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Vou tentar resumir o assunto porque a sua história é grande. Você me diz que vem colocando em prática os ensinamentos e por isso tendo grandes momentos de paz. Só que ao ir a um centro de umbanda apenas para conversar com um exu, ele disse que precisa se atentar mais com relação à realização material.

Pelo que pude depreender do que falou, isso lhe causou estranheza. Acredito que sim, acredito que essas palavras ao ressoarem dentro de você abalaram um pouco as suas estruturas, mas isso não precisaria acontecer.

Se entendêssemos um pouco mais as palavras desse mundo isso não precisaria acontecer. Vou tentar explicar o que estou falando.

Na oitava conversa do estudo Guerreiro da paz, falei rapidamente uma coisa: vocês, seres humanos, vivem em três mundos simultaneamente. Vivem no mundo da ação, onde acontecem as movimentações das coisas, no mundo da razão, onde se valorizam as ações, onde se dá valor às ações e no mundo das emoções, onde a razão gera um determinado sentimento, uma emoção.

Para falar desses mundos dei o seguinte exemplo. No mundo humano uma mão se mexe. No mundo da razão a movimentação da mão é avaliada como um carinho ou como uma agressão. No mundo da emoção se tem o prazer de receber um carinho ou a dor de receber uma agressão.

Esses três mundos que coexistem, ou seja, a cada momento você está os vivendo de uma forma simultânea. Isso é importante ter consciência para se compreender as palavras desse mundo.

O exu lhe falou em realização profissional e você atribuiu esse termo ao mundo da ação, a fazer alguma coisa, a agir de determinada forma. Sei que ele, como relatou, chegou a comentar algumas ações e a propor outras. Talvez por isso você tenha levado para esse lado o termo. Só que a realização profissional não acontece no mundo da ação: ocorre no mundo da razão.

Realização profissional é um valor que a mente gera para as ações realizadas na questão profissional. Ninguém se realiza pelo que faz. Na verdade, se vive o que é feito de uma forma realizada ou não. Esse é um aspecto importante: entender que a palavra não se refere a atos, mas ao mundo da razão.

Se olhar por esse ângulo, verá que realmente está fugindo de uma realização profissional. Acha que viver essa realização é tornar-se inimigo da realização espiritual. Isso não é verdade. A realização profissional só é inimiga da espiritual quando gera dependências de ações, ou seja, gera dependências de ganhar determinado valor, de passar no concurso, etc.

Quando a razão precisa de uma ação para poder decretar a realização material, ela se transforma em inimiga da espiritual. Quando não depende da ação, a realização material não ofende em nada a espiritual.

Não sei se estou conseguindo me fazer entender. O que estou querendo passar é que está fugindo do sentir-se realizado profissionalmente, quando, na verdade, já é realizado com o que faz. O que está se tratando aqui não é de ter mais aspirações, mas de acabar com a sua negação de achar que pode se sentir realizado profissionalmente.

Isso pode acontecer. Não há problema algum. Desde que, como disse, a realização não seja condicionada a nada. Aliás, sentir-se realizado materialmente com o que tem é um caminho para espiritualização. Porque? Porque acaba com a posse, a paixão e o desejo.

Quando se sente realizado com o que tem não quer comandar o futuro para que traga aquilo que imagina que precisa. Quando se realiza com o que tem não vai querer, desejar, ter paixões, por nada diferente do que tem.

Lembra de uma coisa que já falei? ‘Amo tudo que tenho, mas não tenho tudo que amo’ é uma ilusão, pois quem ainda acha que falta alguma coisa que ama, não está amando o que tem.

Portanto, deve amar o que tem. Por conta desse amor ao que já possui, pode sentir-se realizado materialmente. Não há problema algum nisso. Aliás, como já falei, essa realização torna-se, inclusive, um gatilho para que não queira mais nada. Se já está realizado com o que tem, o que mais irá querer?

Esse é o primeiro detalhe da sua pergunta. Deixe de fugir de alguns elementos materiais como os evangélicos fogem do diabo, por exemplo. Eles não são o diabo, o mal: são instrumentos da prova. Por isso pode ter tudo, viver tudo o que o ser humanizado vive, mas só não pode deixar que essas coisas acabem interferindo na sua realização espiritual.

O segundo detalhe da sua questão. Já que falou que tudo o que escreveu estava condicionado à ideia de Deus como Causa Primária, pergunto: para que esse espírito falou com você? Para acordá-lo, para sacudi-lo nessa questão.

Buscar a espiritualidade não tem nada a ver com fugir das coisas materiais. Trata-se de aprender a conviver com elas. Mesmo o prazer é necessário, pois faz parte da vida. Tê-lo não é problema algum. O problema está em gerar dependência dele, ter prazer por ter prazer.

Então, dentro do trabalho que está fazendo – e aqui eu tenho a informação de que realmente vem conseguindo mais paz – concentre-se agora em não tratar as coisas materiais como filhos do diabo, como coisas erradas, horríveis. Aceite tudo que a vida lhe dá e não peça nada a mais.

Foi para isso que o exu conversou com você. Foi para lhe despertar nesse sentido. Claro, falou ainda para que pudéssemos ter essa conversa.

Espero ter lhe orientado no que me perguntou. Se quiser conversar mais sobre este ou outros temas, fique à vontade.

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