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Participante: Isso é muito difícil em alguns casos. É quase instintivo querer nos defendermos quando alguém nos acusa e nos destrata.
Concordo: é instintivo. Agora, se quer ser feliz, ou seja, viver o não-sofrimento, precisa estar em constante vigilância para não deixar o instinto lhe levar a viver a roda do sofrimento.
Concordo também que seja difícil de ser executado. Por quê? Porque o ser humano, apesar de dizer o contrário, não quer deixar de sofrer.
A humanidade, principalmente os religiosos, vive uma cultura onde é compreendido que sofrer é bom para a sua eternidade espiritual, que sofrer eleva. Mesmo os que não acreditam nestas coisas também querem sofrer, pois desta forma recebem mais atenção, carinho e dedicação dos outros. Ou seja, apesar de dizer que não quer sofrer, inconscientemente o ser humano quer viver desse jeito para ganhar alguma coisa.
Os seres humanos querem instintivamente sofrer para poderem receber atenção, carinho, para serem considerados ‘coitadinhos’ – tem gente que adora ser o coitadinho da história, não é mesmo? Por isso é muito difícil vencer o sofrimento que nos assola quando os outros nos acusam ou nos destratam.
Você está certo: nosso querer mostrar aos outros o quanto sofremos é instintivo, pois só assim mostramos o quanto precisamos do amor, carinho e atenção dos outros. Esse que é o problema do praticar o caminho do não-sofrimento…
Estamos falando de uma cultura de muitos séculos, onde a mente se formou tendo como base a necessidade de mostrar o sofrimento para poder ganhar. Sei que é difícil mudar esta cultura, mas o argumento que pode lhe ajudar a vencê-la é que viver o sofrimento prejudica a nós mesmos.
Sem falar dos prejuízos físicos, que são conhecidos (úlcera, gastrite, etc.), veja só uma coisa. Em quanto tempo acontece o sofrer, ou seja, o pensamento que se indispõe com o momento presente? Um minuto, dois, talvez. Pois bem, vivemos o sofrimento profundo deste sofrer por muito mais tempo. Muitas vezes passamos o dia inteiro amargurados, tristes, acabrunhados por algo que aconteceu em poucos minutos ou segundos.
Muitas vezes o sofrer acontece de manhã e passamos o dia inteiro sofrendo aquilo. Sofremos muitas horas, quando não vivemos tempos maiores, por algo que aconteceu em alguns minutos. Para mim isso é masoquismo…
Os seres humanos externam o sofrimento por longos períodos apenas para poder ganhar atenção, carinho ou a concordância do outro com o nosso ponto de vista. Mas, quanto tempo dura este ‘chamego’ do outro com o nosso sofrimento? Mais uma vez, minutos… Será que compensa? Esta é uma pergunta que cada um precisa fazer a si mesmo antes de se aventurar na busca do não-sofrimento…