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Participante: entendo o que você está falando. O início de tudo está no egoísmo. Ele gera um negócio que depois gera um monstro no final.

Isso. Tudo é decorrente de pensar a partir do eu buscando favorecer esse eu. Isso chama-se egoísmo.

Participante: pegando o gancho ainda da outra pergunta, às vezes magoamos outra pessoa, mas também temos que compreender que às vezes somos o agente do carma do outro.

Sim.

Sim, somos o agente do carma, mas tem alguns assuntos que estou achando melhor não tocarmos hoje, porque pode ser usado como comodismo.

Porque determinados assuntos podem levar ao comodismo? Porque extrapolam o nosso conhecer.

Você não faz a mínima ideia do que é carma, de como acontece, como é gerado e como é planejado. Por isso não é possível trabalhar com a questão do carma.

Participante: a ideia inicial é destruição.

Sim, a ideia é a destruição.

Participante: só que destruição leva a transformação. Sendo assim, se quero que tenha sol e não tem, vou transformar o meu querer no que tem para poder não me contrariar.

Está certo. Palavras são só palavras, por isso não tem problemas que palavras usar.

Só que de todas as palavras existentes para definir esse trabalho, prefiro a libertação. Na verdade, o trabalho é a libertação da exigência da condicionalidade.

Você prefere sol, gosta de sol, isso não tem problema nem precisa ser mudado. O necessário é se libertar da exigência que ele esteja presente todo dia.

Até querer que tenha sol todo dia não tem problema, pode querer. Não há a necessidade de se transformar. O necessário é a liberdade da obrigação de que ele esteja presente.

É por isso que prefiro chamar o trabalho de libertação, liberdade.

Tem uma palestra que fizemos há muito tempo atrás que se chama: Tem que ter para ser, tente ser para ter. Trata-se de um sistema que a mente utiliza na criação das coisas da vida.

É exatamente esse o problema: obrigações e necessidades. Vocês criam obrigações e necessidades individuais, relativas, para poder criar exigências para o mundo. Para quê? Para terem sofrimento quando a exigência não acontecer ou para ter o prazer quando acontece. 

Então o que precisa acabar, na verdade, o que precisa se libertar é da obrigação e da necessidade. É o que ele falou: dever dói. Dói, concordo, mas só para quem quer pagar em dia. Para quem acha que tem a obrigação e necessidade de pagar em dia.

É por isso que o trabalho é se libertar da obrigação de ter que pagar em dia. Porque não existe ninguém que nunca tenha atrasado algum dia.

Dentro do outro exemplo, nesse trabalho quando quero o sol e abro a janela e está chovendo, continuo querendo que tenha sol, mas paro de obrigar que a chuva pare de cair para que eu seja feliz.

Participante: quando estiver chovendo vou descansar para pegar sol amanhã.

Isso é um argumento que você pode usar para se libertar. Na verdade, cada um usa o seu.

Uma pessoa que mora no campo no início de nosso trabalho falou algo interessante. Lá é uma região de plantação, de lavoura. Ele disse quando estávamos usando o exemplo da chuva: ‘vocês na cidade acham que chuva é ruim, mas se não chover aqui, vocês não têm comida lá’.

Eis aí um argumento para ajudar a se libertar da obrigação do sol: ‘está chovendo para eu poder comer amanhã’. Tem o seu (queria sol, mas não tem, vou descansar hoje) e milhares que serão usados por cada um a cada momento.

O argumento não tem problema. O importante é entender que não pode aceitar as obrigações e necessidades que a vida cria.

Sabe o que é uma obrigação aceita? É uma semente plantada de onde vai nascer um pé de sofrimento.

Porque? Porque mesmo que se obrigue a ser, estar ou fazer de um jeito, muitas vezes não consegue. Mesmo obrigue aos outros fazer de um jeito, mesmo que aceitem sua obrigação, muitas vezes não vão conseguir.

Então, aceitando uma obrigação você está plantando sofrimento para amanhã. Com certeza vai sofrer.

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