Iremos falar nesta conversa sobre o tornar-se um guerreiro da paz. Só que, como sempre digo, é importante definir o que se vai buscar em um trabalho. Este é o primeiro passo em qualquer estudo. Não há como se buscar compreensão sobre alguma coisa sem definir o que será buscado. Por isso, vamos começar definindo paz.
Paz é um estado de espírito, é uma forma de vivenciar acontecimentos. É uma forma interna, emocional, sentimental de vivenciar acontecimentos do mundo humano.
Paz não tem nada a ver com situações de vida. Quero deixar isso bem claro, porque, para vocês, a paz é uma situação de vida. A paz é, para vocês, uma série determinada de acontecimentos, mas isso não é real. Ao longo desta conversa entenderemos o por que não.
Paz é algo que existe internamente, dentro do ser, e não fora. Esta é a primeira coisa que o guerreiro da paz sabe. Ele sabe que estar em paz, ter a paz, é vivenciar acontecimentos do mundo dentro de um determinado estado de espírito. Mas, que estado de espírito é esse? Vamos falar disso agora.
A paz, ou seja, o estado de espírito de paz, existe quando há harmonia entre o mundo interno do ser e os acontecimentos externos que ele vivencia. Isso é paz: quando há uma harmonia entre o mundo externo e o interno, aquele ser está vivendo em paz.
Agora, reparem que falei em harmonia e não em igualdade, similitude. A paz não é vivenciada com igualdade entre o mundo interno e o externo, mas quando há harmonia entre as duas coisas. Ora, se isso é verdade, precisamos conversar um pouco sobre o que é harmonia, pois é deste entendimento que depende a paz.
A harmonia existe quando não há contrariedade. Viver em harmonia é, internamente, não estar em contrariedade com o que está acontecendo no mundo externo. Sempre que houver uma diferença, uma contrariedade, entre o mundo externo e o interno, acaba a paz, pois para que ela exista é preciso que haja a harmonia entre os dois mundos.
Com esta compreensão começamos a descobrir uma coisa com relação ao trabalho do guerreiro da paz: ele se consiste em harmonizar o seu mundo interno, o seu mundo emocional, com a vida que ele vivencia, com os acontecimentos da vida. Não se trata de rebaixar-se, de passar a achar certo o que achava errado, de concordar com o que acontece externamente, mas sim de não ser contra ao que é vivenciado. Na verdade, o trabalho do guerreiro da paz é acabar com a desarmonia ou seja, acabar com a contrariedade entre o seu mundo interno e o acontecimento da vida.
Esse é o trabalho de um guerreiro da paz: ele luta para extinguir a desarmonia, ou seja, a contrariedade, que existe entre o mundo interno e o externo. Acho que isso deu para ficar bem claro, não?
Agora, se esse é o trabalho, pergunto: onde deve agir o guerreiro da paz? No mundo interno ou no externo?
Acho que vocês já viveram bastante tempo para saber que a vida não se sujeita aos seus desejos, às suas vontades, aos seu comando. A vida vive a vida, independente do que você quer. É por causa deste conhecimento que a única resposta possível à minha pergunta é ‘mundo interno’.
O guerreiro da paz é aquele que age dentro de si para harmonizar o seu mundo interno com o externo. Esse é o trabalho do guerreiro da paz. Ele age dentro de si mesmo e não fora; age no sentido de harmonizar o seu mundo interno com o externo.
Isso é muito diferente do que vocês estão acostumados. Para vocês a paz é uma resultante de uma ação no mundo externo, de uma ação junto ás coisas ou outras pessoas do mundo. Só que se age no mundo externo, se age sobre outras pessoas, o que se consegue não é paz, mas sim dominação.
Se para acabar com contrariedade é preciso mudar alguém, o que o outro é, sabe ou quer, é preciso mudar algum acontecimento, não é a paz que se busca, mas sim impor a sua verdade, a sua vontade. O que se consegue como resultado de uma ação desse tipo não é a paz, mas a dominação. Portanto, agir no mundo externo tentando mudar os outros ou as coisas, não é um trabalho de alguém que lute pela paz, mas daquele que quer dominar o mundo.
Esses são os primeiros detalhes deste estudo. A paz é um estado de espírito que existe quando há uma harmonia entre o mundo interno e o externo e o trabalho do guerreiro da paz é enfrentar o seu mundo interno, para que ele se harmonize com o externo.
Este é, em resumo, o trabalho que faz um guerreiro da paz: ele está sempre atento ao seu mundo interno, tentando localizar as contrariedades ou desarmonias que possam existir durante a vivência dos acontecimentos, para poder agir sobre elas eliminando-as e assim alcançar a harmonia com o mundo externo.