Visto que o homem traz em sua consciência a lei de Deus, que necessidade havia de lhe ser ela revelada?
Ele a esquecera e desprezara. Quis então Deus lhe fosse lembrada.
Então, o homem não se lembra da lei de Deus. Por quê? Porque ela não está na consciência humana.
Com essa resposta fica mais claro ainda: a lei de Deus está na consciência do espírito, não na do homem, não? Mas, porque Kardec não foi mais claro? Porque na sua época não se podia falar em atividade mental, pois não havia conhecimento da psique, do processo de raciocínio, das ações do raciocínio sobre a vida. Hoje muitos querem cobrar de Kardec conhecimentos que a humanidade não tinha naquela época.
Então para o homem a lei de Deus está esquecida, por quê? Porque a lei de Deus está no espírito, na outra consciência, na consciência espiritual.
E por isso revelar a sua lei à consciência humana. Revela como? Através de Cristo que manda amar a Deus acima de todas as coisas, ou seja, acima do que você gosta, do que não gosta, do que acha certo, do que não acha certo. Porque é preciso fazer isso? Porque quem ama não sofre.
Mas, Deus revela através de outras fontes. Revela através de Krishna – descansa em Mim e assiste a sua vida – através de Buda – liberte-se do apego aos cinco agregados, através do Espírito da Verdade – Deus é causa primária de todas as coisas. Mas, a maior revelação é: depois do desencarne, outra é a forma do espírito ver as coisas.
Essas são as revelações que libertam o espírito, que levantam o véu do esquecimento. É preciso viver isso para a busca do bem celeste, a felicidade incondicional que Deus tem prometido, ao invés de querer agora a felicidade humana. Como disse o Espírito da Verdade quando comentou a escolha das provas: quando encarnado, quando humanizado, ele só vê das provas o lado penoso, mas elas são dádivas de Deus.
Todos os momentos da vida, inclusive aqueles que são entendidos como contrariedades, são amores cristalinos de Deus. Por quê? Porque é uma chance de amar a tudo e a todos. Quando vive o que não gosta, está recebendo o amor de Deus cristalino, pois está vivendo uma oportunidade de amar.
O que precisa ficar bem claro é que se cada momento de uma vida é uma prova, cada momento é uma oportunidade para exercer o amor a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Só que vocês se esquecem disso. Seja o acontecimento uma calúnia, um egoísmo, uma afronta, é uma grande oportunidade de amar. Amar a tudo e a todos!
Esse é o recado que Cristo trouxe e é o recado que esquecemos. É o recado que esquecemos porque queremos nos libertar das nossas crucificações. Não queremos passar pelos momento em que somos crucificados, ou seja, que nos desagrada. Mas, Paulo deixa claro: a mensagem louca de Cristo é que você tem que passar pelas situações onde não concorda, sem contrariedades. Aliás, essa também é a mensagem do Espírito da Verdade quando diz que você é obrigado a passar pelas vicissitudes da vida. É obrigado a passar pelos momentos que não gosta, amando a Deus acima de todas as coisas.
Essa mensagem é muito clara, mas para ter essa consciência é preciso entender que a consciência atual está obscurecida, pois não leva em consideração a lei natural em momento algum, já que não vê Deus em ação.
O que todos os mestres nos propuseram é uma revolução, uma revolução mental. Essa revolução não é uma guerra que domina e conquista, mas uma guerra de libertação. Uma revolução mental onde você se livre de tudo aquilo que acredita. Uma guerra mental, uma revolução mental contra o ego não no sentido de destruí-lo, mas para se libertar do que ele cria. É uma batalha para não acreditar naquilo que está sendo dito pela razão. Ao não acreditar, automaticamente permanecerá ligado no amor a Deus,
Quando acredita em qualquer coisa que o ego fala, qualquer coisa que a razão gera, toma ele como detentor da verdade. Só que apenas Deus conhece a verdade. Mesmo que a verdade criada pela razão seja satisfatória para os padrões humanos, você ainda estará preso ao ego.
Quer um exemplo: a caridade. A razão quer ensinar como é fazer a caridade, mas Cristo não ensinou nenhum ato padrão para fazer a caridade. Pelo contrário, quando perguntado disse: dê a vara não o peixe, ensine a pescar, não dê nada de graça a ninguém.
Seguindo esse ensinamento, o que a razão diz que é necessário fazer para ajudar o outro é bem diferente do que Cristo ensinou. Ao invés de ser paciente com quem precisa de paciência, a caridade está em ensinar a ter paciência, ensinar a pescar. Como se faz isso? Praticando uma ação onde o outro possa pescar a paciência.
Estamos falando isso principalmente para aqueles que se cobram em não seguir o ensinamento humano, ou seja, ser paciente com quem precisa de paciência. Como já disse é preciso tirar o misticismo e o místico é criação do ego.
Achar que alguém vai levar uma vida tipo Gandhi ou Irmã Dulce, é algo quimérico. Você jamais vai conseguir, pois ter uma vida desse tipo foi missão de espíritos específicos, mas não é a missão de outros. Mais: não é a sua missão.
Como posso dizer isso? Porque a missão do espírito é ser quem é, humanamente falando, com todas as suas falhas (entre aspas), com todos os seus momentos de desequilíbrios (entre aspas). Cada ser humano é quem é porque o espírito nasceu com a missão de ser instrumento de carma específico de outros.
Agora, se você não quer ser instrumento do carma para o qual nasceu, pergunto: por que Deus vai mantê-lo vivo? Se nasceu como instrumento para levar às pessoas uma oportunidade para alcançar a paciência e não quer ser impaciente com eles, para que ficar vivo? A sua vida não terá objetivo nenhum que a faça continuar.
Então, antes de se culpar pelo que é, lembre-se: você nasceu, como o Espírito da Verdade chamou de objetivo da encarnação, de uma determinada forma, com determinada personalidade, para sob as ordens de Deus agir na frente dos outros.
Por isso, a primeira coisa que precisamos deixar de padronizar é o ser elevado. Ele não é o bom, aquele que faz a bondade preconizada pela lei humana. Ele é o bem-aventurado, aquele que vive sob a égide da lei de Deus.
Bem-aventurado não é quem pratica boas ações, mas aquele que vive uma felicidade incondicional. Nas histórias dos santos estamos cansados de ver bem-aventurados que não praticaram boas ações. Joana D’Arc lutou em uma guerra e matou. Arjuna, o seguidor de Krishna, lutou numa guerra e matou. Apesar disso, foram bem-aventurados. Por quê? Porque viveram com felicidade incondicional. Eles não sofreram nem tiveram prazer ao fazer o que fizeram.
Portanto, vamos parar de padronizar o espírito elevado e entender que não é o que pratica boas ações, mas quem vive com um estado de espírito de felicidade incondicional a missão que Deus dá.