Participante: tenho tido dificuldade em formular pergunta diante dos ensinamentos recebidos nos estudos, principalmente por não ter encontrado um equilíbrio entre o ensinamento e a prática. Às vezes em diálogos em família tento passar os ensinamentos de Pai Joaquim e sempre existe uma repreensão sobre minha vida pessoal e os exemplos que dou, geralmente com críticas que me colocam como fracassado e, portanto, sem condições de levar ensinamentos para os outros. Entendo que o motivo que me leva a transmitir os ensinamentos de Pai Joaquim nessas conversas é perceber que pessoas que sou próximos estão com discurso e práticas muito longe dos ensinamentos que recebemos nos estudos. Não quero mudar ninguém, apenas mostrar que existem outras perspectivas e tentar iniciar neles uma proximidade com a vida vivida como espírito que se encontra vivendo uma experiência humana. Sei que não adianta induzir essa mudança e que ela vai acontecer no tempo de cada um. Minha dificuldade é o equilíbrio entre deter o ensinamento e, como um espírito que espiriteia, ser um espectador da vida humanizada. Suportar as vicissitudes, independente do que seja, e receber o ato emanando amor sempre, na certeza de que tudo que recebo do universo é para o meu espírito bem. No momento, a sensação que tenho é que não sei rezar, não sei opinar e não sei viver, mas na certeza que isto é passageiro e que nos aproximamos de Deus.
A pergunta é longa e precisaremos rever parte dela, mas vamos começar.
Para começar: eu não falo nenhuma verdade. Falo o que sei, o que conheço, o que é verdade para mim, mas pode não ser para você ou outra pessoa. Isso quer dizer que o que falo pode não ser verdade para os seus parentes e amigos. E daí, qual o problema disso? Nenhum.
Existe uma confusão muito grande que os seres humanos fazem e que você fez nessa pergunta: eu quero isso, eu quero viver assim, eu quero ser isso, quero viver distribuindo amor o tempo inteiro. Impossível. Por quê? Porque você não vive, quem vive para você é a vida. É a razão. É ela que cria a ideia que vocês chamam de realidade.
Sendo assim, é ela que diz que você não está vivendo o ensinamento. Quando acredita nisso, deixa de viver o ensinamento, pois acredita que não está vivendo. Se a base do ensinamento é dizer não sei, quando a razão disser que não está vivendo diga: não sei se não estou. Ao invés de fazer isso, aceita a ideia de que não está. Aí deixa de viver o ensinamento.
É nesse momento que deixa de colocar em prática o ensinamento, não antes. Isso porque antes quem viveu foi a vida e não você.
Entendam isso: a vida vive a vida. Não é você que vive qualquer coisa, não é você que cria nada, não é você que faz isso ou aquilo. Tudo é a vida que é vivida.
Vou falar uma coisa para você. Digamos que a sua razão fale alguma coisa e você consiga dizer não sei. Por causa disso acha que esse não sei, será repetido no próximo momento? Pode não ser.
No outro momento a vida pode criar uma nova informação e criar um sei para ver se você responde não sei. Aí você acredita que agora já sabe o que fazer e nesse momento aceita a informação que errou.
A vida não se pensa, se analisa, não se raciocina, se vive.
Até porque você não tem o que raciocinar. Isso porque se parar para raciocinar sobre alguma coisa, já está no passado, não no presente. No presente não dá tempo de raciocinar, de entender o que está fazendo.
Por isso, na hora que entender o que está fazendo, o que entendeu já é passado. A sua compreensão das coisas é passado.
A vida é feita para ser vivida no momento a cada momento, a cada informação, a cada situação, sem estar ligado a passado ou a futuro. Como vai saber se pôs em prática o ensinamento se o momento já passou?
Compreenda isso. Compreenda que você não tem como viver passado. Não tem como viver futuro. Só o presente.
Essa é a primeira ideia. Então, a primeira resposta para você é o seguinte: esqueça se colocou em prática ou não. Viva, viva, viva, viva, viva tudo o que vai acontecendo. Não pare para pensar o que fez ou o que deixou de fazer. Primeiro detalhe.
Segundo: na pergunta você diz que quer ajudar os outros, mas sabe que não pode, que cada um vai mudar na hora que tiver que mudar. Então, por que continua querendo ajudar?
Tem mais: será que quer ajudar mesmo ou quer ensinar alguma coisa? Digo isso porque você quer que eles aprendam a sua forma de viver. Isso não é ajuda, isso é querer ensinar. Ensinar o certo, o bom. Veja e repare nisso.
Não entre nesta de querer ajudar ninguém, de sentir-se obrigado a salvar ninguém. Não há como salvar ninguém. As pessoas podem se salvar, mas não vai ser você que vai salvar ninguém.
Outro detalhe que não levou em conta: o jeito de viver que Joaquim ensina pode ser bom para você, mas para eles não. Eles não gostam, não querem, não estão nem aí. Por que você acha que tem que os obrigar a ouvir? Por que acha que tem que os obrigar a seguir?
Se para você é bom, é importante, siga você. Esqueça, abra mão dos outros. Lembro que bem no início disse uma vez: pegue na mão das pessoas e tente puxá-las, trazê-las com você; mas se não vierem, largue a mão delas e vá embora.
Não fique sofrendo porque elas ficaram paradas, é opção delas. Além do mais, paradas podem estar melhor que você, que está achando que andou para frente e quer obrigar os outros a andar. Segundo detalhe.
Agora terceiro detalhe que quero dar nessa conversa. Você usou uma palavra que é uma das artimanhas que a razão usa: sempre.
Não existe sempre. Você nunca vai fazer nada sempre, porque o sempre não existe. O sempre envolve passado, presente e futuro e esses tempos não existem. Além disso, você é sujeito à impermanência das coisas. Como é que você vai ser sempre a mesma coisa se você é impermanente?
Esqueça qualquer sempre. Aceite o momento a cada momento do jeito que é, ao invés de ficar querendo viver sempre a mesma coisa.