Certa mulher em Cananéia que morava naquela terra chegou perto do mestre e gritou: Senhor, Filho de Davi, tenha pena de mim. Minha filha está dominada por um demônio e passando muito mal. Jesus respondeu: eu fui mandado apenas às ovelhas perdidas do povo de Israel. Ela veio, ajoelhou-se aos pés dele e disse: Ajude-me, Senhor! Jesus disse: Não está certo tirar o pão dos filhos e jogá-los para os cachorros. Então a mulher respondeu: sim Senhor, é verdade, mas até os cachorrinhos comem as migalhas que caem debaixo da mesa dos seus donos. Jesus respondeu: Mulher, você tem muita fé. Naquele momento a filha dela ficou curada.
Cristo afirma que não poderia executar a cura porque a filha daquela mulher não era da tribo de Israel. Disse mais: se fizesse isso estaria jogando pão bom para os cachorros. A mulher, então, respondeu que até os cachorrinhos comem o que cai debaixo da mesa de seus donos.
Que ensinamento podemos tirar dessa parábola? A humildade.
Há muitos seres humanizados que não comem os pedaços de pães que caem da mesa de seus donos. Só aceitam se alimentar com um pão inteiro, fresco, novo.
Aqueles que ainda não conseguem vivenciar os acontecimentos de sua vida com a consciência amorosa, precisam se contentar com migalhas de amor ao invés de receberem um amor absoluto, completo. Precisam entender que essas migalhas são importantes porque ajudam esse ser no próximo momento a não divergir do amor universal, a vivenciar o que viver com amor. Comer a migalha quer dizer receber pouco amor.
Mas, como adquirir amor? Cristo nos ensina isso também nessa parábola. Repare que depois que a mulher aceita humildemente o pouco que pode receber Cristo afirma que ela possui fé e por isso a filha é curada.
Pela fé de aceitar as migalhas de amor que recebem sem querer alimentar-se com o pão inteiro (ver completamente satisfeitos todos os seus desejos) é que o ser humanizado pode alcançar a cura (ser feliz). Mas, enquanto ficar esperando o pão novo e grande, não se alimentará, não será feliz de verdade.
O que é o pão grande e novo? A saúde perfeita, a alegria plena, o descanso completo, a realização de vontades e desejos, ser aceito por todos, ser considerado aquele que sabe a verdade.
O ser humanizado está sempre esperando as condições ideais para ser feliz, para ajudar o próximo, para viver em felicidade. Acha que é preciso ter alegria para não criticar o próximo, que é necessário saúde para ajudar o outro. Esse é o soberbo, aquele que quer comer o pão grande e novo. Aquele que espera esse pão para se alimentar (ser feliz) vai passar fome.
É preciso trabalhar sempre, mesmo achando que não possui todas as condições para fazê-lo.
Participante: o senhor está dizendo que temos que trabalhar mesmo doente?
Sim. Mas, não estou trabalhando do seu trabalho material, do seu emprego. Falo do trabalho para Deus, de ajudar o próximo amando, em ser um sal da humanidade que tempere com amor a vida dos outros.
Participante: e a questão do dinheiro? Como podemos auxiliar o próximo sem dinheiro?
Amando. Amar o próximo não custa nada.
O que esse trecho da Bíblia nos ensina é que não devemos esperar ter para poder fazer pelos outros. É contentar-se com a migalha, ou seja, se não posso amar cem por cento, posso pelo menos amar dez por cento. Quem acha que apenas o amor perfeito (cem por cento) pode ajudar, está esperando para comer o pão inteiro ao invés de apenas contentar-se com as migalhas que caem da mesa do seu senhor.
O problema é que o ser humano por não ter o pão grande, não se contenta com a migalha. Prefere não ajudar nada, se não pode auxiliar integralmente. Esse, ao abrir mão da migalha, fica mais longe do momento em que poderá alimentar-se com o pão inteiro.
Quem espera que tudo esteja perfeito para poder trabalhar para Deus espera o pão grande. Este não é humilde. Aquele que faz o que pode com o que tem disponível come as migalhas e prepara-se para o banquete. A migalha de amor sustenta o ser humanizado até o momento que esteja preparado para poder banquetear-se.
Esse é o ensinamento de Cristo nessa parábola: se não pode amar integralmente, ame dentro de sua capacidade.