Participante: então, como ficam todos estes ensinamentos que vocês têm passado. Não é isto que estão fazendo conosco, ou seja, nos chamando de errados e querendo nos mudar?

Não, nunca briguei com ninguém dizendo que estava errado. Quando aponto um modo de proceder sempre afirmo com a seguinte intenção: mostrar que o ser humanizado age desta forma e o ser espiritualizado age de outra.

Nunca obriguei você ou qualquer um abandonar a sua verdade, o seu modo de proceder, e adotar o que aponto como padrão (verdade) de vida. A intenção que está embutida em todos os meus ensinamentos é mostrar que se for por esse caminho chegará em determinado ponto, mas se for pelo outro, chegará a esse outro lugar. Depois que mostro os caminhos há uma opção sua fazer o que estou ensinando ou não.

Insistindo em fazer do jeito que está acostumada como humanizada, não serei eu que direi que está errada. Posso mostrar o fim da sua caminhada humanizada, mas nunca coagir a agir do jeito que aponto ou criticá-la quando não quiser agir dentro do procedimento que leve mais para perto de Deus.

Quer ver um exemplo? Quando fazíamos atendimento individualizado de apoio aos seres encarnados, havia uma pessoa que vinha rotineiramente com o mesmo problema pedir conselhos para sair de uma determinada situação. Todo trabalho essa pessoa me expunha o mesmo problema e eu dava o mesmo conselho. Ela nunca o seguia, apesar de entender que aquele era o caminho baseado no amor universal.

Acha que alguma vez a critiquei? Acha que alguma vez disse para que não mais daria o conselho, pois ela não me ouvia? Claro que não. A cada semana a rotina se mantinha, até que ela desistiu de procurar esse conselho em mim.

Eu nunca poderia dizer que ela estava errada ao agir do jeito que estava agindo, mas em nenhum momento me furtei de mostrar onde o seu modo de proceder lhe levaria e levou. Tenho a certeza que se houvesse optado pelo caminho que propus teria tido um futuro mais feliz. Mas ela não quis.

Vou criticá-la por isto? Não, foi opção dela.

Veja bem: opção dela, ou seja, exercício do livre arbítrio que Deus deu a todos os seus filhos. Você acha que eu posso criticar quem exerce um direito concedido pelo Pai? Criticá-la porque fez o que queria, seria o fim do amor a Deus e a ela, porque a base do amor universal é: todos são livres para fazer o que quiserem.

Essa liberdade foi dada por Deus. A mim cabe amar a todos do jeito que são, sem esperar que o próximo se mude para aquilo que acho certo para só então amá-lo.

Nós já falamos isso: se aqui comparecer um ser humanizado que é considerado bandido pela sociedade, será tratado da mesma forma que se um santo aqui comparecesse. Porque eu o amo agora e não preciso esperá-lo se redimir do que fez para que possa amá-lo. Amo-o do jeito que é, vivendo como vive.

Para entender o que estou dizendo, é só verificar a literatura espírita.

Observação: Um grande ensinamento a este respeito foi trazido por Francisco Cândido Xavier no livro “Coragem” que transcrevemos abaixo.

Conta-se que após Jesus haver lançado a parábola do Bom Samaritano, entraram os apóstolos no exame da conduta dos personagens da narrativa. E porque traçassem fulminantes reprovações, em torno de alguns deles, o Cristo prosseguiu no ensinamento para lá do contato público:

 – Em verdade, – acentuou o Mestre, – referindo-se ao próximo, até nas indagações do doutor da Lei, à frente do povo, a lição de misericórdia tem raízes profundas. Quem passasse irradiando amor na estrada, onde o viajante generoso testemunhou a solidariedade, encontraria mais amplos motivos para compreender e auxiliar. Além do homem ferido e arrojado ao pó, claramente necessitado de socorro, teria cuidado de apiedar-se do sacerdote e do levita, mergulhados na obsessão do egoísmo e carentes de compaixão; simpatizar-se-ia com o hoteleiro, endereçando-lhe pensamentos de bondade que o sustentassem no exercício da profissão; compadecer-se-ia dos malfeitores, orando por eles, a fim de que se refizessem, perante as leis da vida, e, tanto quanto possível ampararia a vítima dos ladrões, estendendo igualmente mãos operosas e amigas ao samaritano da caridade, para que se lhe não esmorecessem as energias nas tarefas do bem.

E, diante dos companheiros surpreendidos, o Mestre rematou: para Deus, todos somos filhos abençoados e eternos, mas enquanto a misericórdia não se nos fixar nos domínios do coração, em verdade, não teremos atingido o caminho da paz e do reino do amor.

Os grandes espíritos benfeitores do Senhor, quando se apresentam no planeta para auxiliar seres humanizados, os auxiliam no estado que estão. Os missionários não criam obrigações, necessidades de regeneração para auxiliar. Eles veem socorrer, bandido, assassino, prostituta sem cobrar mudanças, se essa for a missão deles.

Aliás, como Cristo ensinou: que atire a primeira pedra quem não tiver pecado. Ninguém teve coragem na frente do mestre de atirar a pedra e nem o próprio Cristo, que certamente teria elevação moral para condenar a mulher adúltera, criticou-a. Ele disse: se ninguém lhe acusa eu também não. Portanto, vá e não peque mais.

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