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Participante: Concordo com o senhor que vivemos com pressa em realizar, mas algumas realizações que buscamos podem ser consideradas boas, como por exemplo a busca da elevação espiritual, não?
O que importa, como já vimos, é a intenção com que se vive e não o ato em si. A sua pressa em buscar a elevação espiritual não se fundamenta no desejo de interligar-se amorosamente com Deus, mas no medo da morte, medo do julgamento, medo do que sucederá se não realizar a elevação espiritual. Por isso, mesmo esta pressa não pode ser considerada válida.
Aliás, o espírito humanizado tem pressa em conquistar coisas durante a vida material, mesmo que ela não esteja ligada à sua Realidade espiritual, justamente por isso: por ter medo da morte. Quer conquistar elementos materiais porque acha que o tempo está passando. Acredita que precisa rapidamente conquistar os bens materiais porque a sua vida tem um limite.
O ser humanizado, mesmo aquele que acredita na existência eterna, quer conquistar rapidamente o bem material porque acredita na morte, ou seja, vive com a certeza de que sua vida chegará ao fim. Mas, a existência do espírito não acabará nunca, pois não há fim para a vida do ser universal.
Participante: Acho que neste caso entra aquilo que já estudamos: a busca do prazer. Temos pressa em realizar coisas para poder aproveitar o máximo possível essa ‘vida’ tendo todo prazer que puder.
Exatamente. A pressa em realizar-se materialmente é para gozar a coisa material, o prazer material, a felicidade material. Esta é a pressa do ser humanizado.
Mas, por que há esta inconsciente pressa?
Participante: Por causa do medo da morte?
Não, isto é consciente. Todos buscam entrar no gozo de determinados prazeres o mais rapidamente possível porque imaginam que a vida se extinguirá. Não é disto que estou falando, mas, de uma motivação inconsciente que existe no ser universal para que ele tenha pressa em locupletar-se com o bem material. Para saber do que estou falando, volto a perguntar: por que, inconscientemente, o ser humanizado tem pressa de conquistar os desejos oriundos das paixões geradas pelo ego?
Porque sabe que isto é errado, é contrário à elevação espiritual. O ser universal sabe que desfrutar do bem material (a satisfação de ver seus desejos atendidos) não o leva a aproximar-se Deus, mas não quer abrir mão deste prazer. Por isso tem pressa em realizar-se como humano: ‘vamos gozar logo porque senão amanhã chega a morte (o fim da encarnação) e eu tenho que me contentar em ser feliz incondicionalmente’.
Sabe por que você está renascendo, ou seja, está preso à roda de encarnações? Para poder gozar o prazer, que é caracterizado pela satisfação de seus desejos, que são frutos das paixões que o ego cria e às quais você está aprisionado.
O espírito, liberto da ação do ego, pede com consciência a elevação espiritual, mas, mesmo na erraticidade, no seu inconsciente, existe ainda o apego ao mundo material, o desejo do prazer. Mesmo liberto da ação do ego, o ser universal de posse da sua consciência espiritual está apegado à satisfação de seus desejos e, por isso, deseja renascer sempre. Enquanto o ser universal não eliminar este desejo, ele estará agindo no inconsciente. Isto ocorre quando o ser está encarnado (ligado a um ego) ou não, porque o espírito é sempre o mesmo. Por isso todos os mestres ensinaram que o caminho para se atingir a Deus passa pelo desapego às coisas materiais e a renuncia ao prazer.
Sabe por que vocês não aproveitam a encarnação para a realização da evolução espiritual? Porque o que querem mesmo nesta vida é gozar o prazer. Esta é a realidade da grande maioria dos seres encarnados, mesmo daqueles que dizem querer se elevar, mas que ainda aplicam valores (paixões) às coisas do mundo material. E, para conseguir a realização deste desejo que está no inconsciente de cada um, precisam estar encarnados.
Vocês se lembram dos momentos de sofrimento de suas vidas? Claro que não. Sempre se lembram dos momentos ‘bons’ da vida, ou seja, do prazer que amealharam. Mas, sabem que há muito mais a se aproveitar, no sentido da elevação espiritual, no momento da contrariedade do que o da satisfação? Sim, sabem, pois todos os mestres ensinaram que os momentos de contrariedade são como o fogo que, se bem trabalhado, forja o aço.
Repare que não estou falando em masoquismo, em querer sofrer, mas em aprender a lidar com as situações de contrariedade como uma oportunidade de libertar-se do desejo do prazer. Este, segundo os mestres, é o caminho para chegar a Deus e, por isso, o momento de contrariedade é tão importante para aquele que busca aproveitar a encarnação.
Mesmo assim, mesmo sujeitando-se a perder tão importante instrumento da elevação espiritual, preferem esquecer os momentos ruins das suas existências. A não ser quando o espírito tem prazer no sofrimento. Aí ele quer relembrar para poder sofrer a vontade e, com isso, alcançar o prazer.
A busca constante do prazer torna-se, então, uma obsessão para o espírito e, por isso, surge a pressa em viver suas paixões. Mal os seres encarnados entram na adolescência querem se tornar adultos. A primeira preocupação é em conseguir um emprego; quando isso ocorre quer se casar. Quando consegue esta realização, ou seja, o prazer de ter se casado não mais é considerado como satisfatório e logo cria outro desejo. Começa, então, a sonhar em ter um filho. Realizado este novo sonho surge logo a pressa em conseguir um emprego melhor para garantir o sustento do seu rebento. Neste novo emprego busca ascensão e principalmente estabilidade, pois já começa a sonhar com a aposentadoria para poder parar de trabalhar e começar a curtir os filhos e netos. Tudo vivido fora de tempo, tudo feito apressadamente.
E qual o preço desta pressa? Quanto você paga por esta pressa?
Participante: Não viver o momento presente…
Exato, deixar de viver. Digo isso porque você só tem um segundo para viver. O anterior não mais existe porque já passou e o próximo só se tornará realidade quando este acabar. Mesmo quando está vivendo o presente, você o vive atrelado ao passado ou ao futuro. Vivendo desta forma jamais consegue vivenciar o agora. Ou seja, você passa a encarnação inteira fugindo da vida: vivendo um passado e um futuro que não existem. E tudo isso por quê? Porque está obcecado em conquistar seus desejos, porque tem pressa de sentir o prazer antes que a encarnação acabe.
Você troca o presente, aquilo que existe, que é real, pelo futuro que não existe. Ou seja, deixa de vivenciar o que existe para viver o que não existe: este é o preço que paga por ter pressa em gozar o prazer.
Se agora é o seu momento de sair, passear, divertir-se, não se preocupe com emprego, problema de casa, carreira profissional. Tudo isso deve ser deixado para amanhã, para o momento em que for presente em sua existência. Quando o amanhã chegar viverá estas situações, não agora, mesmo que este amanhã seja apenas daqui à uma hora ou dez minutos. Hoje, agora, a sua vida se resume àquilo que você está participando e nada mais.
Estamos falando em viver um segundo de sua existência por vez, a cada segundo. Este é o ensinamento que surge quando se entende a eternidade do espírito. O espírito não tem pressa em viver. Ele não se preocupa em viver o futuro, mas em bem viver cada segundo. E o que é bem viver cada segundo que Cristo nos ensinou? Guardar bens no céu. Portanto, o espírito não se preocupa em alcançar rapidamente os acontecimentos da vida para poder buscar o prazer, mas curte cada segundo da sua existência amealhando bens celestes, ou seja, a felicidade incondicional, a felicidade sublime.
Você vive bem, no sentido espiritual, cada segundo da sua existência quando, a cada um deles, mantém o seu estado de espírito de felicidade incondicional, permanece em paz e harmonia e existe na graça de Deus. Aquele que consegue compreender e vivenciar isso, ou seja, liberta-se do desejo inconsciente da busca da satisfação através da realização de seus desejos, não tem pressa de que esse momento se encerre, pois tudo o que ele quer está presente neste segundo. Aquele que consegue atingir a consciência espiritual vive cada segundo em toda a sua intensidade. Apesar de ter toda eternidade, vive profundamente cada segundo.
Parece incongruência dizer que o espírito, que tem toda eternidade para existir, vive profundamente todo segundo. Parece até algo sem nexo. Quem tem toda a eternidade para existir não deveria prestar tanta atenção ao momento presente que é tão fugaz, mas, garanto que aquele que possui a consciência espiritual vive cada segundo como se fosse uma vida inteira, tal a profundidade que ele o vivencia.
E, exatamente por viver tão profundamente cada segundo, o tempo é sempre curto, tudo é sempre rápido, para aquele que vive com a consciência espiritual. Agora, para vocês que estão sempre em busca de viver o futuro, falar em eternidade é falar no amanhã que está perto. A demora de apenas alguns dias ou mesmo minutos para a realização daquilo que é desejado, já se constitui numa eternidade.
Isto porque o ser aprisionado à realização de seus desejos tem a ânsia de que o tempo corra, para que ele possa conseguir realizar o máximo possível de suas aspirações e, assim, ter mais prazer.
O ser liberto do vício do prazer não tem ânsia de chegar a lugar nenhum porque ele já é tudo que pode ser e já está onde quer estar: com e em Deus.