Longe de diminuir, o egoísmo cresce com a civilização, que, até, parece, o excita e mantém. Como poderá a causa destruir o efeito?
Quanto maior é o mal, mais hediondo se torna. Era preciso que o egoísmo produzisse muito mal, para que compreensível se fizesse a necessidade de extirpá-lo. Os homens, quando se houverem despojado do egoísmo que os domina, viverão como irmãos, sem se fazerem mal algum, auxiliando-se reciprocamente, impelidos pelo sentimento mútuo da solidariedade. Então, o forte será o amparo e não o opressor do fraco e não mais serão vistos homens a quem falte o indispensável, porque todos praticarão a lei da justiça. Esse o reinado do bem que os Espíritos estão incumbidos de preparar.
Repare bem no início desse ensinamento do Espírito da Verdade para que possamos ter consciência da hipocrisia com que o ser humanizado vive: “era preciso que o egoísmo produzisse muito mal para que compreensível se fizesse a necessidade de extirpá-lo”.
Para falar dessa hipocrisia pergunto: o que motivou as cruzadas, as chamadas guerras santas? Egoísmo. O que motivou os senhores de terra criar e sustentar a escravidão? Egoísmo.
Os acontecimentos hediondos da história da humanidade sempre foram causados para atenderem a interesses individuais de determinados seres humanizados, ou seja, viciados no egoísmo destes. Mas por que Deus permitiu que isso acontecesse? Segundo o Espírito da Verdade para que você e todos os outros espíritos encarnados compreendessem o que o egoísmo de cada um produz.
Mas, não foram apenas esses os acontecimentos hediondos que ocorreram na história da humanidade. Na verdade, utilizei exemplos muito distantes no tempo da realidade. Por que fiz isso? Porque O Livro dos Espíritos é do final do século XIX, ou seja, os acontecimentos hediondos a que se referiu o Espírito da Verdade eram esses.
Depois da publicação desse livro, ou seja, depois da divulgação desse ensinamento, já tivemos outros acontecimentos hediondos. Aconteceu a primeira e a segunda guerra mundial, a bomba atômica e mais recentemente os atos terroristas que podem ser considerados como acontecimentos hediondos fundamentados no egoísmo de seres humanizados.
Esses acontecimentos recentes certamente não estavam na cabeça de Kardec quando fez a pergunta ao Espírito da Verdade. No entanto, se estivessem, o ensinamento seria o mesmo: ocorreram para que os seres humanizados compreendessem a que ponto pode levar a ação egoísta baseada nas suas vontades individuais.
Pergunto então: o que você, que já conhece esse ensinamento, fez com relação a estes crimes hediondos? Agiu egoisticamente criticando aquele que foi egoísta. Mas, não acha que ao agir assim foi egoísta. Pelo contrário, imagina que estava certo.
A humanidade precisa compreender que a crítica, mesmo que dirigida ao egoísta, é ação do egoísmo de quem critica. Nenhuma crítica pode ser considerada sadia porque é fundamentada em uma verdade individualista, em um padrão individual de verdade. Portanto, ação egoísta.
Como já estudamos fartamente, Deus cria os acontecimentos da Terra para que você compreenda a essência que causou tal ato e possa, assim, abrir mão da utilização de tal essência.
Nenhuma guerra surge no planeta se não houver uma intenção egoísta, se não houver um desejo individual. Portanto, as guerras existem para que você aprenda onde o egoísmo pode levar e abra mão de seus desejos próprios, mesmo que sejam considerados certos. Mesmo que deseje a paz, abra mão desse desejo para não criticar o próximo, pois se o fizer, estará agindo igualzinho a ele: fazendo guerra a quem quer guerrear.
O primeiro passo para poder abrir mão do egoísmo é abrir mão da crítica a quem age fora dos seus padrões individuais de certo. Ame a todos e a tudo acima de qualquer padrão que você tenha de certo ou errado. Aliás Cristo ensinou: se você só cumprimenta quem lhe ama, que vantagem tem? Até os pagãos fazem isso…
Faça paz com quem quer a guerra, pois só assim expressará o verdadeiro amor. A crítica, por mais que embasada em boas intenções, jamais será um ato de amor, pois se fundamenta no eu, no que cada um sabe, o que cerceia o direito do outro achar diferente.
Mas, para que possa fazer paz com quem quer a guerra é preciso antes libertar-se do seu eu e da vontade de que esse eu se sobreponha ao do próximo.
E não me venham dizer que é impossível deixar de criticar Hitler porque ele fez a guerra ou o presidente dos Estados Unidos à época porque autorizou o uso da bomba atômica, porque não são deles essas ações. Como o Espírito da Verdade acabou de nos dizer, o egoísmo precisa gerar um crime hediondo para ver se a humanidade cai na real e deixa de ser egoísta, de querer só para si, de querer levar vantagem em tudo na vida. Por isso, se não fossem esses seres humanos que você acusa por terem agido dessa forma, teriam que ser outros, pois a guerra precisava existir e continuará existindo porque os seres humanizados ainda agem egoisticamente no seu dia a dia.
Estudamos anteriormente que a justiça consiste em respeitar o direito do outro (pergunta 875). Portanto, se não quer que haja guerra, para ser realmente justo, precisa respeitar o direito do outro que quer fazer a guerra e não criticá-lo ou acusá-lo por isso.
Mas não, você acredita que precisa atacar quem quer guerrear para poder defender a paz para que a justiça prevaleça. Com isso não está defendendo a paz nem a justiça, mas aquilo que você considera como paz e justo, ou seja, os seus padrões individuais. Por isso falei inicialmente em descobrir a nossa hipocrisia.
Estou usando a guerra como um exemplo apenas para entendermos, mas leve isso para todas as coisas da vida. Você diz que quer viver bem com todos, mas para que isso aconteça realmente tem que aprender a viver bem com todos e não exigir que os outros se fundamentem em você para que possa existir a boa convivência.
Ou seja, acredita que os outros precisem agir como você agiria em determinada situação para que esteja em paz com ele. Para mim isto tem outro nome: opressão, totalitarismo.
Veja como é hipócrita a sua posição. Você diz que critica o próximo por amor, por querer o melhor para ele ou até para que a justiça aconteça, mas na verdade a sua real intenção é a total submissão do próximo ao seu padrão de certo para satisfazer o seu egoísmo.
Não, a crítica jamais será fundamentada no amor ou na justiça. Cada um tem o direito e a liberdade de agir e para que o ame verdadeiramente preciso respeitar esse direito. Mas para poder conceder essa liberdade ao próximo, é preciso que cada um se liberte do seu egoísmo, do vício de olhar primeiramente para si: o que acha certo, bonito ou o que quer.
Aprenda: para o mundo espiritual não é o ato em si que vale, mas a intenção com que cada um participa dos atos da existência carnal. E a intenção com a qual os espíritos participam dos atos humanizados hoje devido ao seu patamar de elevação espiritual fundamenta-se no eu, pois busca atender àquilo que cada um acha que deveria acontecer.