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Passou a quaresma e chegou a semana santa. Por todo o planeta os seres humanos comemoram a paixão de Cristo, ou seja, o sofrimento que ele teve na sua crucificação e como chegou a ela. Mas, será que o mestre sofreu durante a crucificação?
Sofrimento é uma invenção do ser humano, uma polarização das energias universais utilizada apenas pelos seres individualistas que não conseguem enxergar um mundo onde Deus é o administrador do universo. Todo sofrimento é originado pela escolha do sentimento que o ser humano faz quando um ato foi executado contrariamente à sua aprovação. Assim, quando alguma coisa acontece que o ser humano não queria que fosse daquele jeito, ele escolhe sentimentos que o levam ao sofrimento
Isto se dá porque o espírito acha ser ele mesmo quem define a decisão final do seu trabalho, ou seja, não aceita que tudo o que acontece no universo é obra de Deus Pai. Como Deus busca a felicidade universal, o ser humano que procura a satisfação individual sofre porque o que está acontecendo não está de acordo com as suas intenções. Como Cristo passou toda a sua pregação afirmando “seja feita a Vossa vontade assim na Terra como nos céus”, não poderia ele sofrer, pois possuía a compreensão necessária para ver o comando de Deus nos atos que estavam acontecendo.
Todos os espíritos na carne que comandaram ou comandam as religiões, conhecem a realidade do ser humano, ou seja, aquele que quer ser satisfeito. Conhecem também o ensinamento que todos devem se submeter aos desígnios de Deus para alcançar a elevação espiritual. No entanto, ensinam que esta submissão deve ser silenciosa. Todas as religiões, inclusive a espírita, apregoam que o ser deve resignar-se frente à dor (insatisfação), ou seja, deve abaixar a cabeça, sofrer em silêncio, sem revolta com o Pai pela decisão contrária de um trabalho.
Esta não é uma postura espiritual. O espírito tem toda a sua vida voltada para a busca dos ensinamentos que o farão avançar espiritualmente e apenas resignar-se não o levará a alcançar o ensinamento que o Pai manda a cada minuto.
Aqueles que ensinam a resignação (sofrimento sem revolta), portam-se como os pais e mães que não procuram explicar ao filho o que ele não pode fazer mas respondem aos atos dele com nãos incompreensíveis para a criança ou ainda com a indiferença. Não ensinam à criança como agir, mas apenas dizem que ela tem que sofrer o que estão sofrendo agora, a fim de poder ser melhor no futuro.
Para poder aprender o ensinamento que Deus passa em cada situação da vida, o ser precisa conviver com o resultado positivamente (amá-lo) e não se afastar ou sofrê-lo (vivenciar negativamente). Se, ao contrário da resignação e sofrimento, o espírito entender o resultado negativo como um ensinamento que o Pai lhe deu pois estava precisando alterar-se para evoluir, não sofrerá, mas ficará feliz em poder tomar mais esta lição que o levará à elevação espiritual.
A entrega a Deus deve ser ativa e não passiva. Cristo deixou isso bem claro: “Pai, afasta de mim este cálice, mas se não for possível, que seja feita a Sua vontade”. Trabalhar dentro das leis de Deus é interagir amorosamente com as situações negativas buscando a compreensão dos erros cometidos anteriormente. Esta é a vida espiritual tão decantada na literatura espírita.
Ver-se como um ser capaz de determinar resultados para as sua ações é querer tornar-se deus da sua própria existência. Esta visão traz o sofrimento, pois o espírito não compreende a ação do Senhor Supremo do Universo e, por isso, não entende porque o resultado de seu trabalho pode acontecer de forma diferente do que ele espera.
Cristo não sofreu, pois conhecia estas verdades. Não foi à toa que a chamada paixão de Cristo (sofrimento) iniciou-se com um beijo, símbolo maior do amor para os encarnados. O ato de Judas é entendido como uma traição porque o calvário de Cristo significa a dor. Quando Judas ainda está ceando com o mestre, este lhe diz: “Vá amigo, faça logo o que tem para fazer”. Cristo sabia o que Judas iria fazer e, portanto, este ato não pode ser considerado uma traição.
Além do mais, o mestre poderia, pelo menos em duas ocasiões, escapar daquela situação. Durante a ceia, sabedor que era da missão de Judas, poderia tê-lo impedido de sair ou mesmo alertado aos companheiros que certamente impediriam a traição. Em outro momento, quando Judas chegou com os soldados romanos, Pedro sacou de sua espada resolvido a proteger o seu senhor e chegou a ferir um dos guardas. Cristo reagiu contra Pedro: “Achas que não tomarei até o último gole do meu cálice?”.
Desta forma, Cristo foi para a cruz com a certeza de que este era o destino que o Pai havia reservado para ele. Se este raciocínio não for o suficiente basta vermos quantas vezes anteriormente o Mestre afirmou que teria que ser levantado do chão para servir de glória.
Quem tinha esta compreensão jamais poderia sofrer no momento que sabia que seria a glória para toda a humanidade!
A crucificação de Cristo foi o apogeu de uma missão entregue por Deus e cumprida com perfeição. Isso fica bem claro quando no evangelho de João está narrado que o mestre pediu a Deus que glorificasse o Seu nome através dele e recebe como resposta do Pai: “Já glorifiquei”.
O beijo de Judas, então, deve ser visto como o ato do amor sublime, ou seja, colocar os desígnios do Pai acima da vontade própria, pois para a glória de Cristo havia a necessidade de que fosse traído da forma que foi. Judas não foi o traidor, mas o herói da história de Jesus.
Pedro, o apóstolo mais louvado pela religião, poderia ser julgado o traidor, pois negou Cristo três vezes… O próprio mestre reconhecia a fraqueza de Pedro e o avisou dela. Assim mesmo Pedro fraquejou. Já a Judas não foi dito o que tinha que fazer, mas apenas que havia chegado à hora de executar a sua parte para que a missão Jesus Cristo fosse coroada de êxito.
Com todos estes elementos podemos afirmar que Cristo não sofreu, mas vivenciou em êxtase os momentos da crucificação porque foram determinados por Deus para que sua passagem na carne sobre a face do planeta ficasse marcada. Foi pela morte pela crucificação que o mestre manteve seus ensinamentos vivos até hoje.
Para se viver os ensinamentos de Cristo é preciso atingir o mesmo êxtase nos momentos em que as coisas não transcorrem exatamente dentro da vontade de cada um. Se ficarmos sofrendo como fizeram os apóstolos ou negarmos o ensinamento recebido como Pedro negou, não seremos dignos do exemplo que o mestre deixou.
A perfeita compreensão da paixão de Cristo faz o espírito viver alegremente, pois sabe que o Pai está agindo para melhorá-lo e não para puni-lo. Não viver assim ou ensinar o próximo a não fazê-lo, é esquecer todo o ministério de amor que Jesus praticou e lembrar-se unicamente dos seus momentos difíceis.
Vamos viver a vida sem sofrimento, dentro do mundo de Deus, nosso Pai.