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Na parábola dos trabalhadores da plantação de uva há a informação que Deus dá a cada um conforme combinado antes da encarnação. Só isso já bastaria para a compreensão de que o ser humanizado não deve pedir nada além daquilo que recebe. Mas, Cristo é mais direto nesse texto. Diz aos que pedem mais: você está com inveja.
Sim, quem pede a Deus aquilo que não recebe da vida está com inveja do outro. Demonstra que queria ganhar mais do que o próximo: isso é inveja.
Portanto, através dessa parábola de Cristo, podemos ver bem claramente a história que cada um recebe aquilo que foi acordado antes da encarnação. Mas, nessa parábola ainda há mais. Vamos continuar lendo-a.
E Jesus terminou dizendo: Assim, aqueles que são os primeiros serão os últimos e os últimos serão os primeiros.
Nessa parábola há dois ensinamentos. O primeiro afirma que cada um recebe o pactuado e um segundo que nasce da revolta de sentir-se passado para trás. Na primeira parte falamos do pedir, nessa segunda vamos falar da imaginária justiça que cada ser humanizado acha que tem, mas que na verdade é uma expressão do egoísmo.
O que o ser humanizado acha justo não é, já que a sua justiça é calcada em cima dos seus desejos e paixões. Portanto, é um egoísmo.
No caso dessa parábola, aqueles que foram contratados primeiro achavam que deveriam receber antes e que isso seria justo. Mas, como diz o dono da plantação: eu pago o valor pactuado na hora que acho que devo pagar e você não deve me dizer quanto devo pagar e nem quando fazer isso.
Mas, não para por aí o ensinamento da parábola. Cristo conclui o ensinamento dizendo: aquele que acha que deve ser o primeiro será o último e aquele que está por último será o primeiro no reino do céu. Vamos entender isso.
O mestre nazareno não está falando da ordem de recebimento, mas do anseio de querer receber primeiro. Está dizendo: aqueles que querem receber primeiro serão os últimos no reino do céu e aqueles que não se preocupam em receber antes, receberão primeiro. Este é o ensinamento de Cristo e se ele é uma forma de amar, precisamos compreende isso perfeitamente.
O que é o anseio de querer ganhar, de querer receber antes dos outros? Egoísmo.
O ser se humaniza justamente para se libertar do egoísmo. Todos encarnam para se libertar do egoísmo. Se isso é verdade, aquele que dá asas ao egoísmo é quem não aproveita a encarnação como instrumento da elevação espiritual.
É por isso que é o último no reino do céu. Como pode receber antes se não realizou a reforma íntima? Reforma íntima trata-se exatamente disso: reformar o seu interior que é predominantemente egoísta.
Não estou falando de ser egoísta como mau ou coisa feia. Estou falando de uma característica de um ser humanizado. Todo espírito humanizado é, por natureza, egoísta, pois parte sempre do eu, dele mesmo. Tudo que trabalha mentalmente é fruto de desejos, de paixões e de posses que são expressões do egoísmo.
Repare no que você pensa. Veja se não há essa lógica no seu raciocínio, ou seja, tudo que acredita está certo e tudo o que quer merece receber. O que pensa sempre espelha o que quer e não querer o que não quer. O que pensa que acredita sempre está certo e o que os outros falam sempre está errado.
É isso que o ser humanizado precisa entender. Pouquíssimos aceitam aquilo que não querem sem expressar a sua dor por isso. Pouquíssimos aceitam libertar-se de querer ganhar para dar ao outro o direito de também receber.
Saiba de uma coisa: a vitória de um ser humanizado é a derrota de outro. Não existem dois seres que queiram a mesma coisa com a mesma intensidade (gênero número e grau) e no mesmo momento. Por isso não há dois iguais. Como todo pensamento do ser humanizado fundamenta-se em querer o que quer, na hora que quer e com a intensidade que quer, ele não dá ao próximo o direito de querer, de ter a sua vontade satisfeita.
É isso que Cristo está ensinando quando fala que o primeiro no reino da terra será o último no do céu. Ou seja, aquele que anseia em ganhar, em receber, em ter prazer, em ser reconhecido como uma pessoa certa, inteligente, bonita e aquele que luta para receber o elogio, será o último a receber no reino do céu, pois não trabalhou o seu egoísmo e deu asas a ele vivenciando a ansiedade que a personalidade humana cria.
Agora aquele que, apesar dos pensamentos desejarem, não ansiar por ganhar, ou seja, não se revoltar e não lutar para exigir da vida que pague mais e antes dos outros, será o que mais receberá no reino do céu. É assim porque esse fez a sua reforma íntima, alcançou a sua evolução espiritual e amou a Deus acima do seu desejo e amou o desejo do próximo tanto quanto amou o seu.