O moderno espiritualismo se caracteriza por uma busca incessante de informações sobre o mundo além da matéria. Por isso, a cada dia, aparecem novos mestres, médiuns ou gurus que afirmam possuir a verdade e os seres humanos, ditos espiritualistas, ficam correndo atrás dessas informações. Mas, será que alguém pode transmitir uma Verdade Verdadeira? Vamos conversar um pouco a respeito dessa busca que hoje é considerada o ponto alto do espiritualismo.

Quando se fala em busca da Verdade, a primeira coisa que precisa ser dita é que de nada adianta ficar buscando novas informações, pois ninguém possui a Verdade para transmitir. A Verdade Verdadeira não está disponível nesse planeta.

Uma informação para ser Verdadeira precisa ter dois princípios básicos: universalidade e eternidade. Será que existe nesse planeta alguma verdade que já não tenha sido considerada anteriormente como mentira? Será que todo conhecimento humano sempre foi o mesmo ao longo dos séculos? Será que existe alguma informação que seja aceita como verdadeira por todos os seres humanos? A resposta a todas essas questões é: não… Sendo assim, a Verdade Verdadeira, que também chamamos de Absoluta, não existe entre os seres humanos.

A Verdade é Deus. Somente o ser que possui Inteligência Suprema, ou seja, a capacidade infinita de analisar e conhecer as coisas pode conhecer a Verdade Absoluta.

Pode o homem conhecer e compreender a natureza íntima de Deus, que é a Verdade? Não, pois lhe falta para isso o sentido (O Livro dos Espíritos – pergunta 10). É por isso que a busca da Verdade que hoje é desenvolvida pelos espiritualistas é infrutífera.

Se a Verdade Verdadeira não existe, o que é a informação que chamamos de verdade? É uma informação que acreditamos ser verdadeira.

A Verdade Real não existe, mas o ser humano convive com informações diuturnamente. Para algumas dá o valor de verdadeiro; para outras de falso. Isso não quer dizer que aquela informação seja realmente falsa ou verdadeira, mas apenas que é tratada de tal ou tal forma por determinados seres humanos.

Uma informação por si só não pode ser verdadeira porque carece da universalidade, já que pode ser classificada como tal por alguns seres humanos e de outra forma por outros. Também carece do princípio da eternidade posto que todas as informações que hoje são tratadas como verdadeiras, amanhã não mais serão.

Portanto, a Verdade Verdadeira não existe. A única coisa que existe são informações que alguns seres humanos dão o valor de verdade e outros não. Mas, apesar disso muitos continuam buscando e por isso continuamos verificando se compensa buscar a verdade.

Se ninguém possui a Verdade, o que alguém pode lhe ensinar? A verdade dele. O que qualquer mestre, médium ou guru pode ensinar a um ser humano é uma informação à qual ele deu o valor de verdade. Ou seja, é apenas a verdade dele.

Acontece que todos nós possuímos verdades relativas sobre todas as coisas. Seja sobre que assunto for, cada um tem uma convicção sobre ele, ou seja, sua própria verdade relativa.

Ora, se a busca por novos conhecimentos nos leva apenas a encontrar uma verdade relativa, isso de nada adianta, pois essa já temos. Se trocarmos nossa verdade relativa pela verdade relativa do outro, isso não significa maior grau de evolução ou de conhecimento maior, mas apenas troca de enunciado de informações que acreditamos como verdadeiras, nada mais.

Disse no início da conversa que o moderno espiritualismo se resume a uma questão de ciência, de sabedoria, de saber mais. Tal procedimento acostumou os seres humanizados a estarem sempre buscando mais informações. Mas, por que viver assim se o máximo que conseguirá é trocar uma informação por outra?

Muitos poderiam dizer que procedendo desta forma estariam adquirindo novos enunciados de informações que poderiam facilitar a sua vida. Mas, quem disse que a informação do outro será melhor? Quantas vezes já não nos deixamos levar pelo que os outros falam para fazermos (conselho) e quebramos a cara? Portanto, trocar a sua verdade relativa pela do outro nem sempre é benéfico à sua felicidade.

O que estou querendo dizer com tudo isso? Muito se fala sobre caminhada espiritual. Caminhar é andar, é avançar. No caso da busca espiritual, o problema não é caminhar, mas para onde se caminha, pois de uma forma ou de outra, todos caminham todo dia.

Caminhar é viver. Cada dia, hora, minuto ou segundo que o ser passa na carne está caminhando na sua encarnação. Agora, para onde caminha: para a sua realização pessoal, profissional, familiar ou espiritual?

Lembre-se do ensinamento de Cristo: não se serve dois senhores ao mesmo tempo. Ou seja, ou o ser caminha para uma realização ou para outra.

Por causa do ensinamento de Cristo, pergunto: qual o norte da sua vida? Obter a resposta a essa questão é algo imprescindível para a busca da elevação espiritual, pois muitas pessoas afirmam que caminham, mas não sabem para onde estão indo. Por isso, não sabem o que usar como corrimão, como apoio, como referência para sua caminhada.

São esses dois fatores (não saber para onde caminha e no que se apoiar para caminhar) que levam o ser humano a ficar buscando novos conhecimentos. Viver assim pode levá-lo a vivenciar um grande perigo.

Que perigo é esse? O perigo de imaginar que está caminhando num sentido, com um destino, enquanto está caminhando para outro lado.

Quantos são os espiritualistas que por desconhecerem o objetivo de sua caminhada acabam encontrando ensinamentos que os apegam ao mundo material? Caminham imaginado que estão no sentido do espiritual, mas estão indo no sentido oposto. Pensam que estão andando num sentido, mas acabam sendo direcionados para outro por causa de uma informação que buscou e achou.

A busca pela verdade como hoje é feita, então, é infrutífera – porque ela não existe e não há ninguém que possa ensiná-la – e é perigosa, pois pode levar o ser a caminhar por um caminho que não leva à união com Deus. Mas, apesar disso, os seres humanos continuam imaginando que precisam de verdades para caminhar.

Por isso pergunto: que tal construir suas próprias verdades? Sim, se você precisa de uma verdade como corrimão (guia) para a sua caminhada, porque você mesmo não as constrói?

Alguns podem ficar estarrecidos com o que estou falando, pois afinal de contas somente as pessoas sábias podem construir verdades. Quem disse isso? Todos constroem o tempo inteiro as suas próprias verdades. Vamos conversar sobre isso.

O que é ler um texto? Realizar automaticamente uma interpretação do que é lido. Sempre que alguém lê um texto constrói uma interpretação sobre aquilo que está lendo. Essa interpretação é a verdade que cada um constrói a partir do que leu ou ouviu.

Para fazer essa interpretação levamos em conta o conjunto de conceitos (verdades) que temos em nossa memória. A ação de cada uma dessas verdades acaba construindo um sentido para o que é lido.

Se alguém, por exemplo, acredita na existência depois da vida humana e no processo de reencarnação, certamente terá uma interpretação (uma verdade) lendo um texto espiritualista; se não acreditar, com certeza alcançará conclusões (verdades) diferentes.

Acontece que não existem duas pessoas que possuam em gênero, número e grau o mesmo conjunto de conceitos. Mesmo que diversas pessoas acreditem na reencarnação, esta crença é vivenciada de formas diferenciadas. Desta forma, mesmo os que acreditam nesta informação ainda terão conclusões diferenciadas sobre o texto espiritualista que usamos no exemplo. É por isso que é difícil encontrar duas pessoas que tenham a mesma opinião e que tenham chegado à mesma conclusão depois da leitura de um texto único.

Sendo tudo isso realidade, cada vez que um ser humano lê um livro constrói verdades para si. Ou seja, cada vez que lê um livro que um escritor escreveu, cria para si mesmo uma série de verdades que, aliás, nada tem a ver com o que o autor pensava. Portanto, criar suas próprias verdades é ler livros.

Acontece que agora a pouco disse que a busca pela verdade é infrutífera, pois ninguém a tem para dar. Como fica, então, o meu convite para você criar suas próprias verdades através da leitura de livros, ou seja, através da busca?

O problema não é buscar, mas onde buscar. Como também afirmei anteriormente, cada autor ao escrever um livro cria uma interpretação daquilo que foi ensinado pelos mestres da humanidade – Cristo, Buda, Krishna, Espírito da Verdade, etc. Ou seja, quando um ser humano forma verdades a partir do que foi escrito por um autor, já está exposto a uma verdade individual dele e não ao que foi ensinado pelos mestres.

Por isso convido vocês a fabricarem suas verdades a partir da fonte original. Lendo diretamente o ensinamento do mestre, com certeza estarão fabricando verdades mais fidedignas à ideia original e mais própria para a caminhada de cada um, pois será fabricada com os conceitos (aquilo que crê) individuais.

Por isso pergunto: porque ao invés de ficar procurando informações de escritores encarnados você não lê a Bíblia? Falo da Bíblia porque estou entre cristãos, mas posso também citar o Bhagavad Gita, os suttas budistas, os livros básicos do espiritismo, etc. Bebendo direto na fonte daquilo que diz acreditar, pouco importando o que seja, com certeza se libertará de diversas interpretações que não condizem com o que está escrito nos livros sagrados.

No entanto, se perguntar aqui quem já leu a Bíblia certamente poucos dirão que já fizeram isso. Por que não leram? Podem existir muitas justificativas, mas duas se sobressaem.

Primeiro porque a Bíblia está fora de moda. A Bíblia hoje é considerada pelo moderno espiritualista como algo inculto. É um livro que só serve para aqueles que não possuem cultura espiritual. Mas, será que é mesmo?

A Bíblia contém os ensinamentos de Cristo, que os espiritualistas também acreditam ser o mestre dos mestres. Será que só isso já não seria uma credencial que nos obrigaria lê-la? Seria. Mas os espiritualistas acham que ela não contém ciência necessária para lhes trazer sabedoria. Mas, é o contrário.

Ser sábio não é coletar verdades, que, como já dissemos, ninguém consegue obter. Ser sábio é saber colocar em prática os ensinamentos dos mestres. Sábio é aquele que vive a sua existência a partir dos ensinamentos do mestre no qual crê. Que fonte maior de guia de conduta moral podemos encontrar que não a própria Bíblia?

O outro motivo que os modernos espiritualistas dão para não ler a Bíblia é de que ela é muito grande e de difícil compreensão e por isso não têm tempo para lê-la. Afinal de contas eles têm que cozinhar, lavar, passar, arrumar a casa, cuidar dos filhos, ganhar o sustento com seu trabalho, têm que se distrair, se divertir… Têm tanta coisa para fazer que não sobra tempo para ler a Bíblia… Por este motivo, preferem buscar a verdade em livros mais didáticos ou em salas de aula de centros espiritualistas.

Quando falo em ler a Bíblia, no entanto, não estou dizendo que você tem que parar a sua vida e ficar o dia inteiro lendo-a. Não estou falando em quantidade de tempo que deve dispor para lê-la – duas, três, quatro ou dez horas – mas em outra coisa. Vou dar um exemplo.

Você abre a Bíblia e encontra em Mateus no capítulo 5, versículo 33 o seguinte texto:

“Vocês sabem o que foi dito aos seus antepassados: ‘não quebre a sua promessa, mas cumpra o que jurou ao Senhor que ia fazer’. Porém eu lhes digo: não jurem de jeito nenhum. Não jurem pelo céu, pois é o trono de Deus; nem pela terra, pois é o estrado onde ele descansa os seus pés; nem por Jerusalém, pois é a cidade do grande Rei. Não jurem nem mesmo pelas suas cabeças, pois vocês não podem fazer um só fio de cabelo ficar branco ou preto. Digam apenas ‘sim’ ou ‘não’, pois qualquer coisa mais que disserem vem do Diabo.”

O que está sendo dito aí? Não jure. Aprendeu isso? Agora feche a Bíblia e vá vivenciar este trecho. Ou seja, vá vivenciar todas as atividades que precisa fazer, só que sem se comprometer (jurar) por nada. Quando você vivencia o ensinamento no seu dia a dia está ‘lendo’ a Bíblia.

Viu como não leva muito tempo para ler a Bíblia? O problema é que os seres humanos não querem nem se dar ao trabalho de fabricar suas próprias verdades: preferem encontrá-las prontas…

Quando se entende o que é espiritualismo (busca do bem celeste), compreende-se que não se pode caminhar sem conhecer pessoalmente o caminho e sem andar por ele (colocar os ensinamentos em prática). Buscar a elevação espiritual é caminhar para Deus. Mas como se caminhar para Ele sem a prática dos ensinamentos que são o caminho? Hoje, dentro do moderno espiritualismo, caminhar para Deus é fazer cursos dentro de centros espiritualistas. Isso não é caminhar, mas ficar parado no mesmo lugar. Caminhar consiste-se na prática daquilo que se ouve, não de terceiros, mas dos próprios mestres.

Quando falo estas coisas, muitas pessoas imaginam que estou querendo que acreditem em tudo que digo, mas não é isso. Não importa o que você ouve ou onde ouça: o importante é no que acredita. Depois que acreditar, deve, então, buscar a prática daquilo. Deve caminhar, deve praticar o que diz ter aprendido e não ficar buscando mais coisas.

Entre as pessoas que me ouvem comumente, algumas conseguiram. Foram aquelas que ouviram e buscaram por na prática. As outras nada conseguiram. Muitas destas pessoas que não conseguiram até ouviram tudo o que falei, mas nada conseguiram porque ficaram apenas me ouvindo e não buscaram a prática do que foi dito.

Estas coisas que estou dizendo agora deveriam ser ditas a todos no primeiro dia que eles entrassem numa caminhada. Isso porque, de nada adianta buscar algo sem ter o compromisso consigo mesmo da prática daquilo que receber na busca. Quem não se compromete em praticar aquilo que recebe é como uma estante de livros que possui diversos ensinamentos, mas nada faz com eles.

Agora, se tudo isso é verdade, o importante não é estar aqui, frequentar um centro, ler ou buscar verdades. Até porque, como disse, ninguém pode lhe trazer uma Verdade Absoluta, mas apenas relativa, e esta você já tem. O importante é o que você vai fazer com aquilo que receber. Vai arquivar a verdade na memória como se guarda um livro já lido numa estante e buscar outra? Se fizer isso, ninguém pode criticá-lo, pois é seu direito fazer o que quiser. Mas, se agir desta forma tenha a certeza que não chegará a lugar algum.

Quer caminhar para frente? É preciso, então, antes de qualquer busca, comprometer-se consigo mesmo a colocar em prática aquilo que recebe. Recebendo uma informação, seja pela Bíblia, Livro dos Espíritos ou qualquer outra fonte, pare tudo e vá praticar aquilo que recebeu. Pare de buscar outra coisa e concentre-se em cada momento do seu dia para tentar colocar em prática aquilo que recebeu. Só depois de alcançar esta prática, vá então fabricar uma nova verdade.

Mas, para poder alcançar isso, é preciso gerar outro compromisso com você mesmo: parar de buscar. Vocês já estão nesta roda de busca de informações sobre elevação espiritual há muito tempo. Todos que aqui chegam já passaram por diversos lugares e doutrinas. Por isso me arrisco a dizer: possuem dentro de si um cabedal de informações muito grande. O que estão fazendo com o que já receberam? Nada…

Por que não fazem nada com o que já têm? Porque continuam procurando coisas novas… Estão sempre procurando se existe uma informação mais ‘verdadeira’ ou mais fácil de ser praticada e não fazem nada com o que já têm.

Estou criticando alguém por agir assim? Não. Como já disse, todos têm o direito de apenas buscar, se assim quiserem. O problema é outro… O problema é que muitas vezes nesta busca acabam encontrando informações que destroem ou põe em dúvida a verdade que já têm.

A busca pela verdade é danosa para aquele que quer se elevar, pois ela age como um entrave para a caminhada. As pessoas estão sempre procurando algo mais ‘verdadeiro’ do que aquilo que já têm, mas agem assim porque não compreendem que ‘verdadeiro’ é só aquilo que cada um disser que é.

Portanto, depois que fabricar a sua verdade, pare de buscar informações, pois você já chegou à verdade máxima daquele assunto. Se mesmo assim alguém insistir em lhe ensinar algo, diga: ‘muito obrigado, eu já sei a verdade sobre este assunto; é aquilo que acredito que é’.

Participante: então, a essência sobre a verdade é que ela é apenas aquilo que acreditamos que é. Como o senhor já disse antes, o que importa é a essência das coisas. Será que não poderíamos apenas viver da essência das coisas?

Impossível, porque senão teria que haver uma essência para a essência que vocês vivessem.

Por favor, parem de tentar encontrar caminhos. Parem de tentar encontrar saídas diferentes da prática do ensinamento. O ensinamento diz que você já é tudo o que é, viva isso. Não fique tentando encontrar novas verdades, tentando criar caminhos que não seja aquele ensinado pelos mestres.

Krishna nos ensinou que cada um age segundo a sua própria natureza. Portanto, não há como se criar uma natureza diferente daquela que você já tem para agir.

Pare de ficar buscando verdades ou novos conceitos, porque não há verdades que se encaixem melhor na sua caminhada do que aquelas que já tem. São elas que vão servir como seu guia na sua caminhada.

Enquanto ficam procurando novas verdades para lhes guiarem, não caminham.

Ao invés de caminharem com o que têm, ficam esperando chegar uma verdade para caminhar. Só que, como não confiam nas verdades que têm, nunca caminham e continuam sempre buscando novas.

Participante: essa ânsia de buscar novas verdades é uma tentação da mente?

Sim.

Ela cria a informação de que existe um ensinamento muito bom de um novo mestre que precisa ser conhecido para que você se eleve e cria a ansiedade de buscá-la. Enquanto vive isso como verdade não faz nada para caminhar para Deus.

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