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“Meus irmãos sintam-se felizes quando passarem por todo tipo de aflições” (Epístola de Tiago – cap. 1, vers. 2)

O primeiro ensinamento de Tiago é que o cristão deve estar sempre feliz, não importando qual seja a situação que esteja vivenciando. Por mais que não goste do que está acontecendo, deve se sentir feliz. A esse estado de espírito chamamos de felicidade incondicional, ou felicidade universal.

Vivenciar a felicidade universal é para Tiago, como é para Cristo, a primeira providência que um cristão deve tomar. Quando alguém se declara cristão deve, antes de qualquer atitude (oração, caridade ou qualquer outro rito religioso), manter-se em um estado de felicidade incondicional, ou seja, não depender dos acontecimentos para ser feliz.

Só nessa primeira frase da epístola de Tiago podemos deixar bem claro: ser cristão, praticar os ensinamentos de Cristo é, acima de qualquer coisa, ser feliz. Quem cultiva os ensinamentos do mestre nazareno vivendo dor não segue os ensinamentos deixados pelo próprio mestre, pois busca nela o que Cristo alcançou na felicidade.

É necessário, para ser um bom cristão, vivenciar Cristo com felicidade. Amando o Mestre de uma forma sofredora, a famosa paixão de Cristo, vendo sofrimento na sua crucificação, não está seguindo o ensinamento do próprio mestre, que morreu na cruz para nos salvar.

A crucificação é o exemplo maior que Cristo nos deixou. Ele passou pelas situações de sofrimento, sem merecimento negativo, para nos mostrar que todos têm que passar pelas suas situações de sofrimento durante a encarnação.

Todos serão crucificados enquanto encarnados, todos serão humilhados, xingados, atacados. Mas, Cristo nos mostrou com a sua ressurreição que é isso mesmo que nos salva, ou seja, que nos leva a alcançar a elevação espiritual.

Sendo assim podemos afirmar, parodiando uma das bem-aventuranças, que o ser humanizado só se elevará quando for perseguido e caluniado, ou seja, quando passar pelas situações que espelham essa essência sem sofrimento.

A salvação para o ser encarnado é passar pelas suas situações de sofrimento, pelo seu martírio como Cristo passou: glorificando a Deus acima de todas as coisas.

Já no começo da análise da sabedoria de Tiago nos deparamos com um ensinamento profundo: sem felicidade incondicional não existe cristianismo. Sem felicidade não se pode falar em nome de Cristo, porque são duas coisas que não se combinam: sofrimento e Cristo.

Dessa forma, saibam que toda vez que se sofre, nega-se a Cristo.

“Pois vocês sabem que, quando a sua fé vence essas provações” (Idem – 1,3)

Para podermos nos dizermos cristãos devemos, como vimos, nos manter felizes nos momentos de sofrimentos, ou provações que Deus nos dá durante a encarnação. É para nos ensinar a viver dessa forma que Tiago afirma que a fé vence todas as provações.

Mas, o que é fé? Entrega e confiança total no objeto dela. A fé em Deus é a entrega e confiança total no Pai Supremo, no Senhor do Universo.

Quando você tem fé, entrega-se a Deus e abre mão de ser, existir, fazer, mandar, criticar. Abre mão de julgar as coisas do mundo porque entrega esse julgamento nas mãos de Deus. Esta entrega não é feita com medo, com receio, mas com confiança total.

Confiança total no quê? Nos atributos intrínsecos de Deus que são elevados ao expoente máximo: Justiça Perfeita e Amor Sublime. São nestas duas características do Pai Supremo que se baseia a confiança total para a entrega.

A confiança na Justiça Perfeita, ou seja, a confiança de que não sucederá nenhum acontecimento conosco que não seja merecido.

A fé deve ser sentida com a confiança em um Pai que jamais castigará o seu filho sem que este mereça. A confiança naquele Ser Supremo que tem a capacidade perfeita de avaliar todas as coisas que estão acontecendo.

No entanto, esta confiança deve ser fundamentada além da Justiça principalmente, no Amor.

Confiar no amor de Deus: esta é postura mais difícil para um ser humanizado assumir. O espírito encarnado não confia no amor de Deus, não se sente amado pelo Pai, quando as coisas acontecem diferentemente do seu desejo.

Ele só sente o Amor de Deus quando o acontecimento lhe satisfaz, quando as suas esperanças são concretizadas. Mas, esta forma de proceder não espelha uma entrega a Deus, mas a si mesmo. Nesse caso a fé não é no Senhor do Universo, mas a si.

Para vencer o sofrimento, para ser um cristão, é preciso que o ser encarnado a cada segundo da sua vida, não importa o que está acontecendo, se senta amado por Deus. Se você não se sentir amado pelo Pai a cada segundo, não importando o que você “acha” da situação que está ocorrendo, jamais conseguirá ser feliz incondicionalmente.

Essa é a confiança que Tiago fala. A confiança que Deus nos ama, que sabe o que é melhor para nós e que tudo que nos acontece é fruto deste Amor.

Só vivendo a vida carnal com a realidade sendo criada a partir da fé, se acha a felicidade. Somente dessa forma se encontra a alegria incondicional.

A felicidade não deve surgir pelo acontecimento, mas deve ser sentida pela convicção de estar sendo amado por Deus a cada segundo através do acontecimento. Mas, como se vivenciar essa felicidade vendo tanta maldade no mundo, tanta coisa ruim acontecendo?

Trocando a maldade e a ruindade pela Justiça de Deus. As coisas más e ruins são aquelas que acontecem quando quem as recebe imagina-se não merecedor daquela situação.

Quando o que está sucedendo é avaliado como uma reação a uma ação anterior recebe-se a situação como uma expiação, o resultado de uma justiça, não como uma punição.

Deus é a Justiça Suprema, ou seja, dá a cada um o justo de acordo com as suas obras. Podemos, então, concluir que Deus é o justiceiro do universo: que ele “machuca” quem um dia machucou o próximo?

Não. Deus não é justiceiro: é a Justiça. A diferença está na aplicação da pena. O justiceiro é aquele que julga pela lei de Talião: “olho por olho, dente por dente”. Você feriu uma pessoa, terá que ser ferido: tem que pagar pelo que fez.

O justiceiro pune a ação. No entanto, Deus não pune ninguém. Ele é a Justiça: dá o que cada um merece, não como punição, mas como expiação.

Vamos exemplificar. Um ser encarnado lança raiva no universo, ou seja, pratica um ato espiritual. Por este ato que desarmonizou o todo universal (sentimento negativo) o ser precisará anular esse sentimento.

A desarmoniza surge porque no universo não existe nada negativo. Nada que provenha do Pai Supremo pode ser negativo. O ser humano é que transforma o positivismo universal em negativismo.

Negativar o positivo é individualizar o universalismo de Deus. Deus nos ama de uma forma universal, mas o ser humanizado busca, utilizando este amor, realizar as suas “vontades”: isto é negativar um sentimento.

Quando esta ação individualista é executada, o ser negativa o que veio positivo de Deus. Para neutralizar esta polaridade gerada pelo individualismo do ser humanizado é preciso que ele utilize, em nova ocasião, o sentimento enviado por Deus de forma universal, sem buscar a satisfação individual.

A Justiça de Deus, então, é comandar um novo acontecimento, uma nova situação. Ela não objetivará castigar o ser humanizado pela raiva que sentiu, mas para lhe dar uma chance de lançar amor no universo. Dessa forma, o espírito encarnado poderá tornar a equilibrar o que ele mesmo desequilibrou.

A Justiça de Deus é baseada no Amor: uma nova chance de evolução através da expiação. Se alguém hoje está passando por uma situação de ser ferido fisicamente é porque ele precisa receber aquilo. Nesse momento terá a oportunidade de escolher o amor para reagir à situação. Dessa forma, neutralizará um sentimento que um dia sentiu e desequilibrou o universo.

Não é maldade de Deus, ou castigo divino: trata-se de uma nova oportunidade que o Pai dá ao filho pródigo, como nos ensinou Cristo. Esta é a aplicação da Justiça de Deus.

Quando vemos apenas o momento atual, a situação que está ocorrendo conosco ou com os outros, sem que se aplique a impermanência das coisas, encontra-se a maldade, o castigo, a ira divina.

Ninguém sabe o que aquele que hoje está sofrendo, ontem já foi o agressor. Deus não pode simplesmente passar a mão pela cabeça de quem ontem agrediu sem ser injusto com o todo espiritual que foi desequilibrado por ele. É preciso que o próprio ser universal reponha o que ele negativou.

Então, quem hoje está passando por uma situação de sofrimento é porque, em alguma época (nesta ou em outras vidas) cometeu alguma atrocidade contra o universo individualizando o que era universal. Como o ser humanizado não consegue enxergar as suas ações individualistas imagina-se não merecedor da reparação e, por isso, acusa de injusto os acontecimentos atuais.

Devemos, no entanto, deixar uma coisa bem clara: não estamos falando de ato, mas de sentimento. O ato do ser humano não desequilibra o universo, mas a negativação (individualização) do universalismo (base da ação de Deus) é que provoca a desarmonia. A ação reparadora do ser não deve se exprimir através de atos, mas de sentimentos.

É observando a personalidade (conjunto de sentimentos) de um ser que Deus determina as ações que ele passará para poder expiar a desarmonia que causou. Os atos que servirão como oportunidade para reparação podem não ser os mesmos de quando a desarmonia foi gerada, mas o objetivo do sentimento negativo a ser vencido será sempre o mesmo: a busca do prazer individual, da satisfação de suas vontades.

Se a desarmonia inicial gerou, por exemplo, um ferimento físico em outro não quer dizer que agora ele sofrerá ferimentos corporais. Isto porque existem pessoas que preservam o corpo físico, mas outras que não agem desta forma. Estas pessoas, no entanto, dão valor (individualismo) a outras coisas e será através delas que a ação para expiação agirá.

Vamos exemplificar. Se para quem precisa passar pela situação de expiação a ganância (preservação do patrimônio material) é importante, o ato que possibilitará ao ser humano escolher um sentimento positivo para neutralizar o individualismo utilizado anteriormente atacará seus bens.

Para o ganancioso um ladrão roubar seus bens ou sua empresa ir a falência é a mesma dor que sente o vaidoso quando vê seu corpo ferido. Em todos os casos Deus não está atacando as coisas materiais, mas a importância (individualismo) que elas têm para o ser.

Desta forma, a Justiça de Deus não se baseia em atos semelhantes (olho por olho), mas comanda acontecimentos que se espelhem o mesmo direcionamento dos sentimentos (individualismos). O objetivo da ação divina é provocar a mesma situação sentimental para que o espírito tenha a oportunidade de mudar os seus sentimentos.

Isto é a vida no planeta Terra: a cada segundo Deus cria uma nova situação baseada em um sentimento anterior do ser, para que o espírito encarnado possa mudá-lo, ou seja, alterar o direcionamento (polaridade) do sentimento: ao invés de amar a si mesmo, buscar a sua satisfação, amar a Deus sobre todas as coisas, universalizar-se.

Tudo isso Deus nos dá não como castigo, mas como uma nova chance de evolução. Você amar a situação quando acontece tudo de bom na sua vida não tem vantagem nenhuma. Isso não é amor, é egoísmo. Não é amor a Deus, mas idolatria a si mesmo.

Para o ser humano quando tudo está “bem” acontece a desarmonia universal, espiritualmente falando. Para que o espírito encarnado possa se sentir feliz hoje, sem a fé, é preciso que só aconteça o que ele quer, o que deseja, o que acha bom.

Muita gente afirma que gosta de ambiente alegre, mas não entende que a sua alegria é o sofrimento para o próximo. Para que um ser humano esteja feliz é preciso que ele mande nos acontecimentos, ou seja, que lhe satisfaça. Apenas quando o próximo lhe obedece, faz o que ele quer, aí surge a satisfação.

Isso é alegria, é ser amoroso?

Hoje o ser humano só consegue a felicidade quando se transforma em senhor de escravos, ou seja, quando consegue subjugar todas as vontades alheias para que os outros façam exatamente aquilo que ele quer.

A partir destes conhecimentos podemos, então, compreender a lógica da vida humana, do destino. A situação atual representa a Justiça de Deus em ação, não como castigo, mas como expiação. Ela é uma reação a um sentimento anterior e serve para que o ser humanizado, ao optar por amar a Deus sobre todas as coisas, neutralize a emissão de sentimentos anterior.

Por esta lógica a situação ferirá sempre o desejo individual, por isso, ao vencer o individualismo (os seus desejos) o ser adquire merecimento. Amar a situação, ser feliz incondicionalmente, dá valor à vida material espiritualmente falando.

Viver feliz incondicionalmente é ver uma faca entrando no seu corpo (ferimento) e afirmar: “louvado seja Deus por isso estar me acontecendo”. Está perdendo todas as suas posses materiais e agradecer a Deus por este acontecimento. Isto é dar o valor espiritual à vida material.

O valor espiritual surge porque, na hora que você foi contrariado amou a Deus acima da sua contrariedade. Esta forma de viver, entretanto, só nasce pela fé: confiança e entrega total ao Pai Supremo, ao Senhor do Universo.

Você só alcançará a felicidade que Deus tem prometido quando você tiver confiança em Deus. Quem confia na Justiça Suprema não encontra motivos para injustiças, maldades ou feiuras em um mundo que é governado pela Inteligência Suprema do Universo.

Não é ilógico se cultuar Deus como a Inteligência Suprema, o Ser mais bondoso do universo e depois acusar erros ou injustiças no Seu mundo? Que crença é essa? Que fé é essa onde apenas se acredita nela quando os desejos individuais são satisfeitos?

Para se ter a verdadeira fé é necessária a entrega e confiança em Deus. Não uma fé cega, dogmática, mas gerada pela confiança na Justiça Perfeita e no Amor Sublime que somente a Inteligência Suprema pode ter.

Com essa fé, o ser supera qualquer sofrimento em todas as situações da existência espiritual, ocorram elas em qualquer densidade de matéria. Com a fé em Deus alcança-se a felicidade e, com isso, extingue-se o sofrimento.

Portanto, o sofrimento não é inevitável, mas uma questão de opção individual do ser. Aquele que tiver fé em si mesmo, certamente sofrerá, pois o Senhor Supremo do Universo é Deus e não o homem.

“… ,ela produz perseverança.(1,3)

Tiago nos ensina ainda que a fé leva à perseverança, ou seja, persistência.

A fé em ação leva o ser universal a estar sempre percorrendo o mesmo caminho: o da felicidade espiritual. Sem a fé em Deus o ser humano permanecerá constantemente trocando de caminhos (objetivos de vida).

Na hora que o acontecimento for prazeroso ao ser humano afirmará: “louvado seja Deus”, “quem me deu isso foi o Pai”, “olha que maravilha que é Deus”. No entanto, na hora que o acontecimento contrariar os desejos individuais do ser humano, xinga a Deus e a todos os irmãos universais.

Só a fé que seja fundament6ada numa entrega com confiança total em Deus dá a perseverança no caminho espiritual, na busca de amealhar bens no céu, como nos ensinou Cristo. Só a fé serve como trilho certo para levar o espírito até a estação do reino dos céus.

Sem a fé o ser humano é como um automóvel: não tem trilho para percorrer. Ele se imagina livre e por isso percorre diversos caminhos diferentes. Com a fé o ser se transforma em um trem: caminha mais lento, devagar, mas chega.

A fé dá firmeza na sua caminhada. A perseverança que Tiago fala é no sentido de firmeza da sua caminhada em direção ao Pai. A caminhada sempre no trilho certo, na direção da estação do reino de Deus.

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