Pergunta 0007: Poder-se-ia achar nas propriedades íntimas da matéria a causa primária da formação das coisas? Mas, então, qual seria a causa dessas propriedades? É indispensável sempre uma causa primária.
Até aqui falamos do conhecimento que se pode ter de Deus de uma forma teórica. Agora iremos aplicar esse conhecimento a realidade vivida pelos seres universais, encarnados ou não.
A primeira informação prática é que a formação das coisas não está nas propriedades íntimas das matérias. Elas também estão sujeitas à Causa Primária para poderem executar ou não uma ação.
Vejamos um exemplo. O ser humanizado quando está com dor de cabeça toma um remédio. Na realidade, não está tomando um remédio (uma coisa), mas ingerindo diversos elementos químicos condensados sob a forma de pílula ou líquido. Toma o remédio porque acredita que esses elementos químicos têm a propriedade de curar a sua dor de cabeça.
O ser humanizado, mesmo aquele que se diz espírita, acha que o elemento químico Dipirona – um dos princípios ativos que cura a dor de cabeça – possui a propriedade de acabar com a dor. Mas, veja, a resposta do Espírito da Verdade é bem clara: qual seria a causa dessas propriedades?
Sendo espírita, então, o ser humanizado tem que perguntar a si mesmo: o que está por trás da propriedade da Dipirona? A resposta é uma só: Deus…
Aceitando o que diz o Espírito da Verdade, o ser humanizado precisa compreender que por trás da Dipirona há uma Causa para que ela aja. Sem essa Causa – sem Deus fazê-la agir – ela não age.
É por isso que um remédio não cura todas as pessoas que o toma. Pegue cem pessoas com a mesma doença e dê a elas o mesmo remédio. Como resultado verá que uma parte irá se curar, mas outra não.
Essa é a prova maior de que não é a propriedade do elemento químico que compõe o remédio que cura – se fosse deveria fazer o mesmo efeito em todos – mas sim a Causa Primária. É Ele que faz o elemento agir ou não.
A reação do remédio, seja quando a Causa Primária faça as propriedades da Dipirona funcionar ou não, se chama merecimento.
O ser humanizado pode tomar um remédio, mas só se merecer que o Pai faça a com que a propriedade íntima do elemento químico acabe com a dor, ele fará efeito. Agora se esse espírito encarnado não tiver o merecimento para a cura, pode se entupir de remédio que nada acontecerá.
Partindo desse minúsculo exercício de raciocínio, podemos estender o conceito para todos os acontecimentos do Universo: todas as coisas que acontecem não são causadas por suas propriedades, mas por Deus. Outro exemplo? Fogo …
A propriedade do fogo é queimar, mas quem é a causa do queimar-se? Deus. Por isso o fogo queima alguns e não outros.
Não acredita no que estou falando? O que você me diz das pessoas que andam descalças sobre brasas e não queimam a sola do pé?
É isso que é fundamental ao ser humanizado compreender nesse texto. Mas, mais do que compreender, é preciso colocar na prática.
A prática do ensinamento deve nos levar a entender que tudo aquilo que um ser humanizado sabe, trata como certeza, é baseado no seu conhecimento das propriedades das coisas. No entanto, essa certeza deve ser abolida, pois não percebem a Ação Primária de Deus que faz as propriedades funcionarem ou não.
Justamente por não perceberem a Ação Primária do Pai agindo é que os seres humanizados nomeiam o remédio como seu deus (causa primária) para a cura da dor. Mas, ele não pode ser causa primeira de nenhuma ação, porque é burro. Somente uma Inteligência Suprema pode criar a Realidade, a Verdade Absoluta.
É isso que precisamos começar a compreender. De nada adianta ler e estudar O Livro dos Espíritos sem aplicar os ensinamentos nos acontecimentos da vida. De nada adianta para a busca espiritual dizer que estuda o espiritismo ou que é espírita e ainda continuar achando que são as propriedades íntimas dos elementos químicos que formam o remédio que agirão e curarão a dor de cabeça.
Não adianta estudar tudo isso e ainda achar que a gasolina é que movimenta o carro. Mas quem causa primariamente a combustão para que o motor funcione? Deus.
Precisamos levar o conhecimento trazido não só pelo Espírito da Verdade como por todos os mestres, aos mínimos detalhes da vida, das coisas (pessoas objetos e acontecimentos).
Na sua casa certamente há um sofá. Pergunto, então: quem mantém os átomos do sofá presos dentro daquela forma? Deus. Se Ele não causasse a coesão dos átomos, eles estariam livres e se espalhariam pelo Universo. Você sentaria onde?
Viu como o conhecimento na prática transforma o mundo? Seu sofá não existe mais por si só, mas sim como algo causado primariamente pela Inteligência Suprema do Universo.
Parece que estamos usando exemplos simples, bestas, sem muito debate técnico-científico sobre as coisas, mas isso é irreal. Estou falando da prática. É o que acabei de falar: se não aplicarmos o conhecimento adquirido ao dia a dia, de nada valeria a pena estudar.
Deus é a causa de tudo: ponto final.
É a causa de haver uma voz: é Ele quem cria os sons que chegam aos seus ouvidos. Não é a pessoa, a garganta, o microfone nem a linha do telefone que gera som. Atrás de todas essas coisas está presente uma Causa Primária.
O Pai é a causa de haver este livro. Se Ele não causasse primariamente as propriedades da folha, da tinta, das máquinas que imprimiram e do seu olho para ver, nada disso existiria. Aliás, se Ele causa tudo, o livro foi escrito por Ele.
Portanto, é preciso não só compreender o que os mestres ensinaram, mas também aplicar os ensinamentos – principalmente os do Espírito da Verdade para aqueles que se dizem espíritas – no dia a dia da vida. Sem vivenciar os ensinamentos na prática é como se nada tivesse feito, pois o conhecimento sem prática é apenas uma informação, uma cultura que de nada servirá para a elevação espiritual.
Compreensão de Kardec sobre este tema::
Atribuir a formação primária das coisas às propriedades íntimas da matéria seria tomar o efeito pela causa, porquanto essas propriedades são, também elas, um efeito que há de ter uma causa.