Vamos começar hoje uma série de conversas sobre a vivência espiritualista da vida, ou seja, vamos conversar sobre uma forma de se vivenciar os acontecimentos da vida humana. Por que é preciso ter este tipo de conversa? Vamos começar respondendo a esta questão, mas antes eu queria deixar uma coisa muito bem clara.
Apesar de estarmos falando sobre forma de viver, por favor, não imaginem que estou querendo criar normas, regras ou padrões de vivências dos acontecimentos humanos. Longe de mim estabelecer uma forma certa ou obrigatória de se viver qualquer coisa. Não é isso que pretendo com este trabalho.
O que pretendo é mostrar aos espiritualistas que existe uma forma de viver que leva a uma determinada consequência e outra que leva à outra consequência. Não estarei falando nunca em obrigação, obrigatório, mas pretendo lhe dizer que se vivenciar os acontecimentos deste mundo de uma forma, alcançará isso; vivenciando de outra forma alcançará aquilo.
A partir do momento que você ouvir o que tenho para dizer, então, é o seu livre arbítrio que indicará como vivenciar cada momento desta existência. Cada um terá e tem o direito de escolher aquilo que quer vivenciar. É por isso que ao fazer estas conversas não estou criando normas ou padrões, mas apenas indicando caminhos que levam a lugares diferentes.
Dito isso vamos, então, responder por que é preciso haver uma forma de viver espiritualista. Para responder esta questão temos que entender o que é ser espiritualista.
Espiritualista, segundo O Livro dos Espíritos, Introdução I, é aquele que acredita haver em si algo além da matéria. Só que todos os mestres ensinaram que nada adianta a submissão à letra fria dos ensinamentos. Para que eles possuam algum valor, é preciso que haja uma ação de acordo com aquilo que se acredita.
Por causa disso, posso dizer que ser espiritualista é muito mais do que acreditar que existe algo além da vida ou além de si mesmo, mas viver para este algo mais. É esta necessidade de viver para este algo mais que é a primeira razão pela qual é necessário se compreender e imaginar que há um caminho espiritualista. Mas, não pensem que isso é exclusividade dos espiritualistas…
Existem caminhos para aqueles que são católicos, evangélicos, budistas ou espíritas. Cada doutrina possui um caminho que é indicado para os seus seguidores. Cada caminho destes é voltado para determinado seres humanos: aqueles que comungam com os ensinamentos de uma doutrina.
É por isso que afirmo que não vamos falar sobre certo ou errado. Não existe caminho certo ou errado: tudo o que existe são caminhos que atendem a necessidade de determinados seres humanos.
O ser humano católico, por exemplo, tem algumas crenças. São elas que devem compor o caminho que este ser deve seguir. O budista, o evangélico e o espírita a mesma coisa. O materialista também. Cada um tem seu caminho. Por isso é preciso conversar sobre o caminho ou a forma de viver os acontecimentos da vida humana específico para os espiritualistas.
Esta é a minha motivação ao fazer esta série de conversas. Estarei falando àqueles que acreditam haver em si algo além dele mesmo e que querem viver para este algo.
Mas, porque os caminhos são diferentes? Porque não existe um só caminho para todos os seres humanizados? Porque cada caminho leva a um determinado ponto. Vou explicar isso…
Para os cristãos há um objetivo a ser alcançado durante a vida: atingir o reino do céu. Para os budistas é alcançar o nirvana. Portanto, os caminhos que estamos falando partem do agora e levam o ser humanizado à atingir o objetivo que é traçado pela sua própria crença.
Sendo isso verdade, pergunto: qual o objetivo de um espiritualista? Isso é importante entendermos agora antes de começar a conversar. Para isso vamos ver a pergunta 115 de O Livro dos Espíritos…
“115. Dos Espíritos, uns terão sido criados bons e outros maus? Deus criou todos os espíritos simples e ignorantes, isto é, sem saber. A cada um deu determinada missão, com o fim de esclarecê-los e de os fazer chegar progressivamente à perfeição, pelo conhecimento da verdade, para aproximá-los de Si. Nesta perfeição é que eles encontram a pura e eterna felicidade…”
Para o Espírito da Verdade, o ser renasce, revive, vive em diversas vidas, com o objetivo de atingir a perfeição. Reencarnações, que é uma crença do espiritualista, é um processo de vivência de várias vidas humanas onde o espírito busca atingir a perfeição.
Por causa desta afirmação, posso, então, dizer que atingir esta perfeição é o fim do caminho que o espiritualista deveria trilhar. Mas, o que é atingir a perfeição? Segundo a mesma pergunta, o espírito quando atinge esta perfeição aproxima-se de Deus.
Esta é a primeira conclusão que tiramos neste trabalho. O que vamos falar é de uma vivência de acontecimentos humanos que leve o ser a aproximar-se de Deus. Ela, por exemplo, é diferente do caminho do ser humano materialista, ou seja, aquele que acreditando ou não na existência de algo além da matéria, vive para a própria humanidade. Para o ser humano materialista a realização ou atingir o fim da caminhada é conseguir a vitória, ganhar, ter prazer, alcançar o reconhecimento e o elogio. Este é o reconhecimento material que mostra a este ser que ele conseguiu atingir o objetivo de sua existência.
Então, o ser humano materialista vive num caminho buscando realizações materiais e com isso aproximar-se de algo que é chamado de sucesso… Não estamos falando em sucesso como aparecer na televisão ou ser reconhecido na rua, mas conseguir realizar objetivos materiais.
Se este é o caminho do materialista, não pode ser o do espiritualista. Até porque, como já dissemos, o objetivo primário destes seres é alcançar a perfeição e isso se traduz em aproximar-se de Deus. Mas, há algo mais que o espiritualista busca… Na mesma pergunta que citamos, também é dito que ao se aproximar de Deus, ao atingir a perfeição, o espírito vive a felicidade plena.
Com estes conhecimentos, traçamos, então, o objetivo da caminhada do espiritualista. Ele não quer atingir o reino do céu, não quer atingir o nirvana ou a realização material: ele caminha, ou seja, vivencia os acontecimentos da vida buscando aproximar-se de Deus e viver a felicidade plena.
Um parêntese…
Felicidade plena não tem nada a ver com satisfação, conseguir realizações. A felicidade plena é algo que vocês pouco conhecem e que nós podemos traduzir como ter uma vivência em paz e harmonizado com o universo.
Então, este é o objetivo da vivência do espiritualista. Em cada acontecimento da vida que o ser humanizado espiritualista vivencia, ele o faz de uma forma que não se afaste de Deus e não deixe de viver a felicidade plena. Será sobre esta questão que iremos falar: vamos falar de diversos acontecimentos corriqueiros da vida do ser humanizado e abordar uma forma de viver estes acontecimentos, a vivência, sempre levando em consideração que para o espiritualista o objetivo final é aproximar-se de Deus e permanecer na felicidade plena.
Como já disse, ir por este caminho ou qualquer outro é opção. Por isso insisto que nosso trabalho não tem o objetivo de estabelecer regras, normas ou caminho obrigatório ou certo. Simplesmente o que vamos fazer é colocar uma placa dizendo: se for por este caminho, ao final da sua vivência, irá se aproximar de Deus e viverá a felicidade plena.
Poderíamos parar por aqui esta introdução, mas ainda falta estabelecermos duas coisas. A primeira: se vocês já repararam eu estou falando o tempo inteiro em vivência e não em viver. Qual a diferença entre estas coisas?
Viver é participar fisicamente do acontecimento. É ser um agente presente ao acontecimento. Por exemplo, viver é escolher entre a direita ou a esquerda, achar que aquilo está acontecendo com você, receber o que está acontecendo ou praticar alguma coisa. Vivenciar não tem nada a ver com matéria ou movimento. Tem a ver com forma interna de observar o que está se passando.
Sendo assim, posso dizer que a vivência do acontecimento não está em participar da ação, mas é gerada pela forma interna, mente e coração, que você se faz presente naquele momento. Vou dar um exemplo para ficar bem claro o que estou dizendo… Se uma pessoa profere uma calunia contra você, viver é ouvir a calúnia, vivenciar é sentir-se caluniado ou não.
Viver é físico, é participar com os órgãos do sentido humano. Vivenciar é interno: a mente e o coração participam. Por isso, se nós vamos falar de vivência, não vamos falar do que tem que ser feito, da forma como você fisicamente deve participar: se deve ou não usar alguma coisa, se deve ou não fazer algo, se deve pegar. Não falaremos de nada disso. Estaremos sempre analisando o mundo interno, a forma interna de estar presente naquele momento.
Quando falo isso explico também a razão de algo que já falamos: a necessidade de celebrar a vida. Só quando você está atento à sua forma de participar, a vivência, pode celebrar a vida, o que é fundamental para se estar perto de Deus e viver a felicidade plena.
Como já dissemos em outra oportunidade, vocês não celebram a vida, mas a morte. Isso porque celebram o viver, ou seja, a participação física na vida. Celebrar a vida só pode acontecer quando a vivência da vida é celebrada, porque é esta vivência que lhe leva a estar mais perto de Deus e na felicidade plena.
Este é o primeiro detalhe que faltava. O segundo trata-se de uma pergunta que precisa ser respondida…
O que vamos usar para compor este caminho, o caminho da vivência espiritualista? Claro, os ensinamentos dos mestres. São eles que ditam forma de vivenciar acontecimentos que criam o caminho para a aproximação de Deus. Vou dar um exemplo.
Quando Cristo diz que você não deve julgar, não está criando uma lei, uma obrigação, um conceito. Ele está lhe mostrando que vivenciar os acontecimentos sem o julgar o que está acontecendo lhe faz aproximar-se de Deus, viver em felicidade plena. Quando Krishna propõe o yajña, ele não fala como técnica, como lei ou obrigação. O que ele fala é que se viverem o yajña, ou seja, vivenciarem os acontecimentos sacrificando sua intencionalidade a Deus, vocês se aproximam do Pai e vivem a felicidade plena.
É desta forma que vamos usar os ensinamentos dos mestres. Não criando leis ou obrigações, até porque Paulo diz que a lei só existe para criar o pecado. Diz mais: Deus não aceita o homem pelo cumprimento da lei, mas sim pela fé, que é um dos assuntos que vamos conversar.
Então, não podemos estabelecer leis. Aliás, nem os mestres fizeram isso. Eles criaram corrimões para estes caminhos para vocês se ampararem. Criaram placas indicativas para vocês aprenderem a vivenciar os acontecimentos deste mundo procurando sempre aproximar-se de deus e viver a felicidade plena. Será isso, portanto, que vou fazer…
Vou me balizar pelos ensinamentos de todos os mestres, mas o farei isso seguindo o sentido que estabelecemos como objetivo da vivência do espiritualista: aproximar-se de Deus e viver em felicidade plena. O que vou fazer em cada acontecimento analisado é dizer: Cristo disse isso, se você vivenciar este determinado momento seguindo este ensinamento se aproxima de Deus; se não vivenciá-lo seguindo o que o mestre falou se afasta Dele.
Mas, dentre os ensinamentos dos mestres, quais são os mais importantes, aqueles que devemos nos ater mais proximamente?
Primeiro e segundo: amar a Deus sobre todas as coisas e amar o próximo como a si mesmo. Por isso sempre que indicar uma vivência, ela terá que estar subordinada a este mandamento de Cristo. Estes são os primeiros e mais importantes, pois como este mestre mesmo diz, são os dois únicos mandamentos que devem ser seguidos. Eles são a diretriz básica, principal, para aquele que quer ter uma caminhada espiritualista, ou seja, quer chegar ao final atingindo a perfeição e com isso estar mais próximo de Deus e viver a felicidade plena.
Outro ensinamento que estará sempre presente nas conversas que teremos é a máxima de Krishna: viver sem intencionalidade. Se você tem uma intencionalidade está amando a si acima do outro e de Deus. Portanto, a cada acontecimento da vida analisado preciso mostrar a presença da intencionalidade e dizer que se ela for vivenciada – intencionalidade é algo interno, portanto ela é vivenciada e não vivida – o ser atingirá outro objetivo e não o espiritualista.
Vamos usar, também, o ensinamento básico de Buda: desapegar-se das posses, paixões e desejos. Isso porque possuir, ou seja, querer criar determinados acontecimentos para que você tenha uma vivência prazerosa é amar a si mesmo acima de Deus e do próximo. Por isso precisamos vivenciar o despossuir, o não ter posse, o não apaixonar-se e o não desejar como instrumento dessa caminhada. E claro que também seguiremos os ensinamentos do Espírito da Verdade que nos foram trazidos através de O Livro dos Espíritos. Dentre eles, a própria questão da aproximação de Deus e a vivência da felicidade plena que já usamos para compreender os objetivos de uma vivência espiritualista.
Então, será isso que vamos fazer. Estaremos conversando sobre as diversas formas de vivenciar os acontecimentos do mundo humano usando os ensinamentos dos mestres para criar uma forma de viver que ao final da vivência lhe leve a estar mais próximo de Deus e vivendo a felicidade plena, amando a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a si mesmo, livre das suas intencionalidades, paixões, posses e desejos.