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Participante: a mente propõe os pensamentos no futuro ou no passado, gerando ansiedade e medos. Uma arma que uso é voltar a todo momento a atenção para o agora, o momento presente. Sinto que somente assim conseguirei viver em equilíbrio, manter a sanidade, visto que não me é mais confortável pensar no futuro ou lembrar do passado. Nada faz sentido. E isso vai contra o ismo de se preparar para o futuro ou para o próximo momento. Como se libertar dessas contrariedades?

Você fala com relação a se preparar para o futuro. É essa a contrariedade ou é a contrariedade causada pelo que passou naquela hora? Vou tentar responder as duas questões.

Primeiro, como conviver com lembranças do passado ou posições do futuro? Sem perder a sua harmonia, sem perder a sua paz.

Primeira coisa a fazer: dizer que isso pertence a outro mundo, não ao seu mundo.

O que passou ou o que vai acontecer pertence ao mundo das possibilidades e não ao mundo que você vive. É possível que aconteça, é possível que tenha acontecido.

Sim, é preciso agir com as lembranças, precisa desacreditar do que acredita que aconteceu no passado. Sabia disso? Por quê? Porque hoje o que tem é uma lembrança do que aconteceu. E uma lembrança, como qualquer declaração racional da razão, é uma interpretação do que aconteceu.

Pode ter sido há cinco minutos, há cinquenta anos; não importa. O que tem sobre o que aconteceu é uma ideia, é o que acha que aconteceu. Você não sabe se aconteceu daquele jeito mesmo.

Muita coisa vem à sua cabeça sobre o que se passou ontem, anteontem, na sua infância. Se perguntar para alguém que soube, que estava perto, ele vai dizer assim: eu não vi bem isso não, acho que foi assim.

Tudo que sabe sobre o passado, tudo que sabe sobre o futuro é apenas uma ideia. Pertence ao mundo da possibilidade, não à realidade. Por isso precisa dizer a si: não importa, isso pode ter sido ou não, pode vir a ser ou não, eu não sei. O que sei é se me deixar levar por essas ideias, vou sofrer agora.

É isso que deve entender. Não adianta querer calar as lembranças do passado nem as especulações sobre o futuro, porque não as ter não depende de você, já que quem cria é a razão. Por isso não pode tentar trabalhar no sentido de acabar com isso. O que precisa trabalhar é no sentido de compreender que tem que conviver com essas coisas sem deixar que elas gerem no seu presente uma desarmonia, um desejo e uma paixão, uma obrigação.

Se der força a essas ideias ficará ao sabor da maré. Esse é o grande problema de desejar, saber ou achar qualquer coisa.

Vivendo assim se torna um passageiro em um barco ao sabor da maré. Por quê? Porque o que deseja, sabe, acha obrigatório, pode acontecer ou não acontecer. Se acontecer, vai dizer: viu, acertei. Se não acontecer, vai sofrer uma decepção: ai meu Deus, eu esperava tanto que fosse acontecer ou eu não queria que isso acontecesse.

Portanto, com relação ao passado e ao futuro, entenda isso: o que aconteceu no passado ou no futuro não é o que há razão cria agora. Essa criação é apenas uma ideia, uma possibilidade que ela está criando para que você vença o seu egoísmo.

Essa seria a primeira resposta: não adianta tentar ficar no agora. O que adianta é desqualificar o que vem do presente ou do futuro.

Vamos à segunda: isso vai contra o ismo de se preparar para o futuro ou para o próximo momento. Se preparar para o futuro ou se preparar para o próximo momento.

Esse é outro ensinamento que precisamos entender.

Qual a melhor preparação para o futuro? Qual a melhor preparação para o momento seguinte, que também é futuro, claro?  Não sei o que vai acontecer. Não tenho a mínima ideia do que vai acontecer.

Veja, qualquer posição, qualquer expectativa sobre o futuro, transforma você no que acabei de falar: um barquinho ao sabor da maré. Você está embarcado nesse barco e se sente seguro. Aí de repente vem uma onda gigante e acaba tudo.

Quantas vezes já não sofreu porque apostou em alguma previsão para o futuro que não aconteceu? Quantas vezes já não sofreu porque esperava fazer, achar, estar, ganhar e não conseguiu o que achava certo de acontecer?

É o que já falei: inteligência emocional. Aquele que é inteligente emocionalmente não compromete o seu mundo interno, as suas emoções, com esperanças sobre o futuro. Melhor, vou tirar a palavra esperança e dizer perspectivas de futuro.

Por que o inteligente emocional não compromete o seu mundo interno com essas coisas? Porque, sendo inteligente, sabe que pode quebrar a cara, pode se machucar, pode sofrer.

É isso que vocês não compreendem. Eu não tenho nada contra ter esperança, contra apostar no futuro. Nada contra agendar, marcar, programar, nada disso. A única coisa que digo é o seguinte: você está preparado para que o que programou não dê certo? Está pronto para passar por uma derrota dentro do que espera da vida? Se não estiver pronto, se não tiver preparado, pare de sonhar, pare de desejar, pare de querer e viva o que tem hoje da seguinte forma: se chegar o que quero, chegou, se não chegar, não estou nem aí.

Isso é se preparar para o futuro. É encarar o desejo de frente e dizer: não sei se você vai ser realizado, se não for, não venha encher meu saco, me fazer sofrer.

Ficou claro?

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