Dentre os vícios, qual o que se pode considerar radical?
Temo-lo dito muitas vezes: o egoísmo. Daí deriva todo mal. Estudai todos os vícios e vereis que no fundo de todos há egoísmo. Por mais que lhes deis combate, não chegareis a extirpá-los, enquanto não atacardes o mal pela raiz, enquanto não lhe houverdes destruído a causa. Tendam, pois, todos os esforços para esse efeito, porquanto aí é que está a verdadeira chaga da sociedade. Quem quiser, desde esta vida, ir aproximando-se da perfeição moral, deve expurgar o seu coração de todo sentimento de egoísmo, visto ser o egoísmo incompatível com a justiça, o amor e a caridade. Ele neutraliza todas as outras qualidades.
Nesse estudo vamos tratar do tema egoísmo segundo o ensinamento do Espírito da Verdade em O Livro dos Espíritos.
Ele começa dizendo que o egoísmo é o vício mais radical do ser humanizado. Por isso precisamos, antes de mais nada, falarmos sobre vício.
O que é um vício? O que é estar viciado em alguma coisa?
O vício é uma dependência de algo ou de alguém. Uma pessoa viciada é dependente de algo.
Esse é o primeiro aspecto que devemos ter em mente para o que estudaremos hoje. Buscaremos compreender a ação do egoísmo como o elemento universal ao qual o ser humanizado se torna dependente, do qual depende para viver.
Começamos pelo grau de importância do vício do egoísmo: o mais radical. Por isso posso dizer que o egoísmo é o vício mãe do ser individualizado. É a sua dependência maior, aquilo que sem ele o espírito encarnado não vive. Por isso está sempre buscando o egoísmo.
Tendo em vista a sua importância, precisamos, então, definir egoísmo: querer para si em primeiro lugar, acima do querer para os outros. O egoísmo existe quando o ser humanizado vive a partir do eu, quando pensa prioritariamente em si, nas suas verdades, nas suas posses, paixões e desejos antes de qualquer coisa.
Essa é a dependência maior de um espírito humanizado: pensar sempre em si antes do próximo, querer prioritariamente para si, buscar sempre sua própria satisfação. É por isso que o Espírito da Verdade diz que o egoísmo, ou individualismo, acaba com o amor e com a caridade. Isso ocorre porque a necessidade de levar vantagem, de ser premiado sempre, elimina quaisquer resquícios de espiritualidade no espírito encarnado, de serviço ao outro, de amor ao próximo como a si mesmo.
Ainda falaremos muito mais sobre esse aspecto durante o dia de hoje, mas por agora é preciso de que se compreenda que é necessário buscar o fim do vício no eu para poder se elevar espiritualmente (viver a espiritualidade do ser), para ser feliz incondicionalmente.
É preciso que o ser humanizado perca o vício do egoísmo, da necessidade do atendimento às suas vontades, ao seu desejo, às suas paixões. Precisa se libertar do condicionamento da necessidade de ser atendido sempre, para poder aproximar-se de Deus.
É isso que o Espírito da Verdade está ensinando. Se o ser humanizado permanecer preso no que quer, gosta, acha certo, no que acha que deveria estar acontecendo, no que imagina que deveria ser justo acontecer, não alcançará nada com relação à reforma íntima.
Ele não consegue viver o espiritualismo e o universalismo, elementos resultantes da reforma íntima, porque está preso apenas no individualismo. Se o ser humanizado opta por sempre viver situações que atendam nos mínimos detalhes os seus requisitos para ser feliz, comprova a sua dependência do egoísmo, do seu eu material, do seu querer e esses elementos não são universais. Portanto, nada foi conseguido no sentido de integrar-se ao Todo Universal.
Esse é o primeiro aspecto de hoje: entender que o vício capital é a dependência da satisfação do eu material. Entender que por isso todas as atitudes dos seres humanizados se originam no querer para si sempre.