Participante: quer dizer que eu não posso rezar?

Pode. Você pode fazer tudo o que fizer. Só não pode é perder o foco da vida.

Se você se diz espiritualista, que acredita haver em si algo além da matéria, acredita que continuará a existir mesmo depois que esta vida acabe, é preciso que foque a sua existência neste algo mais. Se não fizer isso, não aproveitará a oportunidade da encarnação e quando for este algo mais que acredita ser se lamentará pelo tempo perdido.

Quem perde o foco da vida acaba preso aos anseios humanos que nada tem a ver com os espirituais (pergunta 266 de O Livro dos Espíritos), prende-se aos sistemas humanos e por isso vive exigindo da vida determinados acontecimentos. Estes acabam se prendendo inexoravelmente ao processo místico como ele é vivido pelos seres humanizados.

“264. Que é o que dirige o Espírito na escolha das provas que queira sofre? Ele escolhe, de acordo com a natureza de suas faltas, as que levem à expiação destas e a progredir mais depressa. Uns, portanto, impõem a si mesmos uma vida de misérias e privações, objetivando suportá-las com coragem; outros preferem experimentar as tentações da riqueza e do poder, muito mais perigosas, pelos abusos e má aplicação a que podem dar lugar, pelas paixões inferiores que uma e outra desenvolvem; muitos, finalmente, se decidem experimentar suas forças nas lutas que terão que sustentar em contato com o vício”. (O Livro dos Espíritos)

A vida, como já vimos, existe por causa do espírito. Ela é totalmente programada por ele e para ele, para o bem-estar dele, para a sua provação. Por isso, ela não se prende a questões como satisfações pessoais ou defesas de patrimônios particulares. Ela atende apenas ao que o espírito precisa e se constitui daquilo que ele anseia que aconteça para que possa aproveitar a oportunidade da encarnação.

Quando o ser se humaniza e perde o foco da vida, ele passa a viver como humano. Viver assim é ter anseios diferentes daquele que o espírito tinha antes da encarnação. Por causa destes anseios prende-se aos sistemas humanos que dizem dar àqueles que os seguem a felicidade. Baseado nesta promessa, o ser humanizado passa a exigir da vida o atendimento aos seus desejos e a defesa de seus interesses. Como não consegue sempre isso, lida com a espiritualidade de uma forma mística, ou seja, conferindo a ela poderes de fazer qualquer coisa para proteger seus interesses. Mas, isso não é real.

No Universo todos os seres que não estão encarnados ou são estudantes do processo evolucionário, e que por isso nada podem fazer para ajudar aquele encarnado, ou são espíritos superiores, que compreendem a necessidade do processo de provação e por isso auxiliam para que eles aconteçam.

Os espíritos fora da carne não se prendem aos anseios dos seres humanos, mas aos do espírito. Por isso, fazem acontecer aquilo que Deus mandar fazer sem se preocupar se com isso vão afetar às vontades do encarnado.

“Imaginamos erradamente que aos Espíritos só caiba manifestar sua ação por fenômenos extraordinários. Quiséramos que nos viessem auxiliar por meio de milagres e os figuramos sempre armados de uma varinha mágica. Por não ser assim é que oculta nos parece a intervenção que têm nas coisas deste mundo e muito natural o que se executa com o concurso deles”. (O Livro dos Espíritos, pergunta 525 a).

Quem perde o foco da vida acaba esquecendo-se que o objetivo dela é suportar as vicissitudes da vida sem murmurar. Por isso acaba transformando os seres místicos em mágicos que podem salvar seus interesses. Este é o problema de acreditar que a oração ou qualquer outra atividade mística serve de alguma coisa para o processo de evolução do espírito.

A elevação espiritual se conquista com a vida carnal, com a vivência dos acontecimentos do mundo carnal. Neste mundo, tudo o que é espiritual está oculto ao ser humanizado. Seria justo Deus criar o véu do esquecimento e depois fazê-lo dependente das informações ocultas para promover a sua provação? Seria a mesma coisa que no momento do exame se apagasse a memória de um aluno que estudou durante semanas para prestar um concurso. Seria justo ele passar boa parte de sua existência estudando e no momento da prova ela não fosse aplicada e o professor o mandasse estudar mais? Como, então, ele conseguiria aprovação?

Nada disso é justo e por isso é que durante a vida humana o espírito só tem que fazer uma coisa: responder ás questões da prova. Como isso é feito vivendo-se a vida carnal, a única coisa que importa para o ser neste momento é integrar-se perfeitamente a este mundo e observá-lo atentamente para poder responder às questões que se apresentam de forma producente para a sua existência eterna.

A provação só se faz na Terra e com os elementos dela. É por isso que viver a vida aprisionado a processos e seres místicos tira o foco daquele que se diz espiritualista. Aquele que ao contrário mantém seu foco no objetivo da existência humana, liberta-se destes processos e seres e foca-se na vivência dos seus acontecimentos a partir da sua realidade: a espiritual. Com isso compreende que não é um ser humano vivendo uma experiência espiritual, mas sim um espírito vivendo uma experiência humana.

Com isso, em vez de viver um acontecimento, vive uma prova. Com isso consegue entender o cabeçalho da questão que se apresenta e pode, então, reagir de um modo que consigam a sua aprovação espiritual.

Compartilhar