que a vida vive a vida. Além disso, Cristo nos ensinou: é preciso dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus. O que é de César, da matéria? A vida. Então, dê a vida para a vida, deixe ela vivê-la. O que é de Deus? Você, o Espírito.

Seguindo esse ensinamento de Cristo elimina um processo que é muito forte em você: a culpa. Você só tem culpa por que acha que você vive a vida. É por achar isso que imagina que poderia viver diferente. Imagina que você tem controle sobre a vida, que pode mudar os fatos da vida.

Por mais que tente, garanto que não consegue, porque ninguém controla a vida.

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