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Participante: para mim cuidar de filhos pequenos é algo pesado e ler um livro sozinho é algo leve. O pesado e o leve parecem surgir como que grudados a esses fatos da vida. O meu foco de trabalho deve ser nas âncoras que grudam esses ismos, nos atos que descrevi?
Não, o seu foco do trabalho tem que ser alcançar a harmonia.
O que é a harmonia em si? É estar nem a favor nem contra aquilo que está acontecendo. Harmonizar-se é se tornar um com aquilo que está acontecendo.
Por exemplo: me diz que sua razão tem um ismo que afirma que conviver com filhos é pesado. Isso é um ismo, é uma lei sua, uma norma gerada pela sua razão. Por que você tem essa opinião?
Um detalhe: estamos apenas começando nosso trabalho. Como é a primeira questão levantada, vamos fazer a análise de uma forma mais completa.
Por que tem essa opinião, essa visão, essa sensação, essa emoção – o nome que você quiser dar – a respeito de estar com crianças? Porque essa razão, esse ismo, reflete um gênero de formas que você pediu antes da encarnação. Se você não tivesse pedido, não receberia isso, não teria essa consciência. Primeiro detalhe.
Agora, com a relação ao gênero de prova que pediu antes da encarnação, porque essa e não outra, isso não interessa. O que interessa saber é que não é por um acaso que acha que lidar com crianças é pesado.
Você não tem essa verdade porque alguém lhe ensinou mal, por uma falta de estrutura, porque gosta ou não. Não é por todas essas coisas que a razão usa para explicar o inexplicável. O motivo é muito mais simples: você vive o que vive porque pediu, antes da encarnação, para viver aquilo que hoje recebe da mente, seja no ato, seja na forma como o entende.
Portanto, você sente pesado, sente peso ao estar com crianças, ao estar com seus filhos, porque pediu para vencer isso. Mas, como fazer para vencer? Convivendo com a criação mental sem saber se é bom ou mal, certo ou errado, o que está acontecendo.
Deixe tentar lhe explicar uma coisa. Na hora que está com seus filhos, consegue não estar com eles? Ou seja, na hora que está com seus filhos e sente o peso do momento consegue se livrar deles e ficar sozinho? Claro que não, você está com eles. Pode até em um momento depois manda-los embora, mas naquela hora está com eles.
Portanto, esse é o trabalho que você precisa fazer:
‘Estou aqui, estou com eles, o que posso fazer? Posso matar meus filhos, posso matar as crianças, posso me matar’.
Claro que pode. Faça então, garanto que vai ficar muito sozinho na cadeia.
Para se libertar da norma precisa entender que cada momento foi feito para receber da mente uma norma e para dizer: essa norma existe para que eu a supere. Esse é o trabalho que precisa ser feito em todos os casos onde os conceitos são negativos: aquilo que não gosta, que não quer, que não aceita.
Tudo que é negativo precisa ser trabalhado entendendo que apesar de viver aquela situação com negação, com negatividade, tem que viver. Por isso, tem uma escolha a fazer: você sofre ou fica em paz.
É isso. O trabalho é dizer: eu não gosto de estar com meus filhos, mas estou com eles, o que posso fazer? Vou ficar em paz, estando com eles. A hora que forem embora, tudo bem.
Apenas lembrando, como disse essa forma de viver vale para todas as situações chamadas de negativo.
Na sua pergunta há uma segunda situação: ler um livro sozinho é algo leve. Nesse caso, o trabalho é diferente. O trabalho é dizer a si: não é sempre que consigo pegar um livro para ler, não é sempre que consigo estar sozinho. Por isso vou aproveitar esse momento enquanto estou sozinho, em paz, sem deixar me sentir muito bem, sem me deixar levar pelo prazer, pela satisfação individual.
Porque é preciso estar atento para não se deixar levar pelo prazer? Porque o que você está vivendo agora pode acabar daqui a pouco. Entregando-se ao prazer, quando isso acontecer, vai sofrer.
A libertação do prazer, a libertação das regras que dizem que o que está acontecendo é bom, é certo, é bonito, passa por entender que não existe verdade absoluta, ou seja, não existe nada que valha para todos e que nada dura para sempre. Sendo assim, quando está em um momento de prazer precisa se lembrar que aquele prazer vai acabar.
Isso acaba com o prazer, alguns poderiam reclamar. Sim, acaba, mas esse é o objetivo do trabalho, da busca da felicidade: acabar com o prazer. Isso porque quem se entrega ao prazer vai sofrer mais na frente. Por quê? Porque quem se apega ao ismo de ter que ter para ser, tem que ser para ter, é obrigado, é necessário, acaba sofrendo.
Portanto, fica aqui um resumo de lidar com a vida, com a situação que tem um ismo que dá um valor negativo a alguma coisa e a forma de lidar com uma situação que tem um ismo que dá um valor positivo.
