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Você me diz que não consegue se amar por causa do seu orgulho, mas desculpe: a incapacidade de amar a si mesmo não tem nada a ver com orgulho. Vamos tentar entender isso.
Sempre disse que o amar a si mesmo que Cristo ensinou passa pela aceitação de si mesmo do jeito que é. Amar a você como é. Só que o ser humano está sempre impondo condições para se amar. ‘Quando eu me emagrecer ou engordar, vou me amar’; ‘quando casar, me amarei’; ‘enquanto for jovem, me amarei, mas quando for velha não vou mais fazer isso, a não ser que faça uma plástica’.
É esse o empecilho para amar a si mesmo: condicionar o amor à realização de determinadas coisas, a cumprir determinados parâmetros. Isso é, em síntese, o que não deixa amar você mesmo. Como fica bem claro, nada tem a ver com o orgulho.
Agora, se não tem a ver com o orgulho, tem a ver com o que? Com as exigências que faz para se amar. Com os critérios e normas que usa para se amar ou não. Essa é a questão.
O problema não é orgulho, mas depender de alguma coisa. Achar que precisa fazer algo, que precisa alcançar algo para ser ou que precisar ser de determinada forma para alcançar algo. O problema de não conseguir se amar está ligado à questão das obrigações e necessidades que você vive.
Pergunto: porque vive determinadas obrigações e necessidades? Porque se subordina ao código humano de vida, ao sistema humano de vida. O que é isso? É uma série de regras, normas, conceitos, que são colocados pela sociedade e aos quais você se subordina, aceita a imposição deles.
Vou continuar no exemplo do gordo. A sociedade humana diz hoje que bonito é ser magro – falo assim, porque antigamente o bonito era o gordo. Essa é uma regra humana, um conceito da humanidade, ao qual pode se subordinar ou não. Pode sentir-se obrigada a seguir ou não.
Se subordinando, dependerá de não ser gorda para amar-se. Sentindo-se obrigada a cumprir a norma, não se amará se for gorda. Mas, isso não precisa ser dessa forma: você pode se amar mesmo não cumprindo a norma da sociedade humana. Tanto isso é verdade, que existem pessoas que se amam mesmo sendo gordas. Essas pessoas conseguem se libertar dessa subordinação e com isso conseguem se amar.
Portanto, não é o seu orgulho, a sua vaidade ou o que quer que diga que não deixa se amar, mas a sua subordinação a esses conceitos e regras, às obrigações e necessidades geradas pelo mundo humano que usa como parâmetros para medir o amor a si mesmo. Esse é que é o seu problema. Seja em que campo for, seja em que situação for, só conseguirá viver harmonicamente consigo mesmo, ou seja, se amar, quando se libertar desses conceitos, quando se libertar da obrigação de seguir os padrões humanos.
Falamos da gordura, mas existem outros exemplos. Aquele que acha que somente se amará quando formar em doutor, quando fizer uma faculdade; aquele que só se amará quando tiver um filho, uma casa própria, quando tiver um emprego, quando fizer caridade aos outros. Nada disso são condições mínimas para se amar. Tratam-se apenas de padrões gerados pela sociedade humana justamente para testar a sua capacidade de amar a si mesmo.
Deixe-me dizer algo muito interessante. Você já cansou de me ouvir dizer que o ser humano é egoísta por natureza, quer sempre levar alguma vantagem. Sim, isso é verdade, mas repare que apesar disso, vocês se destroem em nome de seguir padrões ditados por outros, em nome de ter que viver situações que a sociedade diz que precisa ter.
Repare que apesar de querer levar vantagem, o egoísmo muitas vezes prefere a dor do que o prazer. Isso quer dizer que muitas vezes se subordinam as coisas do mundo porque acham bom sofrer, porque é gostoso viver o sofrimento. Quando sofre, todo mundo vem e lhe passa mão na cabeça e com isso, entra em evidência. Isso é tratado pelo egoísmo da mente como uma vitória.
É isso que precisa ver. A sua mente está trabalhando com um egoísmo que chamo de negativo: gerar sofrimentos para se sentir bem. Por isso, faça um trabalho junto a si mesmo muito forte no sentido de abrir mão do papel de sofredora e assumir a si mesmo com todas as limitações, com as discórdias com relação aos padrões humanos. Se fizer isso, com certeza se amara e será feliz consigo mesmo.
Viu como o não amar a si não tinha nada a ver com o orgulho? Você acha que não se ama porque quer ser melhor do que os outros, mas isso é ilusão. Você não se ama não é por orgulho, mas porque a sua mente trabalha com o objetivo de que seja, assuma, viva o papel da sofredora e com isso possa exigir do mundo mais atenção.
Desculpa se as palavras podem causar algum rebuliço dento de você, mas eram necessárias. Meu trabalho não é satisfazer ninguém, mas meter o dedo na ferida e puxar o carnegão para lhe mostrar o mal que está vivendo e assim possa se cuidar.
Enfrente o que não lhe deixa se amar e terá sucesso.
Com as graças de Deus.