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“Não há, pois, motivo de espanto no fato de o Espírito não preferir a existência mais suave. Não lhe é possível, no estado de imperfeição em que se encontra, gozar de uma vida isenta de amarguras. Ele o percebe e, precisamente para chegar a fruí-la, é que trata de se melhorar”.
O espírito liberto da consciência humana que sempre o enaltece, que lhe diz que ele é um sábio, que é poderoso e que pode agir livremente, reconhece o seu estado de imperfeição. Por isso busca agir no sentido de melhorar-se.
Observando apenas a essência de tudo o que falamos aqui, o que é a imperfeição do espírito? Viver apegado ao bom. Como um espírito pode melhorar-se, então? Libertando-se do bom. Para isso ele precisa deixar de achar que o bom é bem… Eis aí um grande problema para o ser humanizado. Para manter o espírito encarnado iludido no tocante ao bem e o bom, a mente humana interpreta o bom como bem.
A mente humana manipula o conhecimento do bem para transformá-lo em bom e assim justificar a interpretação. Agora, reparem: ela só faz isso quando o próprio ser humano leva alguma vantagem na situação. Ou seja, o bom é adaptado para parecer com bem quando há algum lucro individual do ser humano. Para falar deste tema vamos usar algo que está muito em moda hoje no Brasil: a corrupção dos governantes…
Os habitantes do seu país abominam e acusam os governantes que roubam o dinheiro público. Quando fazem isso parecem que são santos, que aquilo é algo nobre, certo, elevado, mas será que quem está criticando tem moral para isso?
O que acontece normalmente quando um ser humanizado neste país é pego em flagrante delito no trânsito? Dá um dinheiro para o guarda para se livrar da multa. O que acontece no momento em que vão fazer seu acerto de contas anual com o fisco? Inventam despesas para poder pagar menos. Quando alguém derruba floresta para construir uma casa para ele mesmo, isso é uma calamidade, mas quando for para construir a sua casa pode, não é mesmo?
Estes são alguns exemplos de adaptação do bom para o bem, ou seja, do certo. O que é errado para os outros é justificável quando aquilo trouxer um lucro individual para o ser humano.
Quando falamos do passado do planeta vimos que tudo está interligado, que tudo se interdepende. Esta interdependência das coisas acaba juntando num só lugar todos os que precisam vivenciar determinadas situações. Por isso posso dizer que cada povo ou país tem uma vivência que está ligada a um gênero de provas.
Quando o gênero de um país se adéqua àquilo que o espírito reconhece que precisa melhorar-se, ele, então, se voluntaria para nascer nele. No caso da corrupção, que é latente a séculos no Brasil, posso dizer, então, que os espíritos que aqui estão vivendo suas encarnações é porque voluntariam-se para ter este lugar de nascimento. Por quê? Porque sabiam que o bom do corromper estaria sendo trabalhado no Brasil.
O espírito se voluntaria para viver no Brasil uma determinada encarnação para poder vencer a provação do querer levar vantagem individualmente. Para isso, neste país, vivencia a situação onde se torna hábito subornar para poder levar vantagem. Apegando-se que isso é certo, que deve ser feito já que os políticos são os primeiros a roubarem, vivem o bom. Crendo em tudo isso vivem a crítica aos políticos como certa, e com isso vivem o bom como bem.
Este é um exemplo da adaptação do bem para satisfazer o bom, mas há outros casos. Corromper não tem nada a ver com dinheiro. Corromper é usar de meios ilícitos para poder levar vantagem. Quem enaltece a si mesmo dizendo-se um sábio, um conhecedor do certo neste mundo, não está usando de um meio ilícito para levar alguma vantagem? Quem vive a ideia de estar certo não quer ensinar aquilo que acredita e que quando faz não acha que está sendo o bom, uma pessoa caridosa que está ajudando o outro? Isso não é adaptar o bom para que ele seja tratado como bem? Quem pratica a caridade material como instrumento da sua elevação não está usando o que é considerado bem para ganhar no outro mundo?
Quem compreende o seu estado espiritual imperfeito sabe que a humanidade que vive nesta encarnação jamais será um instrumento do bem, mas apenas de um bom que servirá como caminho para que a reforma íntima se realize. Por isso jamais se considera certo, que não precisa mudar-se ou isento de culpas…
O ser humano que se acha o certo através da transmutação do bom em bem, quando vai a um centro espírita e ouve uma palestra sobre algum ponto chamado negativo da humanidade, a primeira coisa que pensa é que outra pessoa deveria estar presente ali para ouvir aquilo. Diz que aquela pessoa precisava ouvir isso, pois ela ainda é falha naquele aspecto da reforma íntima. Lamenta profundamente que ela perdeu aquela oportunidade…
Acreditar nisso é dizer que na vida haja momentos que não tenham nada a ver com sua necessidade. Tudo que lhe acontece, como nós já cansamos de ver aqui, está sempre ligado ao propósito de lhe proporcionar uma oportunidade de reformar-se. Ora, se você está ali e não aquela pessoa é porque aquilo tem um propósito para você e não para ela. Aproveite-o…
Porque não aproveitam o momento? Porque não reconhecem em si as suas falhas, mas veem sempre no outro. Por isso Cristo disse:
“Por que é que você olha o cisco que está no olho do seu irmão e não vê o pedaço de madeira que está no seu próprio olho? Como pode dizer ao seu irmão deixe-me tirar esse cisco do seu olho, quando você tem um pedaço de madeira no seu próprio olho? Hipócrita! Tire primeiro o pedaço de madeira que está no seu olho e então poderá ver bem para tirar o cisco que está no olho do seu irmão”. (Bíblia Sagrada – Evangelho de Mateus – Capítulo 7 – Versículo 4 e 5).
A mente humana prioriza a questão da ajuda ao próximo. Por isso lhe faz sempre estar olhando para as necessidades dele e os faz esquecer as suas próprias. Diz que isso é fazer o bem, mas não mostra que assim está escondendo o apego ao bom.
A vida humana é a oportunidade de um espírito elevar-se. Por isso ela deve ser vivida na individualidade. Tudo o que é vivenciado durante uma encarnação precisa ser tratado como uma oportunidade de trabalhar a si mesmo e não de ajudar o outro. Como acreditam que ajudar os outros é bem, não veem que a mente está apenas retirando o foco do seu próprio trabalho, ou seja, está agindo a favor do bom.
Para poder manter este afastamento do foco da encarnação, a mente cria a ideia de que o ser humanizado é obrigado a ajudar os outros se quiser alcançar a elevação espiritual. Engano. O ser humanizado não é obrigado na nada, nem fazer a sua elevação espiritual. Promover a reforma íntima não é obrigação para um ser encarnado, mas uma questão de opção: só faz quem opta por isso.
Se nenhum ser encarnado é obrigado a promover a reforma íntima, porque você quer obrigar o outro a fazer? Ele tem o direito de não fazê-lo e você não tem nada a ver com isso… Se você quer fazer, faça, mas, não queira se achar no direito de obrigar o outro a fazer.
Esta é a forma que cada ser deveria viver para poder fazer a sua elevação espiritual. Mas, como viver assim se o ser encarnado acredita na manipulação do bem que a mente faz para lhe aprisionar ao bom? Difícil… Só quem reconhece que está encarnado porque é imperfeito pode concentrar-se na sua própria evolução e não cair na cilada da mente.