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Muitas vezes Joaquim tem se referido a história sobre usar ou não sapato. Este é o texto original.

Participante: meu caso específico e particular. Eu não posso entrar no meu serviço sem sapato e o sapato realmente aperta muito o meu pé. Como fazer?

A pergunta é interessante. Você não pode entrar no seu trabalho descalça e aí o sapato aperta o seu pé. Por que? Porque você gostaria de estar sem sapato, pois se sente bem descalça.

Então, com o desejo agindo e a lei bloqueando a realização dele, o sofrimento ocorre inexoravelmente. Na hora que você se conscientizar de que é impossível estar ali sem sapato e eliminar o desejo de, naquele momento, estar descalça, anulará o desejo.

Silencie o ego que naquele momento está lhe dando o desejo de ficar descalça dizendo para ele que quando estiver fora dali tirará o sapato, mas que naquele momento é impossível. Deste jeito você não sofrerá.

Participante: eu já fiz isso, não deu certo. Acho que a única solução é comprar sapato de um número maior…

A conversa com o ego deve ser feita através do coração (sentimentalmente) e não através da mente (racionalmente). É alterando-se o sentimento que com que se vive o momento, ou seja, aprendendo a amar a tudo e a todos (formação da “consciência amorosa da ação”) que se submete os desejos emanados pelo ego à realidade.

Quando você vivencia aquele momento sentindo-se coagida a andar de sapato (como você mesmo disse “eu sou obrigada a andar calçada no meu trabalho”) ainda sofrerá. De nada adianta querer falar com o ego racionalmente: o que precisa ser alterado é o sentimento, ou seja, ir trabalhar calçada sem sentir-se obrigada a isto. Mas, para isto será preciso que você aprenda a amar as restrições impostas pelo seu trabalho.

Quando falei em criar uma consciência amorosa de ação não disse que é amar apenas o que você gosta ou quer fazer, mas amar a tudo, inclusive as restrições impostas pelas leis. Lembre-se sempre que Cristo ensinou: se você ama apenas o que lhe ama, que vantagem leva sobre os pagãos?

Quando você ama a restrição elimina o desejo e com isto acaba o sofrimento. Sendo assim, quando você amar ir trabalhar calçada ao invés de ver nesta proibição um ato ditatorial do seu emprego e que você, como rebelde, precisa lutar contra, aprenderá a ir calçada sem sentir dor. Mas enquanto se sentir obrigada a ir, sofrerá.

Aliás, deixa dizer-lhe uma coisa: a dor não nasce no pé, mas no sentimento. Veja o exemplo de muitos que não possuem mais o pé, mas ainda sentem dor e coceira neste membro.

Observação: Que a dor é criada pelo ser humanizado mentalmente, mesmo que inconscientemente, foi conclusão que Allan Kardec chegou no estudo dos espíritos e, por isso, escreveu assim no seu “Ensaio Teórico da sensação nos Espíritos”: “O corpo é o instrumento da dor. Se não é a causa primária desta é, pelo menos, a causa imediata. A alma tem a percepção da dor: essa percepção é o efeito. A lembrança que da dor a alma conserva pode ser muito penosa, mas não pode ter ação física. De fato, nem o frio, nem o calor são capazes de desorganizar os tecidos da alma, que não é suscetível de congelar-se, nem de queimar-se. Não vemos todos os dias a recordação ou a apreensão de um mal físico produzirem o efeito desse mal, como se real fora? Não as vemos até causar a morte? Toda gente sabe que aqueles a quem se amputou um membro costumam sentir dor no membro que lhes falta. Certo que aí não está a sede, ou, sequer, o ponto de partida da dor” (Pergunta 257).

Mesmo que você compre um sapato de número maior, no seu sentimento criará a dor, porque não está indo calçada amorosamente, mas porque se sente obrigada a tanto. Portanto, o problema não é comprar um sapato de número maior, mas libertar-se emocionalmente da lei que você se escravizou.

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