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Participante: é mais ou menos o que está acontecendo com o governo. O povo não tem como entrar nas repartições públicas e falar agora eu vou mudar isso aqui. Um exemplo: eu trabalhava em um fórum, éramos nove funcionários para treze mil processos. Os velhinhos lá tudo morrendo sem aposentadoria, tudo xingando a gente, mas nós não tínhamos como dar conta de treze mil processos. E como é que a gente vai agir nesse caso, pois o Brasil é uma grande repartição pública: tudo depende do estado. Como é que a gente vai lutar contra isso, já que você está falando de atos?
Esse é outro ponto que precisamos conversar. Muito bem lembrado.
Há coisas que a sociedade como um todo não vai ter condições de mexer. São coisas que dependem de outro para que se possa realizar. Quando se depararem com uma situação dessa, lembrem-se de uma outra história que também já contei.
Um garoto andava numa praia cheia de estrela do mar que tinham vindo com a água. Se ficassem ali iriam morrer. Por isso, ele pegava uma e devolvia ao mar. Voltava, pegava outra e levava lá.
Aí, um homem disse para ele: “o que você está fazendo?”. “Eu estou salvando as estrelas do mar”. “Você já não descobriu que não vai conseguir salvar todas?”. “Já, mas para essa que acabei de levar para o mar eu salvei”.
Se você não pode acabar com o sofrimento de centenas de velhinhos, acabe com um, com dois, com o de tantos quanto puder. Aliás, é isso que estamos fazendo. Nossas conversas não vão para todos, mas esses que estão aqui ou aqueles que lerão o que estou falando, eu alcanço.
Só que os seres humanos ao invés de acabar com o sofrimento de um velhinho preferem reclamar do governo que ele não ajuda a acabar com o sofrimento de todos. É disso que estamos conversando hoje.
Portanto, assuma a rédea e diga a si mesmo: ‘eu sou um ponto minúsculo, por isso não posso resolver tudo. Mas, o que puder, vou resolver, vou fazer a minha parte’.
Você disse que eram nove pessoas. Imagine se cada um fizesse o melhor possível, quantos velhinhos poderiam ter sido ajudados. Só que eles não foram ajudados porque apesar de alguns se dedicarem a fazer a sua parte, outros se dedicaram a reclamar do governo e com isso não ajudaram ninguém.
É isso o que eu estou querendo mostrar. Não estou falando de atos, estou falando de dentro. Ao invés de você deixar entrar em si a crítica ao outro, diga a si mesmo: ‘vou gerar um estado de espírito de socorrer quem posso. Vou fazer a minha parte: vou ajudar essa estrelinha do mar’.
Participante: até porque, seguindo o que você fala, vai ter o velhinho cujo processo vai chegar nas mãos dela para ela resolver porque tinha de ser resolvido. Os que chegarem na mão dos que só reclamam e por isso não fazem nada não serão, mas isso é o carma deles. Não é isso?
Exatamente isso. Para falar sobre isso, deixe-me contar mais um caso antigo.
Uma pessoa dentro do seu emprego assumiu uma função de chefia e queria manter o seu departamento em funcionamento perfeito. Um dia ela me disse: ‘Joaquim, estou maluca. Eu não consigo dar conta de tudo que entra, de tanta coisa que tenho para fazer’. Eu lhe disse: vai uma hora mais cedo e sai uma hora mais tarde. Assim tem mais duas horas para trabalhar. Ela foi e fez.
Um mês depois voltou: ‘Joaquim, estou chegando uma hora mais cedo e saindo uma hora mais tarde, mas mesmo assim não consigo dar conta do que precisa ser feito para manter o departamento em ordem’. Aí, eu disse: descobriu que não era para dar conta?
Você não pode mudar o que acontece se isso é o carma de quem recebe.
Participante: mas será que também não é para dar conta da crise do Brasil? E aí como é que a gente faz para saber?
Se fosse para dar, alguém já teria dado conta. Se estivesse no carma do Brasil, se estivesse no carma do mundo resolver o problema de credibilidade dos governos, isso já teria sido resolvido. Se não foi resolvido, é porque ainda não está no carma resolver. E enquanto não estiver, você tem de encontrar uma forma de viver com o que está aí. Essa forma é assumir a sua responsabilidade, fazendo o que você tem de fazer sem parar para criticar os outros.
Estamos falando a mesma coisa que alguém que trabalha num hospital falou hoje. Os hospitais estão uma porcaria, mas isso é muito mais por causa de quem trabalha lá do que por causa do governo. A demora no atendimento ou o atendimento de péssima qualidade não existem porque o governo demora a atender ou atende mau. Ele existe porque quem tem que atender está tomando cafezinho ou está numa roda criticando o governo. Está reclamando da administração, da falta de condição para trabalhar e não faz o mínimo para bem atender as pessoas.
Participante: e quando tem o material para poder trabalhar, aí usa de forma errada. Depois falta.
Quando usa de forma errada pelo menos foi burrice. O problema é quando pegam e levam para casa porque estão precisando. Aí, depois reclamam que o governo não compra.
O que estamos conversando aqui não tem como finalidade instituir ações, para reformar ou acabar com alguma coisa. O que estamos fazendo é abordar de frente uma realidade que existe e que é um carma da raça humana pertencente ao final do mundo de provas e expiação e início do de regeneração: o movimento de falta de credibilidade dos governantes que vai levar a alteração do sistema humano de vida.
Por isso, as coisas não podem ser diferentes das que estão. Por isso não se pode mudar o que está acontecendo. Tudo isso faz parte de um processo de transição. Se as coisas não acontecerem desse jeito hoje, o novo sistema de vida não poderá começar.
Apesar disso, você que está encarnado nesse momento, vivendo esse período de transição, tem que encontrar uma forma de sofrer o menos possível por causa desse carma. É isso que estamos conversando, é isso que eu estou querendo dizer.
Não estou acusando ninguém, não estou chamando ninguém de incapaz ou de acomodado. Estou dizendo exatamente isso: essa situação existe, ela vai durar e aumentar. Se você está sofrendo hoje e não descobrir uma forma de passar por essas coisas sem perder a sua paz, vai sofrer mais. E a forma para passar por isso mantendo a paz é cada um no seu trabalho de formiguinha fazer o melhor possível pelo próximo e por si mesmo. É só isso.