Participante: mas, é difícil mandar o mundo se danar, não?
Sim. Por quê? Porque vocês preferem sofrer ao invés de mandar o mundo se danar.
Participante: porque estamos no mundo.
Não, você não está no mundo; ele é que está em você.
O mundo está em você. Quem é essa pessoa que está ao seu lado? Quem você disser que é.
Perguntando a cada um que está presente aqui quem é uma mesma pessoa, terá tantas definições quanto as pessoas que as darão. Inclusive, a definição dele sobre si será diferente de todas as outras. Mais: se perguntar a ele quem é você, garanto que não terá uma definição precisa sobre si.
Por isso digo que o problema não é o mundo aí fora, mas a convivência com o mundo internamente. Vou dar um exemplo. Digamos que não goste de uma pessoa, pois diz que ela é de tal jeito. Essa pessoa pode não ser assim externamente, mas, como você acredita que é, torna-se aquilo.
É nesse momento que precisamos agir. É com a pessoa que criou dentro de si e que não consegue enxergar de outra forma que precisa aprender a conviver com emoções que não lhe façam sofrer.
Mandar o mundo se danar não tem nada a ver com os outros, mas mandar você mesmo, suas ideias sobre as coisas e as pessoas, se danar.
Deixe-me dizer uma coisa: sempre que descobre que é incapaz de mudar uma pessoa, seja interna ou externamente, e liberta-se de viver uma determinada emoção, sua vida muda, seu mundo muda. Isso é importante: você muda o mundo quando muda a si.
Vou contar uma história para ilustrar o que estou dizendo.
O vestido azul.
Num bairro pobre de uma cidade distante, morava uma garotinha muito bonita. Ela frequentava a escola local. Sua mãe não tinha muito cuidado e a criança quase sempre se apresentava suja. Suas roupas eram muito velhas e maltratadas.
O professor ficou penalizado com a situação da menina. “Como uma menina tão bonita, pode vir para a escola tão mal arrumada”? Separou algum dinheiro do seu salário e, embora com dificuldade, resolveu comprar um vestido novo. Ela ficou linda no vestido azul.
Quando a mãe viu a filha naquele lindo traje, sentiu que era lamentável que sua filha, vestindo aquela roupa nova, fosse tão suja para a escola.
Por isso, passou a lhe dar banho todos os dias, pentear seus cabelos e cortar suas unhas. Quando acabou a semana, o pai falou: mulher, você não acha uma vergonha que nossa filha, sendo tão bonita e bem arrumada, more em um lugar como este, caindo aos pedaços? Que tal você ajeitar a casa? Nas horas vagas, eu vou dar uma pintura nas paredes, consertar a cerca e plantar um jardim.
Logo, a casa destacava-se na pequena vila pela beleza das flores que enchiam o jardim, e o cuidado em todos os detalhes. Os vizinhos ficaram envergonhados por morarem em barracos feios e resolveram também arrumar as suas casas, plantar flores, usar pintura e criatividade. Em pouco tempo, o bairro todo estava transformado.
Um homem, que acompanhava os esforços e as lutas daquela gente, pensou que eles bem mereciam um auxílio das autoridades. Foi ao prefeito expor suas ideias e saiu de lá com autorização para formar uma comissão para estudar os melhoramentos que seriam necessários ao bairro. A rua de barro e lama foi substituída por asfalto e calçadas de pedra. Os esgotos ao ar livre foram canalizados e o bairro ganhou ares de cidadania.
E tudo começou com um vestido azul.
(Autor Desconhecido)
Quem mudou esse mundo? Aquele professor que comprou o vestido azul para a criança. Ele não queria mudar seu bairro, sua rua, nem mesmo a criança. O que queria era mudar a sua vivência com aquela menina.
No entanto, como sempre, quando cada um muda a si, o mundo muda.
Participante: isso que acabou de falar parece um pouco contraditório com a ideia de aceitação das coisas como se apresentam que o senhor ensina.
O que estou falando é da própria aceitação e não da ação. O que estou dizendo é que precisamos desenvolver internamente uma aceitação da situação como ela é. Só que o que vocês não compreendem é que essa aceitação leva a uma mudança, pois quando se deixa de lutar contra a vida, o mundo inteiro muda.
Veja como isso é verdade. Aquele que sofre porque vive alguma situação como horrível, se aceitar a sua incapacidade de mudar o que está acontecendo, não mais viverá essa mesma situação dessa forma. Com essa nova vivência, que é fruto de uma aceitação, acontecerá uma mudança da realidade.
Você, mudando internamente, muda o que existe no externo. A situação não é horrível, mas apenas da forma como se apresenta.
Claro que o que apresentei acima é uma parábola. Não estou dizendo que, ao se mudar, as coisas do seu mundo mudarão. Não estou dizendo que o seu patrão vai pagar mais porque agora não sofre mais ao ir trabalhar ou que o político vai fazer mais obras porque você não reclama mais. O que estou querendo mostrar é que, quando parar de achar internamente as coisas do seu mundo feias, não importa o que as pessoas vistam, estarão sempre dentro da moda para você.
Participante: o que o senhor está falando está ligado à mesma questão que já falou a respeito de ler livros. Como disse, se der um livro para cada um, todos os que lerem terão interpretações diferentes do que está escrito.
Na verdade, cada um escreverá um livro, pois a sua interpretação o torna completamente diferente do que o outro leu.