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Acabei de dizer que o problema não está no que você faz, mas sim em ao apegar-se ao que a mente cria quando afirma que determinadas atitudes humanas são bem, ou seja, servem como instrumento da elevação espiritual. Se o anseio do espírito é diferente daquele que a mente possui, o que é criado pela mente não pode ser bem. Falei também da questão do não comer carne. Quem não se alimenta de carne, os vegetarianos, e se diz espírita ou espiritualista acha que tal atitude contribui para a elevação espiritual. Mas, será que é mesmo? Vamos ver isso…
Saibam de uma coisa: Deus não tem tempo para jogar fora. Por isso ele não cria nada no Universo que lhe sirva apenas como distração ou entretenimento. Sendo assim, tudo o que existe no Universo tem uma razão de ser, de existir.
Quando se fala em elevação espiritual, não pode se esquecer dos acontecimentos do Jardim do Éden descritos na Bíblia. Isso porque, como já dissemos, todo o processo encarnatório foi criado pelo simbolismo desta passagem bíblica. Quando se pensa a respeito dos animais neste sentido, vamos encontrar a informação que Deus criou os animais do pó e entregou-os ao homem para que este desse nome a eles e para que os animais o servisse.
A partir desta análise, temos, então, dois grandes aspectos a considerar. O primeiro diz respeito à semelhança entre homem e animal. Os dois foram criados do pó e no próprio jardim. O que quer dizer isso? Que os dois estavam no paraíso e foram criados por elementos da Terra (o pó). Sendo assim, posso dizer que os dois são instrumentos da elevação de espíritos.
Sim, os animais possuem espíritos assim como a forma humana:
“597. Pois que os animais possuem uma inteligência que lhes faculta certa liberdade de ação, haverá neles algum princípio independente da matéria? Há e que sobrevive ao corpo”.
Sendo eles, então, algo além da matéria, terão um processo de elevação?
“602. Os animais progridem, como o homem, por ato da própria vontade, ou pela força das coisas? Pela força das coisas, razão por que não estão sujeitos à expiação”.
A partir destes conhecimentos trazidos pelo Espírito da Verdade podemos mudar um pouco a visão que os seres humanos têm sobre os animais. Eles não são criaturas inferiores, simples e puras que quando agem de uma forma violenta o fazem apenas para se alimentar. São espíritos que estão vivendo uma encarnação onde há um processo de elevação que é vivenciado pelo acontecimento das coisas. Que coisas são essas? O que lhe sucede durante a vivência daquela forma.
O cachorro cuidado com todo carinho tem uma vivência que lhe serve de instrumento para a elevação espiritual, já aquele que vive na rua tem outra para a mesma finalidade. O animal selvagem que é capturado e domesticado tem a sua própria vivência, enquanto que os que vivem solto na natureza têm a deles. Quanto ao boi, objeto desta nossa conversa, ele tem outras. Qual a vivência do boi? Vamos falar sobre isso…
Todo processo de elevação é sempre vivido através da convivência com outros seres, sejam eles iguais ou diferentes. O processo elevatório do boi passa pela sua convivência com outros animais, mas também pela sua vivência com o ser humano. É neste ponto que está o segundo aspecto da análise da parábola da criação dos animais no Jardim do Éden.
Todos os animais foram criados para servir o homem, ou seja, interagir na encarnação com o homem servindo-o de alguma forma. O cachorro diverte e traz sensações de companheirismo, os animais selvagens nutrem o medo e o fascínio. Como o boi serve ao homem na interação que caracteriza a sua encarnação? Ajudando-o como força motriz e dando-lhe o alimento.
Aí está a interação que caracteriza a encarnação dos seres como bois e homens. O primeiro serve ao segundo ajudando-o com sua força e fornecendo alimento para nutrir o corpo do segundo. Este alimento é o leite e a própria carne.
Se olharmos pela parte do boi aqui se encerra a influência desta relação na sua encarnação. Isso porque sua mente não possui um processo interpretativo (raciocínio). Para o homem, ser dotado do raciocínio, só o que falamos não encerra toda a influência desta relação no processo de elevação.
Para conhecermos profundamente os efeitos da relação boi/homem no tocante à elevação espiritual temos que acrescentar ao que foi dito a questão das interpretações que a mente cria. Ou seja, o processo de provação do espírito encarnado vai além do simples fato de alimentar-se ou não com a carne: ele precisa ser analisado no tocante ao que a mente do ser humanizado fala disso.
Chegamos, pois, aos vegetarianos. Ser vegetariano é acreditar numa mente que diz que comer carne é errado e algo não elevado. Mas, será que é isso mesmo? Acho que não… Vejamos…
Posso dizer que o boi precisa servir de alimento ao homem. Primeiro porque assim fazendo ele está cumprindo os desígnios de Deus (servindo). Dando sua carne para o alimento do ser humano ele está, então, cumprindo a sua parte na obra geral. Segundo: porque isso acontece…
Deus dá a cada um segundo suas obras: esta é a máxima que dirige os acontecimentos humanos. Tudo que acontece com cada elemento do Universo é o resultado (reação) perfeito de uma ação anterior. Isto não quer dizer que aquilo que cada ser vive é uma punição, mas nos faz entender que tudo que acontece está dentro da necessidade de cada um para a sua evolução.
Ora, sendo assim, se o homem consegue matar o boi é porque o espírito que está vivenciando aquela forma como etapa da sua evolução precisa dessa vivência para a sua elevação. Se ele não servisse ao homem desta forma, não teria condições de evoluir…
Voltamos ao mesmo tema da conversa de hoje: não seria válido pensar que o espírito pedisse as provas menos dolorosas? Só os humanos que estão presos aos anseios humanos pensam assim… O espírito que vai encarnar como boi pede não aquilo que lhe seja mais cômodo viver, mas aquilo que precisa para a sua evolução espiritual.
Diante tudo isso eu afirmo que a lógica nos diz que a verdade sobre este tema é que o fato de abster-se de alimentar de carne é desonrar a encarnação do boi. É atrapalhar o processo evolutivo daquele ser. Como isso não é possível, os homens se alimentam da carne do boi…
Mas, como dissemos, o processo evolutivo do homem não se restringe aos acontecimentos, mas é vivido também pelas interpretações que a mente faz sobre o assunto. Como para poder haver a opção que determina o aproveitamento da oportunidade da encarnação é necessário que haja duas opiniões opostas. Sendo assim, algumas mente, de acordo com a provação de cada ser, cria a ideia de que é certo se comer a carne enquanto outras afirmam que isso é um crime.
Com estas duas criações se gera o bom e o mal e o ser humanizado que não vê o bem (a realidade das encarnações como conversamos) acaba apenas escolhendo entre uma delas. O bem, neste caso, é saber que não há nada errado em se comer a carne do boi e não há certo ou elevado no fato de se comer. É ter a consciência de que os bois que forem vivenciados por espíritos que pediram para ser comidos serão, enquanto aqueles que não pediram isso não viverão tal acontecimento.
Se todos comessem a carne do boi ou se todos não a comessem não haveria as opções e com isso não haveria condições de aproveitamento da encarnação. Por isso nem uma coisa nem outra é certa. O perfeito é alguns praticarem esta ação e outros não e ter cada um a sua opinião, pois assim há oportunidade de escolha que leva à elevação espiritual daquele ser que está encarnado como humano e do outro que está encarnado como boi.
Apenas para completar o assunto e tentar dar uma mostra do que a ação humana poderia causar ao Universo se ela fosse feita apenas por aquilo que a mente diz que é bom, deixe-me dizer uma coisa aos vegetarianos: se o boi não fosse comido, ou seja, se essa ação que marca uma encarnação não acontecesse, a raça humana poderia ser extinta.
“607. Dissestes (190) que o estado da alma do homem, na sua origem, corresponde ao estado da infância na vida corporal, que sua inteligência apenas desabrocha e se ensaia para a vida. Onde passa o Espírito essa primeira fase do seu desenvolvimento? Numa série de existências que precedem o período a que chamais de humanidade”.
.”607 a. Parece que, assim, se pode considerar a alma como tendo sido o princípio inteligente dos seres inferiores da criação, não? Já não dissemos que tudo em a Natureza se encadeia e tenda para a unidade? Nesses seres, cuja totalidade estais longe de conhecer, é que o princípio inteligente se elabora, se individualiza pouco a pouco e ensaia para a vida, conforme acabamos de dizer. É de certo modo, um trabalho preparatório, como o da germinação, por efeito do qual o princípio inteligente sofre uma transformação e se torna Espírito. Entra, então, no período da humanização, começando a ter consciência do seu futuro, capacidade de distinguir o bem do mal e a responsabilidade dos seus atos”.
Pois é, o animal é uma etapa do espírito na sua eterna jornada pelo Universo. Quando habitando este reino ele precisa vivenciar encarnações onde determinados acontecimentos são necessários. Vivendo aquilo que precisa ele se evolui e um dia pode, então encarnar como ser humano. Castrando-se, se possível fosse, elementos da encarnação de um espírito no reino animal, o processo evolucionário do ser não estaria completo e, com isso, haveria a impossibilidade de um dia ele viver a humanidade.
Por este motivo é necessário que o boi seja comido por algumas pessoas. E, para a prova do espírito que agora encarna como humano, é preciso que alguns achem certo isso e outros achem errado. Tendo esta vivência há a oportunidade de um dia o espírito que agora se orgulha de ser humano surja no Universo em novo processo encarnatório num reino que ainda não existe na Terra.
Esta é a compreensão que todos os espiritualistas e espíritas deveriam ter sobre tema, já que dizem acreditar nos ensinamentos de O Livro dos Espíritos. Mas, apesar disso, muitos ainda continuam confundindo o bom com o bem. Para estes um grande recado do Espírito da Verdade:
“Assim, à fase da infância se segue a da adolescência, vindo depois a da juventude e da madureza. Nessa origem, coisa alguma há de humilhante para o homem. Sentir-se-ão humilhados os grandes gênios por terem sido feitos informes nas entranhas que os geraram? Se alguma coisa há que lhe seja humilhante, é a sua inferioridade perante Deus e sua impotência para lhe sondar a profundeza dos desígnios e para apreciar a sabedoria das leis que regem a harmonia do Universo. Reconhecei a grandeza de Deus nessa admirável harmonia, mediante a qual tudo é solidário na Natureza. Acreditar que Deus haja feito, seja o que for, sem um fim, criando seres inteligentes sem futuro, fora blasfemar da sua bondade, que se estende por sobre todas as suas criaturas”. (pergunta 607 a).