Participante: Mas, se você diz que temos que aprender para nós mesmos, como diz que todo aprendizado só serve para alimentar o ego? Conforme você afirmou, enquanto eu desejar a minha elevação não conseguirei. Para procurar mudar temos que conhecer os caminhos antes de ir e para isso precisamos desejar conhecê-los.
Conhecer um caminho é uma coisa; desejar seguir este caminho é outra. Veja: tudo que nasce como fruto de um desejo, de uma vontade, é dualista, ou seja, pode acontecer ou não. Se acontecer, você tem prazer (eu queria e consegui); se não acontecer, você sente dor (eu não queria e aconteceu). Portanto, tudo que é dual não pode levar à felicidade incondicional.
Aliás, esta é a segunda observação que Buda fez e que o levou à elevação espiritual: tudo é sofrimento. Na “Primeira Nobre Verdade” Sidarta Gautama diz o seguinte: estar com quem se quer é sofrimento, mas não estar também é. A não aproximação de Deus (sofrer) não se contempla por estar ou não, mas apenas por desejar estar.
Quem deseja estar e consegue realizar seu desejo, tem prazer; quem deseja e não consegue, tem dor. Em todos os dois casos a bem-aventurança ou felicidade incondicional não foi alcançada.
Portanto, o que precisa ser eliminado não é o estar ou não, mas o desejo. Retirando-se este elemento que o ego dá aos seres humanizados, não importa o que aconteça, a felicidade, a paz de espírito e a paz estarão presentes junto ao ser humanizado.
Desta forma todo meu ensinamento, tudo que conversamos, não pode ser para lhe criar obrigações, ou seja, gerar paixões, pois elas são as raízes dos desejos. Eles devem servir para eliminar paixões e não criá-las. Aliás, eu já disse: elevação espiritual não é acréscimo, é destruição, destruir o que já tem.
Portanto, na hora que você conviver no momento que está “fraca” com relação à elevação espiritual (não conseguiu realizar os ensinamentos) e no que estiver “forte” sem alterar o estado de espírito, o ânimo, alcançou a elevação. Agora, se você tiver o desejo de realizar sempre, só estará feliz quando tiver “forte” (houver conseguido por em prática) e, desta forma, nada conseguiu na verdade: apenas contentou uma paixão e gozou o prazer de viver aquilo que queria.
Buda e Krishna têm uma palavra para definir a forma “correta” de se relacionar com os acontecimentos da vida: equanimidade. Ser equânime com a vida, ou seja, viver com o seguinte estado de ânimo os acontecimentos de sua existência: “eu queria a minha elevação espiritual, mas fiz esta besteira aqui; louvado seja Deus”. Você não sofre, mas vive harmonicamente com as suas “besteiras”.
Agora, se você se prender ao querer fazer certo (uma paixão) e cometer “erros”, o que certamente fará, terá o seguinte estado de ânimo: “eu sou uma “droga”, não presto para nada”.
Não adiantou nada querer a elevação espiritual, querer fazer diferente. Aliás, o querer, a padronização de ação, é que lhe fez ver a “droga” que você fez, pois se estivesse sem querer nada agiria de forma equânime: “tanto faz eu ter feito como não ter”.
Por isto é que afirmo: a elevação espiritual só vai acontecer quando se libertar de tudo que tem dentro da mente como padrões e verdades, inclusive os ensinamentos que passei.
Na verdade, tudo que eu falei, não é obrigação: é caminho. Caminho que é precisa ser vivenciado com consciência amorosa e com fé em Deus. Não se trata de um caminho cultural, uma sabedoria, informações técnicas.
Na hora que vocês compreenderem isto, jogarão todas as técnicas que debatemos todos estes anos e viverão, na alegria ou na tristeza, na doença ou na saúde, na pobre ou na riqueza, com felicidade incondicional.
A elevação espiritual, aliás, é como um casamento: você casando-se com Deus.
Participante: Isto que o senhor está ensinando é incompreensível para mim. O que estou fazendo aqui se não tiver a intenção de evoluir, de melhora, de avançar? Eu não consigo entender e acho que a maioria das pessoas não consegue também. Será que não está na hora de nós entendermos ainda?
Vou lhe dizer apenas uma coisa: não venha para cá com intenção de evoluir: venha por amor a Deus. Não venha para cá: esteja aqui. Esta é a diferença.
Enquanto você vier para cá, está subtendida uma intenção individual; na hora que estiver aqui porque Deus lhe colocou aqui e pelo amor que nutre por Deus ouvir o que eu tiver que dizer, ele não entrará como cultura, mas como ensinamento, como amor de Deus.
Mas, enquanto você viver aqui, ou seja, prender à hora, ao dia, à obrigação de estar aqui, estará realizando o que quer, mas não vindo aqui com Deus. Está vindo aqui com seu individualismo.
Acho que este ensinamento ficou muito claro durante a realização de “Terceira Jornada Espiritualista” em Uberlândia quando disse para uma pessoa que havia uma psicografia a ser feita e ela não conseguiu escrevê-la. E não conseguiu porque ela esqueceu que aquela reunião não era uma aula para ela ir, mas um ato de louvor a Deus. Ela ao invés de ligar-se a Deus estava ligada nela e em mim.
Participante: A evolução espiritual, na realidade, é mais uma realização que alcançamos se agirmos em uma determinada direção. Ela não pode ser uma meta. Na realidade ela será a consequência da realização de um determinado caminho trilhado. Ou seja, a evolução espiritual será conquistada por trilhar-se determinado caminho. Até porque não se sabe também como é a evolução espiritual para cada um.
São coisas diferentes que você está falando. Primeira coisa é o que você chamou de objetivo de vida, de meta: isto é preciso ter. Não como desejo, mas como fundamento, como o que objetiva para esta vida.
Participante: O que eu entendi que o senhor falou hoje é que estamos aqui para decidir esta meta. Neste momento justamente o objetivo é decidir esta meta, que é o procurar a Deus.
Eu não diria que você nasceu para decidir isto: esta decisão você já tomou antes de encarnar. Deixe-me deixar isto bem claro, porque esta pergunta é fundamental.
Eu disse assim: você vem à carne para provar a Deus que é capaz de buscá-Lo. A partir desta afirmação você me diz que esta encarnação tem como objetivo decidir buscar a Deus.
Não foi isto que quis dizer, pois você já decidiu que ia buscar a Deus antes da encarnação. Aliás, você só está na carne porque se declarou apto e decidido por Deus.
É isto que eu quis dizer quando afirmei anteriormente que todos que estão encarnados têm a condição de realizar a reforma íntima. Se você, no mundo espiritual, antes de vir para carne, não tivesse optado pela busca a Deus não estaria encarnado. A opção de buscar a Deus, portanto, você fez antes desta vida.
Depois que encarna, o que você vem fazer aqui é provar se vai manter esta opção ou não. É diferente do que tinha compreendido: você não tem que optar por Deus depois de encarnado, porque já o fez.
O que irá provar nesta encarnação é se você é um espírito “de palavra”, que cumpre seus acordos. Fora da encarnação optou por Deus e agora vai provar a Deus que tem palavra e passar por todas as tentações sem murmurar, sem abandonar o caminho estreito.
É completamente diferente do que você falou (agora vou optar por buscar a Deus ou não): esta opção você já fez antes da encarnação, senão não estaria na carne. Você agora veio provar a Deus que é capaz de manter a sua opção espiritual.
Este é o primeiro detalhe da sua pergunta. Segundo: ninguém conquista elevação espiritual, mas a recebe de Deus. Isto porque elevação espiritual é uma graça de Deus dada a você.
Posso lhe dizer que a elevação espiritual é recebida quando você atinge um estado de inércia espiritual. Não estou falando de inércia material, ou seja, praticar atos.
Quem se eleva espiritualmente continua praticando atos físicos, mas não tem atividade espiritual, ou seja, não exerce o livre arbítrio para escolher entre o bem e o mal.
Quem consegue receber a elevação espiritual é porque silenciou o poder adquirido por ter se alimentado do fruto da árvore do conhecimento, ou seja, ele não escolher mais entre o “certo” e o “errado”, o “bom” ou o “mal”.
Quem vive desta forma está preso unicamente na frequência do amor. Ele não tem atividade espiritual, ou seja, não fica mudando de frequência sentimental (gostar ou não gostar, satisfazer-se ou não).
Isto é a elevação espiritual, ou seja, um estado de espírito que é dado ao ser humanizado pela graça de Deus. Mas, você só chegará a esta frequência quando provar a Deus que é um homem de palavra e Ele lhe levar a esta frequência.
O desejo de atingir esta frequência ainda é um trabalho numa frequência “muito mais baixa” que a do amor universal. Você precisa eliminar o desejo para poder ser levado por Deus para a frequência do amor.
Então, são duas coisas na sua pergunta. Agora, uma coisa é fundamental ser compreendida em tudo isto: você é capaz de receber de Deus esta graça.
O fator mais importante para tanto, optar por Deus, você já realizou, porque o fato de estar na carne comprova que se sentiu capaz de provar a Deus que saberia honrar a sua opção.
É baseado nesta realidade que muitos apóstolos falam em viver para honrar a Deus, mas na verdade é viver para honrar a sua opção por Deus que fez antes da encarnação.
No entanto, chega na carne você não honra a sua palavra: opta pelo seu individualismo, pelo prazer, pela satisfação, por ser o “dono do mundo”.