Participante: se um espírito recebe a missão de matar, como pode segundo a literatura, ir para o umbral?

A resposta é longa, mas vamos lá.

Primeiro: onde é o umbral? No Universo? Só que em O Livro dos Espíritos é dito que o universo não se subdivide em partes circunspectas. Como pode num lugar sem divisões haver um umbral e uma cidade espiritual separados?

Não existem nem o umbral nem as cidades espirituais. Não há espaços no universo: não há uma cidade nem um vale onde vivem os condenados.

O que é dito na mesma resposta em O Livro dos Espíritos é que os espíritos se reúnem por afinidade. A partir disso pergunto: quem vai para o umbral que você acredita existir? Aquele que vivenciar o trabalho de matar com culpa ou prazer e não todos que matam. Esse é o primeiro detalhe.

Se um espírito vem para praticar essa ação como missão, como um serviço a Deus, você acha que o Pai dará culpa ou prazer a esse ser? Se não tem esses sentimentos, não possui afinidades com quem tem. Por isso não vive a mesma realidade ilusória.

Mas, vamos continuar nossa análise para ficar clara algumas coisas.

Tem muita gente que vive a culpa de não salvar um passarinho que caiu numa arapuca, tem outras que vivem a culpa de não ajudar uma pessoa carente. Esses vão para o umbral que você citou, já que comungam de um mesmo sentimento: a culpa. Vão para lá não pelo que fizeram, mas porque comungam de um sentimento comum que é inerente àqueles que você acredita que vivam nesse lugar.

Eis aí, então, os que vão para o umbral. Não são os bandidos, assassinos, mas todos aqueles que comungam de um sentimento comum que, segundo a crença, devem ser expiados nesse lugar.

Saiba de uma coisa: Deus é a justiça e não justiceiro. Ele não se apega a um código de leis que prescreve isso ou aquilo para quem fizer determinada coisa. Ele dá a cada um segundo as suas obras e o que cada um obra diz respeito a vivência do que a mente cria.

Sabe, muitos assassinos podem não ir para o umbral, mas tenha a certeza que quem gosta de fazer fofoca depois do desencarne se reunirá com outros que são fofoqueiros num lugar que você classificaria como umbral. Quem gosta de tomar cerveja se reunirá com seres que possuem o mesmo gostar depois do desencarne e esse lugar aparentará com a descrição que você dá ao umbral.

Chico Xavier conta uma história onde uma pessoa queria se matar e para isso se joga na frente de um trem. Depois do desencarne ele ficou cinquenta anos – claro que isso é pela visão humana, pois os espíritos não têm tempo – caindo no trilho, o trem passando por cima, se levantando, caindo novamente e o trem passando por cima.

Será que viveu isso por castigo? Não, viveu porque gostou de ter vivido isso. Enquanto encarnado, acreditou quando a mente lhe disse que queria fazer aquilo e que seria bom realizar essa ação. Por causa desse apego à mente continuou vivendo aquele momento depois do desencarne.

O que viveu depois do desencarne é castigo por que se suicidou? Não. Se cada um morre na hora que tem morrer e Deus sabe qual é essa hora e a forma como o ser acontecerá o desencarne, não há problema algum em suicidar-se.

Aliás, isso é uma afirmação que o Espírito da Verdade faz em O Livro dos Espíritos, apesar dos seguidores do espiritismo não aceitarem tal ideia. Kardec, por ser humano, quando ouve esse ensinamento dos espíritos, insiste: o suicida não é culpado? O mentor do espiritismo afirma, então, que apenas o suicida consciente é culpado pelo que faz. Suicida consciente é aquele que quer acabar com a vida.

Você sabia que a maioria das pessoas que participam de um suicídio não age para acabar com a vida, mas para fugir de problemas ou se livrar de responsabilidades? Eles não querem morrer, mas apenas alterar suas vidas. Por isso não pode se dizer que são conscientes do que estão praticando.

Participante: então, o vale dos suicidas não existe?

Ele existe, mas não é um lugar do universo.

Trata-se apenas de uma reunião de espíritos que estão carregando a culpa de ter se suicidado. Eles plasmam todo aquele cenário para viver porque na mente deles é para lá que deveriam ir.

Mas, não são só eles que estão lá. Todo aquele que carregar culpa por alguma coisa se unirá fatalmente àqueles que se sentem culpados.

Estando preso à obrigações ou necessidades certamente terá culpa por alguma coisa, não?

Ah, antes que me esqueça: cidade espiritual também não existe.

Participante: nem o Nosso Lar?

Nem o nosso nem o de ninguém…

Como pensavam os antigos católicos, não existe também nuvem para que ao virarem anjo eles fiquem tocando harpinha…

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