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Estará subordinado a determinadas condições o mérito do bem que se pratique? Por outra: será de diferentes graus o mérito que resulta da prática do bem?
O mérito do bem está na dificuldade em praticá-lo. Nenhum merecimento há em fazê-lo sem esforço e quando nada custe. Em melhor conta tem Deus o pobre que divide com outro o seu único pedaço de pão, do que o rico que apenas dá do que lhe sobra, disse-o Jesus, a propósito do óbolo da viúva.
E vocês continuam rezando pelo pobrezinho coitado ao invés de rezar pelo rico que está na sua casa sentado, bebendo, conversando com os amigos. Esse é aquele que não está em alta conta com Deus. Esse é o que precisa da sua oração.
Outro dia me disseram: ‘ah, mas é muito mais difícil ser pobre’. Sim é, mas é muito mais enriquecedor espiritualmente falando do que viver uma vida fausto.
Como falou o Cristo: ‘é mais fácil um camelo passar no buraco da agulha que um rico entrar no reino do céu’. Isso porque para o camelo passar no buraco da agulha, tem que ter submissão e despojamento.
Precisamos acabar com alguns conceitos quando se fala de reforma íntima. Acabar, por exemplo, com o conceito de que o pobre é aquele que precisa de coisas materiais, quando o verdadeiro pobre (espiritualmente falando) é aquele que é rico de coisas materiais. Esse precisa muito mais de você do que aquele espírito (não vou dizer todos, porque muitos na pobreza caem) corajoso que decidiu enfrentar a pobreza material para dar um passo na sua evolução espiritual.
Vamos acabar com essa história de que praticar o bem é simplesmente dar comida para os mendigos, fazer almoço para os necessitados, doar cesta básica. Vamos começar a praticar a caridade àqueles que mais precisam, os materialistas, os que têm posses, paixões e desejos por coisas materiais.
Eis aí uma evolução que esse mundo está precisando para acabar com a hipocrisia de muitos que dedicam a sua vida a pobreza material porque querem elevar-se espiritualmente. Eles não entendem que agindo assim estão pensando em si antes do próximo. Por isso ficarão presos à sansara.
Ter uma vida pia, no sentido de viver na carência como instrumento de elevação, não garante evolução espiritual para ninguém. Isso porque o bem, o universalismo, se conquista com vitórias, não é dado de graça por ninguém.
É isso que o Espírito da Verdade fala: “o mérito maior do bem que se pratica está quando se vence o mal que está dentro de nós”. Esse mal, como já vimos, é o individualismo. É fazer o que acha certo, o que gosta, o que quer, o que acha que deve fazer. Só quando se vence essas condições há alguma vitória.
É preciso acabar com a história de quem tem casa própria e emprego fixo está bem de vida e que o pobre coitado é o que está desempregado. Isso é uma visão materialista que só leva em conta os valores materiais. É uma visão de quem acha que elevação material é sinônimo de elevação espiritual, de bem-estar.
É preciso acordar filhos. Esse capítulo foi muito importante para nós. Esse estudo do bem e do mal e da lei natural foi importante para compreendermos que possuímos um valor de bem e de mal que não é o mesmo dos Mestres da humanidade. Para Cristo, Espírito da Verdade, Kardec, Krishna, Buda, o bem é quando se ama a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo e o mal é o contrário, é quando ama a si acima de Deus e do próximo.
Mal não é dar um tiro, mal não é não dar esmola. Bem não é promover almoço e dar cesta básica. Por quê? Volto a repetir: se o bem fosse só atender os pobres, Cristo só atenderia os pobres. Só que não foi isso que fez; o que mais fazia era ensinar.
Participante: mas dentro do que a gente já estudou, se isso acontecer, se o almoço está sendo dado, ou seja, o que for, é porque era para ser dado ou por merecimento daqueles que estão recebendo.
Perfeito, mas lembre-se: o problema é o que vai por dentro, a intenção de.
Participante: fazemos um trabalho com mendigos em uma fraternidade em Belo Horizonte, onde damos passes no horário de 7 às 8. Logo após fornecemos café com pão e todos assistem uma palestra versando sobre o Evangelho e todos assistem. Isso aos domingos para mendigos, os mais carentes, hippies, maloqueiros. Eles são medicados com atendimento gratuito e também têm atendimento fraterno.
Sem problema nenhum.
Agora, tem horário especial para os ricos? Tem horário especial para os sãos? Tem horário para dar passe de cura nos sãos?
O problema é achar que isso que fazem é que é a salvação. O problema é achar que apenas essas pessoas são os necessitados. É achar que fazer essas coisas é o caminho que leva ao Cristo, a Deus.
É isso que estou querendo dizer. Faça o que fizerem estará certo, jamais criticarei. O que é preciso acabar é com a hipocrisia em achar que isso é que vai resolver, que vai realmente ajudar, no sentido da elevação espiritual. O que é preciso acabar é com a hipocrisia de que esses tipos de pessoas são os necessitados e que quem tem posses materiais não precisa de passes ou ajuda espiritual. É isso que estou querendo mostrar.
Deixe-me dizer uma coisa. Já fui há muitos lugares, umbanda, candomblé, centro espírita, igreja católica, templo evangélico, mas nunca vi na oração ninguém dizer Senhor, protege o rico. Só dizem: vai no hospital, vai no asilo, vai na creche. Dizem isso porque acham que lá estão os necessitados.
Pela resposta do Espírito da Verdade que acabamos de ver isso não é real. O necessitado está muito mais em quem tem posses materiais. É isso que precisamos compreender.
Não estou dizendo que não deve orar ou não deve ajudar. Se ajudar ajudou, se orar orou pelo pobre. Agora, sendo espírita, seguidor de O Livro dos Espíritos, principalmente depois de ver essa resposta, não pode partir do pressuposto de que aquele que tem dinheiro ou tem saúde está muito bem, espiritualmente falando. É isso que estou querendo dizer.
Saiba que mesmo que a vida de alguém esteja calma, tranquila, sem obsessor, isso não quer dizer que para a elevação espiritual aquela pessoa esteja bem.
Participante: queria que o senhor explicasse melhor quando diz que só a comida e tal, não basta. O que mais é preciso?
Levar Deus. Levar a palavra de Deus.
Participante: isso, por exemplo, no caso que acabou de ser falado, ele já diz que é feito.
Sim é feito, para o pobre e não para o rico.
É preciso chegar na frente do rico e ter coragem de assumir a sua crença espiritual, aquela que diz que o elevado espiritual é o que não tem posses materiais. É preciso ter coragem de assumir que esses não estão bem, espiritualmente falando, ao invés de ficar invejando a posse deles. É isso que estou querendo dizer.
Agora, se faz um trabalho de levar Deus para o pobre, maravilhoso, mas e para o rico, por que não faz? Por que acha que ele não precisa?
Participante: ou por que não está no livro da vida? Eu acho que quem está fazendo um trabalho, porque é esse o trabalho que tem que fazer. É isso que você nos ensinou.
Volto a repetir: não estou falando de ação, mas de intenção, sentimento.
A maioria dos seres humanos se relacionam com o rico – rico que estou falando não é milionário, mas o que tem alguma coisa por menos que seja – como se ele já tivesse tudo de bom e você não precisa levar nada. Mas para o pobrezinho, o coitado, se acha no direito de achar que são carentes e que precisa levar algo.
Estou falando de intenção. É isso que estou querendo mostrar: qual é a intenção que você vai na casa do rico? É levar Deus? Acho que não, é gozar junto com ele da bonança material.
Participante: não podemos generalizar, não é?
Não.