Participante: um aparte, Joaquim. Uma pessoa fala que o instinto nunca se engana, que ele é feito para satisfazer as necessidades. Seriam essas necessidades do corpo, por exemplo fome, ou do espírito?
Do espírito.
A necessidade do espírito não tem nada a ver com comer. Comer é ato. O ato que faz é Deus.
Participante: e a fome?
A fome é ato.
A fome está dentro dos assuntos que vamos conversar hoje. A fome acontece dentro da narração da vida.
Participante: pergunto porque a impressão que tive foi que ela estava falando do instinto para satisfazer as necessidades do corpo.
O animal não tem necessidade nenhuma. Ele não come por fome, por necessidade. Ele come porque come.
Participante: como não tem fome?
Vocês não conseguem imaginar isso. Como não ter fome, não tendo.
Fome é um raciocínio. Por isso o ter fome, sentir fome, passar fome, o achar errado fome, é um ismo.
Participante: então, quando o cachorro está magro, na rua, procurando comida, isso não é fome?
Não, isso é falta de comida, não fome. O cachorro não tem a fome, a busca, o dizer ‘meu Deus, eu preciso comer’, ‘eu tenho que comer’.
Participante: então, ele não tem raciocínio?
Isso, a fome é um raciocínio. Se ele está magro, não é porque tem fome, mas porque não come.
Participante: e o não comer não desperta esse instinto da fome?
Não, no instinto não, pois o instinto não raciocina.
O problema é que vocês nem fazem ideia do que é instinto. Vocês não sabem o que é ser sensitivo. Por quê? Porque, para vocês, tudo é racional, tudo é raciocinado. Tudo é preso a uma lógica humana, como você acabou de falar.
Participante: e esse não comer não desperta a fome?
Não, pois não existe fome no instinto.
A fome é fruto de uma análise, é racional. Isso é diferente de instinto. É por isso que vocês e eles são animais diferentes.
O ser humano é considerado um animal racional,. Isso quer dizer que ele raciocina, ou seja, sabe quando tem fome, quando está doente, quando está cansado. Ele sabe: isso é o fruto do raciocínio.
O raciocínio é que gera o saber, o instinto não gera saber nada.