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Mas, chega de teoria e vamos à prática. Vamos ver como, na prática, se alcança o não-sofrimento. Para isso vou contar um caso real onde um amigo relatou um acontecimento da sua vida em que colocou em prática o não-sofrimento. Vou contar o caso dele sem dar nomes, é claro, para ficar claro o que é não-sofrimento na prática.
Este amigo estava com um filho jovem internado em coma com uma doença que nem os médicos sabiam dizer qual era. No hospital, a filha dele perguntou: ‘Pai e agora?’ Ele respondeu: ‘Minha filha, dentro da medicina nós nada podemos fazer, já que nem os médicos conseguem entender o que está se passando. A única coisa que podemos fazer neste momento é sofrer a nossa dor com dignidade. Ao invés de nos desesperarmos, de entrarmos num processo de amargura e desespero, que pode inclusive prejudicá-lo no seu coma, precisamos guardar o sofrimento dentro de nós e transmitirmos a ele uma sensação de calma, tranquilidade, paz.’
Isso é o sofrer com dignidade. É não entrar na roda do sofrimento que leva a estados mentais e emocionais muito piores do que a própria causa (o sofrer).
Participante: E quando é preciso conviver diariamente com pessoas que nos trazem pensamentos que nos fazem sofrer?
É a mesma coisa. A cada dia, a cada momento que a mente criar um pensamento que leve a um sofrimento é preciso que o ser execute o trabalho do não-sofrimento.
No entanto, como já havia dito, este trabalho não muda o mundo externo, ou seja, não faz a pessoa deixar de provocar em você pensamentos que levam ao sofrimento. Ele apenas lhe leva a conviver com estes pensamentos de uma forma diferenciada naquele momento específico. A pessoa continuará da mesma forma e nos próximos momentos em que for provocado o surgimento desse tipo de pensamento é preciso fazer o trabalho novamente. O trabalho do não-sofrimento consiste em aprender a conviver com cada pensamento que leve ao sofrimento, a conviver com cada um deles.
Trabalhar para não viver o sofrimento causado por uma pessoa que você não tem como mudar e que não pode deixar de conviver, aliás, é uma prova de maturidade.
Desculpem-me a palavra, mas sem nenhuma acusação, é ‘burrice’ do ser humano que é obrigado a conviver com uma pessoa que lhe faz vivenciar pensamentos que levam ao sofrimento, insistir em viver estes sofrimentos a cada vez que isso acontece. Se você não pode escapar dessa pessoa, se tem que conviver diariamente com o sofrimento que ela lhe provoca, é preciso aprender a viver esta convivência do jeito que ela acontece sem deixar que isso lhe cause sofrimento, ou seja, aprender a receber este sofrimento diário sem deixar que ele lhe desarmonize. Se pudesse, se libertava da pessoa, mas se não há jeito de alcançar isso, o mínimo que precisa fazer para o seu bem estar é aprender a conviver com ela, sem vivenciar o sofrimento que ela lhe causa.
Isso é o estado de não-sofrimento: aprender a conviver com as pessoas do jeito que elas são sem viver o sofrimento que as atitudes delas causam ou sem sonhar que um dia elas deixarão de agir daquela forma.