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Participante: uma dúvida. Tem hora que o senhor diz que não devemos ouvir o que os outros falam sobre nós. Em outras, o senhor diz que devemos ouvir. Eu estou na dúvida …
Uma coisa é ouvir o que os outros falam, outra é ouvir o que é dito. Sei que parece estranho, mas é isso mesmo.
Quando digo que vocês não devem ouvir o que os outros falam, estou querendo dizer que não devem levar em consideração o que é dito. Por exemplo, se uma pessoa diz que você não presta porque age desta ou daquela forma, não deve levar em consideração isso. Se levar, vai querer provar que o outro está errado e neste caso irá sofrer.
Agora, quando digo que devem ouvir o que é dito, não me refiro a ouvir o que os outros pensam sobre você, mas com o que o que foi ouvido está mexendo. Se a pessoa disser que você não presta, o que deve buscar é ouvir o que isto causou internamente, ou seja, com que pensamento aquilo foi recebido.
Ouvir o outro não é transformar o que lhe é dito numa verdade, mas sim compreender que Deus está colocando uma placa para lhe mostrar o que você precisa trabalhar. Só que o que Ele quer lhe mostrar não tem nada a ver com o que o outro falou, mas com a reação interna àquilo que foi dito.
Se uma pessoa diz que você está errada e isso lhe ofende, é preciso entender que o que foi dito é uma placa lhe mostrando que no íntimo tem motivos para viver como ofensa quando este assunto vem à baila. Entendido isso, você deve procurar o motivo que a levou a viver como ofensa o que foi dito.
Participante: não entendi …
Digamos que vocês estão aqui na reunião da sangha. Em determinado momento fala alguma coisa. Outra pessoa, então, rebate o que disse e, por causa disso, você se sente ofendida. Será que foi o que ela falou que lhe causou a ofensa? Acho que não.
O que pode lhe causar ofensa é o fato de não concordar com o que a pessoa falou ou não esperar que ela dissesse aquilo. Se você não discordar ou achar que ela não devia ter falado aquilo, jamais o que foi dito lhe causará ofensa.
A ofensa só existe porque você acha que está certa, porque possui algo dentro de si que trata como uma verdade absoluta, uma verdade verdadeira. Não havendo este tratamento para as suas crenças, o outro pode falar qualquer coisa, jamais você aceitará o sentir-se que a mente lhe servirá.
Portanto, não é o que o outro diz que lhe causa ofensa, mas sim o tratamento que você dá à sua verdade. Pouco importa qual expressão o outro use para falar, se não houver a ideia de que sabe a verdade, de que é certa, de que é boa, jamais você se sentirá ofendida.
É esta verdade que é tratada como absoluta que é apontada pela placa que Deus lhe dá. Ele faz o outro falar justamente contra as suas verdades enraizadas, contra aquelas coisas que você não quer abrir mão de saber.
O que estou falando é de algo que já estudamos há muito tempo: a raiz do sofrimento. Todo sofrimento se origina nas crenças que cada um tem e não no que outro diz ou faz.
Sendo assim, quando alguém fala algo o que você não gosta ou não queria ouvir, é Deus lhe mostrando a raiz do seu sofrimento, a origem dele. Para que Ele faz isso? Para que você lute contra essa raiz, pois se não tirá-la, pode até conseguir relevar algumas coisas, mas uma hora não conseguirá fazê-lo. Neste momento, o sofrimento é inevitável.
O ouvir o próximo que eu digo é nesse sentido e não ouvir o que o outro tem a dizer sobre você. É exatamente por isso que Cristo ensina que ouve aquele que têm ouvidos de ouvir. Ouvidos de ouvir é saber usar o que o outro fala para descobrir em si mesmo o que lhe levou a tomar aquela pílula.
O problema é que sempre partem da presunção que o outro é o errado e que você são o certo. Por isso, nunca analisa o que acontece internamente, mas só o que acontece fora.