A regra do bem e do mal, que se poderia chamar de reciprocidade ou solidariedade, é inaplicável ao proceder pessoal do homem para consigo mesmo. Achará ele, na lei natural, a regra desse proceder e um guia seguro?
Quando comeis em excesso, verificais que isso vos faz mal. Pois bem, é Deus quem vos dá a medida daquilo de que necessitais. Quando excedeis dessa medida, sois punidos. Em tudo é assim. A lei natural traça para o homem o limite das suas necessidades. Se ele ultrapassa esse limite, é punido pelo sofrimento. Se atendesse sempre à voz que lhe diz – basta, evitaria a maior parte dos males, cuja culpa lança à Natureza.
Pelo texto a lei natural traça o que?
Participante: a lei natural traça o limite das suas necessidades.
Perfeito.
Lembra como definimos a lei natural? A ação de Deus, a causa primária de todas as coisas, ou seja, o que está acontecendo na sua vida. Agora o Espírito da Verdade diz que a lei natural traça o limite das suas necessidades. Somando as duas coisas, o que essa informação quer dizer? Que o que está acontecendo na sua vida é exatamente o que precisa para viver, para produzir a reforma intima.
Apesar dessa informação, o ser humanizado não vive o que tem amando a Deus sobre todas as coisas. Sempre quer mais, sempre imagina precisar de mais, sempre lamenta a falta do que não tem. Quando não ganha o que quer, se revolta, acusa de injustiça; quando não fazem o que ele quer, sofre.
Por isso Kardec afirma que a lei do bem e do mal existe dentro da reciprocidade: se hoje você não tem o que quer, pode ter certeza que alguém ganhou o que queria. Não foi injustiça, mas chegou a hora dessa outra pessoa ganhar. Isso é reciprocidade.
Solidariedade, ser solidário com os outros: eis o caminho do bem. Gozar a felicidade que o outro está sentindo no momento que ele foi contentado e você não. Isso é solidariedade. Mas, para viver isso é preciso calar dentro de si o desejo de querer ganhar sempre, o individualismo, o desejo de querer fazer o que quer, de viver apenas as situações que gostaria de estar vivendo.
Reciprocidade, essa é uma palavrinha para vocês tão difícil de ser vivida. Dar ao próximo, doar de si, não coisas materiais, mas carinho, atenção, amor, participar da vida do outro, no momento em que está vivendo carências, contrariedades. Vocês não sabem o que é isso.
Convivem com outros seres humanos esperando sempre que eles participem da sua vida, ou seja, estejam a sua disposição na hora que quer ou imagina precisar. Cobram do outro, mas vocês mesmos não entram na vida do outro.
Para quem está sempre cobrando alguma coisa de alguém, que está sempre julgando e criticando o próximo, a reflexão do Espírito da Verdade: se vocês compreendessem isso, quanto sofrimento evitariam na vida.
Participante: se me permite o comentário. Isso é uma visão bem materialista da redenção, como se a salvação estivesse vinculada somente a felicidade material e a psicologia sentimental.
Desculpa, não estou falando de felicidade material, estou falando de amar a Deus sobre todas as coisas e o próximo sobre a si mesmo. Estou falando de ser feliz incondicionalmente.
Felicidade incondicional: essa é a felicidade espiritual. A material é aquela que existe quando o ser faz, vive ou tem o que quer. Não é dessa que estou falando, é exatamente o contrário. Estou falando em ser feliz não porque tem, mas por participar da vida dos outros sem esperar que os outros participem da sua, sem exigir que os outros participem da sua.
Você fala em psicologia sentimental, sim, o que falo é psicologia sentimental, pois o que precisa ser feito é amar e o amor é um sentimento. Se não partimos para a psicologia sentimental, jamais vamos aprender a amar, amar como Cristo amou.
Então, sim, é de psicologia sentimental que estou falando. É de ser feliz incondicionalmente, em ser feliz por servir ao próximo.
Participante: devo contestá-lo sobre o amor. O amor não é sentimento, amar é querer o bem. Sendo o bem absoluto Deus, amar é levar ao outro o que quer Deus. Amar é um ato da vontade e não um sentimento imanente como você sugere.
Diria que devo contestá-la também, pois amar é um sentimento.
Sobre levar Deus ao próximo diria que Deus é o amor e que levar o que Deus quer conscientemente é algo muito difícil. Porque? Paulo ensinou: Deus não deixa o homem entende-lo.
Se não tenho como entender Deus, como posso levar conscientemente o que não sei o que é? Se não posso saber quem é, não sei o que Ele quer. Não sabendo o que quer, como levar alguma coisa a alguém?
Na verdade, quando tem essa consciência, me diz que você imagina saber o que Deus quer. Só que isso é impossível. Cristo ensinou: só o filho sabe quem é o Pai. Teríamos que estar muito evoluídos para poder sermos filhos de Deus e ter alguma noção sobre o que Ele quer.
Apesar disso achamos que sabemos, mas na verdade, damos ao querer de Deus o que queremos para nós. Nem sempre é assim viu?
Participante: se Deus é o amor, se diz que o amor é um sentimento, seria Deus um sentimento?
Já falamos lá atrás sobre conhecer Deus. Inclusive no próprio O Livro dos Espíritos está escrito: há poucas palavras para descrever o que é o espiritual. Deus é um ser, um Espírito, mas podemos também, por falta de palavras, chamar de tudo. Tudo que emana Dele é Deus.
Então, existe um Espírito que você chama de Deus, mas existe uma emanação Dele que você chama de Deus. Por isso posso dizer que o amor é Deus, pois o amor é emanação de Dele.
Deixe-me só dizer uma coisa. No universo só Deus obra, pois Ele é a causa primária de todas as coisas. Se dizemos que o amor surge nas pessoas, qual seria a causa primária do amar?